JUSTO O CONTRÁRIO! OU O DESERTO DA
NOSSA EDUCAÇÃO - 6
Prof Eduardo Simões
http://i.imgur.com/nJRxy.png
http://www.huffingtonpost.com/
Sala
de professores numa escola finlandesa. Quase nada diferente das nossas, muito
simples, quase pobrezinha, ainda cheia de papéis, no entanto há uma diferença! A
edição online do jornal inglês The Guardian, diz: “A escola finlandesa é
exitosa porque o magistério é valorizado” (http://www.theguardian.com/education/2009/nov/09/finland-values-teaching).
Para
mim, Lauro de Oliveira Lima foi o maior pensador educacional que já pisou as
terras desse país, e quiçá deste planeta. Ele conseguia unir uma vastíssima
erudição e memória, com uma visão ampla e futurista da sociedade e da educação,
além de uma visão prática, que, sempre fez, e ainda faz, falta ao nosso debate educacional.
Mas ele cometeu erros – quem não os comete? – e em educação o seu pior erro
foi...
Certa
vez estávamos conversando nas areias da saudosa praia do Futuro, em Fortaleza,
quando ele me disse: “meu objetivo é criar um método a prova de professores!”
ao falar assim ele estava certamente se reportando às suas lembranças pessoais,
pois só Deus sabe o quanto sofre uma criança inteligente e irrequieta, nas mãos
de um professor neurótico, com poder, inclusive, para espancar seus alunos,
como acontecia no seu tempo de estudante, e nesse sentido ele se afastava de seu
mentor incondicional, Piaget, que sempre defendeu, em seus escritos
pedagógicos, a valorização do professor, mas é necessário reconhecer, que o esse
pensamento do professor Lauro, expresso em em livros e conferências, ajudou a
criar uma mentalidade de desprezo pelo professor.
Os
militares da Oligarquia Militar de 64-85 não gostavam de Lauro. Aposentaram-no
precocemente com uma ninharia – houve um tempo, no Brasil, que aposentadoria
era castigo, pasmem!, já hoje... – além de o perseguirem de diversas formas, e
em troca Lauro sempre alinhou com a oposição e dirigiu uma piada ao ministro-coronel
Jarbas Passarinho, que ficou antológica. Mas os militares também seguiram na
linha de esvaziamento do prestígio do professorado, de acordo com o padrão
americano – o sistema educacional americano, nos anos setenta, começou a perder
alunos (fim do boom dos bebês pós Segunda Guerra, contração das famílias,
redução de alunos) e os professores a perder salário (lei da oferta e da
procura) – embora aqui no Brasil nós estivéssemos justo no ciclo oposto:
crescimento exponencial da procura pela escola. A solução foi simples: seguir o
modelo americano de trabalho voluntário, pela instituição dos “professores
leigos”. Apedeutas, analfabetos,
transformados em professores, por uma fração de um salário de fome – ficou famosa,
nos anos oitenta, a história de uma professora alagoana que fazia ‘bico’, à
noite, num cabaré em Palmeira dos Índios.
Após
a queda dos militares continuou-se com essa prática, principalmente quando se
descobriu que ela é ótima para reduzir os custos do estado, dado o grande
número de profissionais da área, além de outras finalidades menos nobres e mais
alegres, que os políticos e burocratas podem dar para esse dinheiro – nesse momento
sabe-se que a PF desbaratou uma quadrilha que já desviara 60 milhões da
educação. Recomendo um castigo exemplar para esses crápulas: tornarem-se
professores no Brasil.
No
estado de São Paulo, por exemplo, criou-se uma de Nova Proposta Curricular que,
com apostila de orientação e até uma de exercícios!, dirige minuciosamente, ou
não, o trabalho do professor – a minha diretora e supervisoras dizem que sim,
nós temos que seguir as apostilas, já os orientadores da Diretoria de ensino
dizem que não, que aquilo é só uma orientação... mas isso também faz parte –
sem falar da quantidade enorme de relatórios, avaliações, responsabilidades que
eles experimentarão, com a nova forma de controle absolutamente asfixiante: a
Secretaria Eletrônica Digital, onde o professor não terá outra coisa para fazer
além de escrever e enviar relatórios minuciosos do que está fazendo e de como
seus alunos estão reagindo. Outra coisa também que está sendo muito valorizada
pelos “experts” em educação no Brasil, e a escola de tempo integral, essa panaceia
sem juízo, já aponta nessa direção, é a possibilidade de tornar o professor de
escola pública num bem descartável. Não agradou o cliente ou o patrão, tema-se
mais a este, então está demitido! Como acontece nos Estados Unidos, e no quartel
de Abrantes. Só falta a tornozeleira eletrônica...
Bem
diferente é na Finlândia! Lá, como vimos noutro texto, os professores recebem a
melhor e mais constante formação que os recursos do Estrado permitem, e em
troca merecem a mais irrestrita confiança das autoridades. Recebem apenas um
conjunto de metas psico-educacionais em relação às suas crianças, e é-lhes dada
a mais irrestrita liberdade para alcançar aqueles objetivos, sem precisar ficar
mandando relatórios, provas, e outras satisfações, para que eles mão comecem a
desconfiar o quanto são indignos de confiança de seus superiores hierárquicos e
incapazes.
Também
ficamos sabendo, por meio de uma autoridade educacional finlandesa que esteve
no Brasil, que lá eles não seguem nem discutem métodos especiais revolucionários,
cuja discussão, muitas vezes, atrasou reformas em nosso país! Lá eles simplesmente
observam o que dá certo e o que não dá, a partir de grandes objetivos nacionais
(não politiqueiros) estáveis, e se dá certo, permanece, se não dá, descarta. Há uma sabedoria nisso, pois dessa forma não
se cria uma atmosfera de animosidade entre os professores, a partir de opiniões
e abstrações que não levam a nada, e permite uma convivência entre correntes contrárias,
que precisam constantemente demonstrar, na prática, o acerto de seus aforismos,
e se aperfeiçoar.
Além
disso, com já vimos, o professor é o centro absoluto do processo educacional,
dos investimentos públicos para a área e daquilo que chamamos escola, pois só
num sociedade onde a escola é tratada como um “depósito de crianças” faz
sentido a expressão “quem faz a escola é o aluno”, porque se essas crianças
estão na escola por outro motivo, digamos aprender, então o professor é a
ferramenta mestre, o insumo indispensável, o centro absoluto da ação
educacional, e isso precisa ficar bem claro.
Os
finlandeses apostaram nisso, e estão colhendo como frutos: o progresso, a
civilização, a qualidade de vida, a admiração mundial. Nós seguimos a via
oposta, destruindo, na autoestima do professor um grande e promissor sistema
escolar, e transformamos o caos educacional na nova ordem nacional.
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todo professor brasileiro percebe: respeito!
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