JUSTO O CONTRÁRIO! OU O DESERTO DA NOSSA EDUCAÇÃO –
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Prof Eduardo Simões
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Curioso
costume finlandês e sueco. As pessoas que colam grau de Doutor, nas
universidades, recebem, além do diploma, uma cartola e uma espada de verdade,
com as quais desfilam pelas ruas das cidades, em determinadas ocasiões, quando
são muito reverenciados. Esse costume, inclusive é mais velho que o Brasil
português. Lá eles não são chamados de “doutorzinho..."
Dava
gosto ver a professora de português, Elvira, discorrer sobre suas aulas no
mestrado da USP! O quão apaixonante eram os temas, o frisson de encontrar pelos
corredores grandes nomes da literatura nacional, a até estrangeira, o ambiente
de seriedade e a profundidade dos estudos etc.
Como amigo curti a euforia dela, e por um momento
até me senti mordido pela inveja, mas não pude evitar chama-la ao lado e dá-lhe
um alerta. Disse-lhe que aproveitasse ao máximo o tempo de mestrado, mas que não
esquecesse que um dia, inclusive por força de contrato, teria que voltar à sala
de aula, para lidar com alunos desmotivados e semianalfabetos, que são a
principal responsabilidade dela, e de todos nós professores. Depois que eu
falei ela ficou me olhando, como se tivesse levado uma cacetada na cabeça, pode
até estar me odiando, por eu ter cortado o seu barato, mas não disse nada, pois
sabia que eu estava com a razão. Ela posteriormente voltou, justo quando a
escola começou a ganhar fama de muito problemática. O mestrado não foi
suficiente para lhe salvar do caos, embora tenha elevado o seu salário.
Eu acho que nós até pudemos até contrariar uma
autoridade que gostaria de apresentar-nos como insignes “mestres” e “doutores”
em sala de aula, como se isso, por si só, melhorasse a qualidade da educação,
mas não podemos nunca falhar com nossos alunos, mesmo pertencendo a uma sociedade
que não dá a mínima para eles, para as suas crianças; e quem já ministrou aulas
sabe o quão poderoso pode ser um sentimento de frustração quando um professor
prepara uma “super aula”, que ele tem certeza que os alunos vão curtir, pois
ele não falará senão do óbvio e o assunto muito interessante, e na hora de por
aquilo em prática, os alunos agirem como se você estivesse falando grego.
É nesse contexto de frustração recíproca, que ocorrem
os piores conflitos entre professor e aluno. O impulso que nos obceca, a nós professores,
é desancá-los ali mesmo, danem-se os bons modos, e só a muito custo conseguimos
nos livrar disso, relatando o episódio a nossos colegas durante o recreio ou
após as aulas, os que conseguem segurar até lá... um conhecido, professor de
matemática, colega da profa Elvira (acima), com mestrado, doutorado, e viagens
à Europa, Ásia, além de ser também professor universitário – mais perfeito para
o sistema impossível – não conseguiu lidar com isso, e avançou nas críticas ao
desinteresse e ignorância de seus alunos, um deles reagiu, arremessando-lhe um ovo;
a direção, como é muito comum, lavou as mãos, e ao chegar em casa ele teve um
AVC.
Eu jamais poderia esperar que meus alunos de Ensino
Médio não tivessem a menor ideia de quem eram Chico Buarque de Holanda,
Gilberto Gil – uns já tinham “ouvido falar” em Caetano Veloso. Certa vez,
falando do compositor alemão Ludwig Beethoven, uma aluna acrescentou: “então
ele é um compositor, eu pensei que fosse um cachorro!” Ou que um aluno iria me
perguntar o que é “agricultura”? A turma que aceitou a hipótese da descoberta do
Brasil, pelos portugueses, ter acontecido em 1984! etc. etc. etc. Todos esses
casos, sem exceção, aconteceram em turmas do Ensino Médio!
Pode-se até argumentar que a obrigatoriedade do
mestrado existe na Finlândia ou em outros países desenvolvidos, mas não se deve
ignorar que esses cursos, lá, aprofundam ou criticam projetos educacionais antigos,
estáveis, claros, que de alguma forma funcionam e trazem progresso e qualidade
de vida para a sociedade, etc., ao contrário do que ocorre aqui, onde uma Lei
de Diretrizes e Bases frouxa, alheada da sociedade, escorada por PCNs que não
passam de uma enfiada de boas intenções, vazadas em um texto genérico,
repetitivo, enfadonho, por vezes ambíguo. Até parece programa de partido político
local. É a ausência de direção, ou de parâmetros objetivos, que nos arrasta a
esse caos educacional, que todos sabem que existem, mas que a maioria nega,
pelos mais difusos e escusos interesses. Não há como dar certo!
A resposta mais comum a esse momento de
perplexidade educacional que vivemos tem sido a de aprofundar, de radicalizar
ainda mais, a proposta inicial, falida; até parece Danton clamando: “ousar,
ousar, ousar”, até lhe cortarem a cabeça e transformarem a revolução salvadora
num banho de sangue e corrupção. Estamos muito longe disso na educação?
No sertão do meu estado havia um gracejo que fazia
sucesso no passado. “As coisas mais difíceis de ver no sertão são: agrônomo e
comunista”, justo o que era mais necessário do ponto de vista econômico e político,
da mesma forma que hoje, nas escolas, a coisa mais difícil de ver é um
professor, ou mesmo aluno, universitário, fazendo pesquisa ou convivendo
conosco, para saber o que acontece nas escolas, para depois poder sacar as suas
fórmulas salvadoras, com um mínimo de credibilidade e efeito na realidade. Nessas
condições no que poderá ser útil mestrado ou doutorado, exceto para aumento de
salário, como se a nossa profissão fosse mostrar ao chefe que nós somos meninos
e meninas obedientes?
Um mestrado é um complemento importante e
indispensável, num sistema ou numa
sociedade que tornaram a educação o seu principal veículo de desenvolvimento, e
que a entendem como uma preparação das novas gerações para os desafios presentes,
e inesperados, que as aguardam, na realidade em que elas vivem. Educar é
transformar a realidade pela ação, acompanhada, é óbvio, pela reflexão, mas
nunca substituída por esta. Nesse momento valerá a pena fazer um mestrado, sem falar que o melhor, eu acredito que até o único, mestrado para profissionais de educação seja sobre psicologia do desenvolvimento, e afins, como sociologia das comunidades infanto-juvenis, dinâmica de grupo, por exemplo. Restringir o professor a fazer mestrado apenas em sua área técnica, para a qual ele fez concurso, é de uma inutilidade brutal, sem falar que, o professor, antes e mais do que ser um especialista em sua matéria, deve ser um especialista em crianças, jovens e adolescentes.
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“As
pérolas do ENEM” Essa é a nossa realidade mais profunda e urgente. Ninguém pode
escusar-se por surpreendido, pois há 40 anos já saía, nos jornais, as famosas “pérolas
do vestibular”, antigo nome do ENEM. Elas são tão numerosas e extravagantes
que se tornaram roteiro de humoristas afamados, como Jô Soares, além de
alimentar páginas e mais páginas na Internet, como: http://desciclopedia.org/wiki/P%C3%A9rolas_do_ENEM
http://www.perolasdoenem.com.br/
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