terça-feira, 14 de julho de 2015

JUSTO O CONTRÁRIO! OU O DESERTO DA NOSSA EDUCAÇÃO - 6

Prof Eduardo Simões

http://i.imgur.com/nJRxy.png
http://www.huffingtonpost.com/


            Sala de professores numa escola finlandesa. Quase nada diferente das nossas, muito simples, quase pobrezinha, ainda cheia de papéis, no entanto há uma diferença! A edição online do jornal inglês The Guardian, diz: “A escola finlandesa é exitosa porque o magistério é valorizado” (http://www.theguardian.com/education/2009/nov/09/finland-values-teaching).
  
            Para mim, Lauro de Oliveira Lima foi o maior pensador educacional que já pisou as terras desse país, e quiçá deste planeta. Ele conseguia unir uma vastíssima erudição e memória, com uma visão ampla e futurista da sociedade e da educação, além de uma visão prática, que, sempre fez, e ainda faz, falta ao nosso debate educacional. Mas ele cometeu erros – quem não os comete? – e em educação o seu pior erro foi...
            Certa vez estávamos conversando nas areias da saudosa praia do Futuro, em Fortaleza, quando ele me disse: “meu objetivo é criar um método a prova de professores!” ao falar assim ele estava certamente se reportando às suas lembranças pessoais, pois só Deus sabe o quanto sofre uma criança inteligente e irrequieta, nas mãos de um professor neurótico, com poder, inclusive, para espancar seus alunos, como acontecia no seu tempo de estudante, e nesse sentido ele se afastava de seu mentor incondicional, Piaget, que sempre defendeu, em seus escritos pedagógicos, a valorização do professor, mas é necessário reconhecer, que o esse pensamento do professor Lauro, expresso em em livros e conferências, ajudou a criar uma mentalidade de desprezo pelo professor.
            Os militares da Oligarquia Militar de 64-85 não gostavam de Lauro. Aposentaram-no precocemente com uma ninharia – houve um tempo, no Brasil, que aposentadoria era castigo, pasmem!, já hoje... – além de o perseguirem de diversas formas, e em troca Lauro sempre alinhou com a oposição e dirigiu uma piada ao ministro-coronel Jarbas Passarinho, que ficou antológica. Mas os militares também seguiram na linha de esvaziamento do prestígio do professorado, de acordo com o padrão americano – o sistema educacional americano, nos anos setenta, começou a perder alunos (fim do boom dos bebês pós Segunda Guerra, contração das famílias, redução de alunos) e os professores a perder salário (lei da oferta e da procura) – embora aqui no Brasil nós estivéssemos justo no ciclo oposto: crescimento exponencial da procura pela escola. A solução foi simples: seguir o modelo americano de trabalho voluntário, pela instituição dos “professores leigos”.  Apedeutas, analfabetos, transformados em professores, por uma fração de um salário de fome – ficou famosa, nos anos oitenta, a história de uma professora alagoana que fazia ‘bico’, à noite, num cabaré em Palmeira dos Índios.
            Após a queda dos militares continuou-se com essa prática, principalmente quando se descobriu que ela é ótima para reduzir os custos do estado, dado o grande número de profissionais da área, além de outras finalidades menos nobres e mais alegres, que os políticos e burocratas podem dar para esse dinheiro – nesse momento sabe-se que a PF desbaratou uma quadrilha que já desviara 60 milhões da educação. Recomendo um castigo exemplar para esses crápulas: tornarem-se professores no Brasil.
            No estado de São Paulo, por exemplo, criou-se uma de Nova Proposta Curricular que, com apostila de orientação e até uma de exercícios!, dirige minuciosamente, ou não, o trabalho do professor – a minha diretora e supervisoras dizem que sim, nós temos que seguir as apostilas, já os orientadores da Diretoria de ensino dizem que não, que aquilo é só uma orientação... mas isso também faz parte – sem falar da quantidade enorme de relatórios, avaliações, responsabilidades que eles experimentarão, com a nova forma de controle absolutamente asfixiante: a Secretaria Eletrônica Digital, onde o professor não terá outra coisa para fazer além de escrever e enviar relatórios minuciosos do que está fazendo e de como seus alunos estão reagindo. Outra coisa também que está sendo muito valorizada pelos “experts” em educação no Brasil, e a escola de tempo integral, essa panaceia sem juízo, já aponta nessa direção, é a possibilidade de tornar o professor de escola pública num bem descartável. Não agradou o cliente ou o patrão, tema-se mais a este, então está demitido! Como acontece nos Estados Unidos, e no quartel de Abrantes. Só falta a tornozeleira eletrônica...
            Bem diferente é na Finlândia! Lá, como vimos noutro texto, os professores recebem a melhor e mais constante formação que os recursos do Estrado permitem, e em troca merecem a mais irrestrita confiança das autoridades. Recebem apenas um conjunto de metas psico-educacionais em relação às suas crianças, e é-lhes dada a mais irrestrita liberdade para alcançar aqueles objetivos, sem precisar ficar mandando relatórios, provas, e outras satisfações, para que eles mão comecem a desconfiar o quanto são indignos de confiança de seus superiores hierárquicos e incapazes.
            Também ficamos sabendo, por meio de uma autoridade educacional finlandesa que esteve no Brasil, que lá eles não seguem nem discutem métodos especiais revolucionários, cuja discussão, muitas vezes, atrasou reformas em nosso país! Lá eles simplesmente observam o que dá certo e o que não dá, a partir de grandes objetivos nacionais (não politiqueiros) estáveis, e se dá certo, permanece, se não dá, descarta.  Há uma sabedoria nisso, pois dessa forma não se cria uma atmosfera de animosidade entre os professores, a partir de opiniões e abstrações que não levam a nada, e permite uma convivência entre correntes contrárias, que precisam constantemente demonstrar, na prática, o acerto de seus aforismos, e se aperfeiçoar.
            Além disso, com já vimos, o professor é o centro absoluto do processo educacional, dos investimentos públicos para a área e daquilo que chamamos escola, pois só num sociedade onde a escola é tratada como um “depósito de crianças” faz sentido a expressão “quem faz a escola é o aluno”, porque se essas crianças estão na escola por outro motivo, digamos aprender, então o professor é a ferramenta mestre, o insumo indispensável, o centro absoluto da ação educacional, e isso precisa ficar bem claro.
            Os finlandeses apostaram nisso, e estão colhendo como frutos: o progresso, a civilização, a qualidade de vida, a admiração mundial. Nós seguimos a via oposta, destruindo, na autoestima do professor um grande e promissor sistema escolar, e transformamos o caos educacional na nova ordem nacional.

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http://www.eepresidentemedici.com.br/

            É uma diferença que não aparece, mas que 
todo professor brasileiro percebe: respeito!

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