quinta-feira, 9 de julho de 2015

JUSTO O CONTRÁRIO! OU O DESERTO DA NOSSA EDUCAÇÃO – 2

Prof Eduardo Simões (eduardospqr@gmail.com)

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         O maior sonho dos loucos, na educação brasileira, é, um dia, tomar conta do asilo. A última grande tentativa foi feita, em março de 2013, pelo senador Álvaro Dias, que tentou inserir uma emenda ao Plano Nacional de Educação, que reduzia de oito, para seis anos, a idade mínima de alfabetização! Alguém estranha? A rejeição da proposta, pelos que ainda tinham alguma sanidade, gerou reações amargas, inclusive do mais “federal” dos senadores, o Sr. Cristovam Buarque, afinal os seis anos é a idade, que, segundo eles, está acontecendo a alfabetização na escola privada brasileira, embora ninguém comente a qualidade dessa alfabetização. E como ficam as crianças, se é que pedagogia e psicologia do desenvolvimento são coisas para serem levadas a sério?
         Na verdade, essa proposta que não esconde um claro viés econômico, o custo de manutenção de uma pré-escola é maior que o de uma escola, que o diga o grupo que superlotou as salas de aula de São Paulo, mas também está presente uma mania, importada dos Estados Unidos, em acelerar o desenvolvimento das crianças, entre os quais o “papa” Glenn Dollman, que prega a possibilidade de qualquer aprendizagem, em qualquer tempo da vida. Mais tábula rasa, e menos humano, impossível – uma criança, para ele, não passa de um saco, um surrão, onde o adulto soca a farinha do conhecimento do mundo, além de suas neuroses e perversões sociais, na quantidade que quiser...
         Os pais adoram! Todos querem ser genitores de um superdotado, para compensar o sentimento de culpa de não ser um pai ou mãe perfeito, com se isso existisse, ou pelo abandono a que relegam os filhos, quando saem de casa para ganhar dinheiro, como se fosse a única coisa que realmente importasse, sem falar dos eternos “enrolados”, pela propaganda enganosa de “especialistas” e empresários, dando plantão em cada esquina. Mas se perguntar, apenas, não ofende, se as maravilhas propaladas pela propaganda da escolas particulares funcionassem de fato, a educação brasileira não deveria estar bem melhor do que está?
Para mim, pela minha experiência pessoal, mais de trinta anos na educação, duas coisas são certas: em todo superdotado há uma criança massacrada, e o destino do superdotado (que só entende de um conteúdo especializado) é ser empregado de um inteligente (que sabe tudo de relação humana), mesmo que este nem seja culto. As quatro vitórias daquele político semianalfabeto sobre seus doutos adversários, já deveria ter deixado alguma lição.
Curioso é que essa discussão aconteceu no Brasil, justo quando, na Inglaterra, uma frente de 130 autoridades e professores, do mais alto nível, lançava, em setembro, um manifesto chamado “Tanto, tão cedo!”, onde criticava a política educacional inglesa, que estipulava o ingresso das crianças no regime escolar – não se trata em alfabetização ainda, mas de pré-escola – aos cinco anos de idade, pregando a necessidade de a Inglaterra, nesse ponto, seguir o modelo escandinavo, em especial o finlandês, onde as crianças só podem ingressar na escola aos sete anos! Num determinado trecho, Wendy Ellyatt, fundadora do movimento, diz: “A despeito de 90 por cento dos países do mundo priorizarem a aprendizagem social e emocional [o Brasil não está entre eles], e começar a educação formal entre seis e sete anos, na Inglaterra nós estamos fortemente determinados a continuar agarrados à crença de que, começando mais cedo, nós obteremos melhores resultados mais tarde [especialistas, na texto, contestam isso] (http://www.dailymail.co.uk/news/article-2418281/Children-start-school-age-seven-say-education-experts.html).
De fato, a política educacional finlandesa, segue, nesse item, a sabedoria comum e o mais completo estudo já feito, no mundo, sobre o desenvolvimento intelectual da criança, por Jean Piaget e seus colaboradores. Uma das grandes descobertas de Piaget, demonstrada em experimentos controlados e observações geniais é a de que a aprendizagem depende, em última instância, de um mecanismo interno da inteligência, que ele chamou de equilibração, que amadurece com os anos de vida da criança, até alcançar a sua estabilidade final, o seu fechamento, lá por volta dos 15 a 16 anos de vida.
Desses estudos científicos, lotados de dados, infelizmente pouco conhecidos e valorizados no Brasil, se chega a conclusão que não adianta acelerar, pois a aprendizagem vai ocorrer a partir de um movimento no interior da criança, que a gente só pode provocar, jamais determinar, sem falar que depende de uma velocidade de maturação geral, que varia de criança para criança, de acordo com uma série de elementos pessoais e sociais. Outra constatação, também de Piaget, de capital importância, é que só aos sete/oito anos a criança atinge, naturalmente, se as condições sociais não forem muito adversas, o que ele chama de inteligência operatória concreta, a base lógica mínima para ela enfrentar com sucesso o regime escolar.
Não é verdade que os antigos, na sua sabedoria, determinavam que as crianças deveriam ir à escola só aos sete anos, e que nós, na ignorância da história e o repúdio à sabedoria, em favor da loucura, fizemos retroceder, com o fito de livrar os pais com excesso de ambição da responsabilidade de participar da educação de seus filhos ou que, submetidos a salários de fome, se veem obrigados a viver para trabalhar, como faziam os seus ancestrais escravos? Massacrar as crianças, para postergar a resolução de nossos problemas sociais estruturais é a solução?
        

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Nessa parte deveria haver a imagem da graciosa B., uma garotinha sergipana, apresentada em um vídeo, de maio de 2012, como um “gênio da matemática”, com apenas um ano, 10 meses e 25 dias de vida! Caso estupendo, não fosse outro vídeo dela, de novembro de 2014, já crescidinha, mandando um recado para alguém, falando e gesticulando, como um adulto frequentador da mais “pesada barra pesada”: “Olha aqui menina, só não te dou ‘uns tapa’ na tua cara, porque eu não sou açougueiro para amaciar carne de vaca, e outra, não posso ser o gênio da matemática, mas eu sei que a minha vida não é da sua conta... arregace!” A adulta idiota, que postou o vídeo, escreveu embaixo: “KKKKKKKK”, como se isso fosse apenas engraçado, e, no dia 8 do corrente, 2142 pessoas aprovavam a postagem, contra apenas 223, que desaprovavam. Quase nove a um a favor do massacre de crianças, por isso a tarja preta. Mas fiquemos tranquilos, pois as nossas autoridades educacionais e judiciárias velam contra os traumas que, por ventura, avaliações honestas de professores honestos possam causar às nossas crianças...

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