JUSTO O CONTRÁRIO! OU O DESERTO DA NOSSA EDUCAÇÃO –
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Prof Eduardo Simões
http://www.cityofhancock.com/
É tudo uma questão de prioridade. A presidente da Finlândia, Tarja Halonen, visitando uma escola finlandesa elementar nos Estados Unidos, recebe um buquê de flores de uma aluna. Todos focam o principal objetivo da educação.
Quando
um grupo chegou ao poder no nosso estado, uma de suas medidas mais impactantes
e pertinazes foi fechar escolas e salas de aula que, na versão deles, não
apresentavam uma relação custo-benefício adequada, ou mesmo para enxugar as
contas do governo, o que tem sido uma verdadeira compulsão, até os dias de
hoje. Como consequência disso, muitas crianças perderam escolas na periferia,
de qualidade duvidosa, tendo que se deslocar para grandes unidades escolares do
centro, ao mesmo tempo em que o governo, em nome do custo-benefício, expandia o
limite mínimo de alunos por sala de aula, chegando a 45!
O
resultado dessa política logo se fez sentir no plano pedagógico. Deslocar-se
numa cidade implica em custos, e esse custo incide muito alto sobre quem ganha
menos, em geral os pais de alunos de escola pública. Na metade da primeira
década desse milênio nós, professores de uma escola paulista, fomos colocados
diante de um dilema: os alunos mais fracos, em uma ou outra matéria, deveriam
passar por aulas de reforço em horário diferente das aulas, portanto quem
estudasse de manhã deveria voltar à tarde, para o reforço, e vice versa, só que
quase nenhum deles estava vinha, pois teriam que pegar até dois ônibus para vir
à escola, e isso lhes era economicamente impossível. Conclusão: ou nós
passávamos graciosamente esses alunos ou bloquearíamos a sua vida...
Quanto
ao problema da superlotação das salas de aula o raciocínio é tão simples quanto
grotesco: como a rotina de faltas dos alunos mais pobres é grande, pelos mais
variados e justos motivos, admite-se preencher a sala até um número maior que o
estabelecido em lei, e se torce para que esses alunos, de fato, mantenham a sua
rotina de faltas. Com prejuízo para quem? O caso mais extravagante que eu
vivenciei foi o de uma escola, em Lorena, que chegou a admitir 81 alunos, numa
turma de EJA!, embora eu nunca a tenha visto superlotada.
Esse
problema, entretanto, se agrava quando, nas turmas menores, os alunos são mais
fieis ou a família cuida mais, e a grande maioria comparece. Tive uma 7ª série com
44 alunos, dos quais pelo menos 40 compareciam regularmente. Os alunos nem
podiam estivar as pernas em sala de aula. Fui reclamar à vice-diretora: “a 7ª
tal está superlotada!” “Não está!” foi a resposta. Cheguei à conclusão que na
educação, assim como na política, não importa o que existe, mas aquilo que se
diz sobre o que existe, sem falar do binômio “custo-benefício”. Aliás as autoridades
educacionais brasileiras ficam tanto mais hábeis no uso de conceitos da
administração, da estatística e da economia, quanto mais distante ficam daquilo
que mais interessa à educação.
Quanto
à questão da diferença qualidade, algo grave num país que, por história,
tradição e costume, acumula vergonhosas desigualdades, o governo resolveu
seguir o caminho mais curto: via engessamento de conteúdos, de avaliação e investimento
em recursos físicos, como manda o behaviorismo americano. Surgiram uma profusão
de surgiram apostilas, orientações, objetivos, competências, habilidades e
conteúdos descritos tão minuciosamente quanto inoperacionais, uma enfiada de
apostilas, muito defasadas da realidade das escolas, além de uma tal quantidade
de livros, televisões, computadores, etc., ferramentas pedagógicas, enfim, que
nos faz duvidar da famosa “crise” de que todos falam.
Bem
diferente é na Finlândia, onde os alunos têm garantida escola perto de sua
casa, mesmo que seja em meio a um deserto de gelo. Com uma vantagem: a
qualidade das escolas, segundo vários sites que visitei, é praticamente igual,
sendo o país onde a diferença entre as melhores escolas e as piores é a menor,
no mundo desenvolvido. Como eles conseguiram isso?
Primeiro,
as salas de aula finlandesas têm em torno de 20 alunos, um pouco mais um pouco
menos, que permite uma atenção real, concreta, a cada criança, chegando a ponto
de, em caso de escolas com muitos alunos com dificuldade, se chegar a uma
proporção de um professor para sete alunos. Esses finlandeses são tolos não? Por
que não vêm aprender com os nossos burocratas o segredo da relação custo-benefício?
Segundo,
a família e a criança recebem amplo suporte do estado, que em alguns casos financia
até taxi, para garantir o deslocamento da criança à escola. Lá não tem ônibus
sem freio ou sem assoalho levando alunos para a escola.
Terceiro,
a família é realmente cobrada, e a obrigatoriedade de frequentar a escola é
para valer. O Estado também ajuda as famílias que tenham dificuldades financeiras,
não para o governo ganhar votos, mas para dar o retorno na educação.
Quarto,
a principal estratégia para garantir a uniformidade da qualidade foi, a partir
de objetivos educacionais amplos, poucos, claros, reconhecidos e perfeitamente
factíveis, implementar ao máximo a formação e a valorização social do
professor, pois 100% deles possui, pelo menos, o mestrado.
Enfim, o que uniformizou a qualidade do sistema escolar
finlandês foi o investimento pesado feito na qualificação e valorização social
do professor, pois é ele, e não os computadores, os tablets, as televisões, os projetores,
livros, pinturas, paredes, quadras de esporte, elevadores, etc., quem realmente
educa e faz crescer as crianças e o país, numa relação custo-benefício que
Ebenezer Scrooge, tio Patinhas e as nossas autoridades educacionais nem
imaginam.
Aspecto
de uma sala de aula finlandesa. Sem esses recursos, mas com essa mesma
proposta: turmas pequenas, trabalho em grupo, acompanhamento minucioso, etc.,
funcionou em Guaratinguetá, durante uns dez anos, uma escola chamada Escola do
Futuro, de propriedade de minha esposa, que, infelizmente, não vingou. A
pequena classe média, em geral, a achava cara; a classe alta, em geral, a
achava pouco seleta; os funcionários da Delegacia de Ensino, em geral, a
achavam estranha, e muito diferente do padrão; mas aqueles que tiveram seu
filho nela não se arrependeram. É tudo uma questão de prioridade.
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