JUSTO O CONTRÁRIO! OU O DESERTO DA NOSSA EDUCAÇÃO –
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Prof Eduardo Simões (eduardospqr@gmail.com)
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O
maior sonho dos loucos, na educação brasileira, é, um dia, tomar conta do
asilo. A última grande tentativa foi feita, em março de 2013, pelo senador
Álvaro Dias, que tentou inserir uma emenda ao Plano Nacional de Educação, que
reduzia de oito, para seis anos, a idade mínima de alfabetização! Alguém
estranha? A rejeição da proposta, pelos que ainda tinham alguma sanidade, gerou
reações amargas, inclusive do mais “federal” dos senadores, o Sr. Cristovam
Buarque, afinal os seis anos é a idade, que, segundo eles, está acontecendo a
alfabetização na escola privada brasileira, embora ninguém comente a qualidade
dessa alfabetização. E como ficam as crianças, se é que pedagogia e psicologia
do desenvolvimento são coisas para serem levadas a sério?
Na
verdade, essa proposta que não esconde um claro viés econômico, o custo de
manutenção de uma pré-escola é maior que o de uma escola, que o diga o grupo
que superlotou as salas de aula de São Paulo, mas também está presente uma
mania, importada dos Estados Unidos, em acelerar o desenvolvimento das
crianças, entre os quais o “papa” Glenn Dollman, que prega a possibilidade de
qualquer aprendizagem, em qualquer tempo da vida. Mais tábula rasa, e menos
humano, impossível – uma criança, para ele, não passa de um saco, um surrão,
onde o adulto soca a farinha do conhecimento do mundo, além de suas neuroses e perversões
sociais, na quantidade que quiser...
Os pais
adoram! Todos querem ser genitores de um superdotado, para compensar o
sentimento de culpa de não ser um pai ou mãe perfeito, com se isso existisse,
ou pelo abandono a que relegam os filhos, quando saem de casa para ganhar dinheiro,
como se fosse a única coisa que realmente importasse, sem falar dos eternos “enrolados”,
pela propaganda enganosa de “especialistas” e empresários, dando plantão em
cada esquina. Mas se perguntar, apenas, não ofende, se as maravilhas propaladas
pela propaganda da escolas particulares funcionassem de fato, a educação
brasileira não deveria estar bem melhor do que está?
Para mim, pela minha experiência pessoal, mais de
trinta anos na educação, duas coisas são certas: em todo superdotado há uma
criança massacrada, e o destino do superdotado (que só entende de um conteúdo
especializado) é ser empregado de um inteligente (que sabe tudo de relação
humana), mesmo que este nem seja culto. As quatro vitórias daquele político semianalfabeto
sobre seus doutos adversários, já deveria ter deixado alguma lição.
Curioso é que essa discussão aconteceu no Brasil,
justo quando, na Inglaterra, uma frente de 130 autoridades e professores, do
mais alto nível, lançava, em setembro, um manifesto chamado “Tanto, tão cedo!”,
onde criticava a política educacional inglesa, que estipulava o ingresso das
crianças no regime escolar – não se trata em alfabetização ainda, mas de pré-escola
– aos cinco anos de idade, pregando a necessidade de a Inglaterra, nesse ponto,
seguir o modelo escandinavo, em especial o finlandês, onde as crianças só podem
ingressar na escola aos sete anos! Num determinado trecho, Wendy Ellyatt,
fundadora do movimento, diz: “A despeito de 90 por cento dos países do mundo
priorizarem a aprendizagem social e emocional [o Brasil não está entre eles], e
começar a educação formal entre seis e sete anos, na Inglaterra nós estamos
fortemente determinados a continuar agarrados à crença de que, começando mais
cedo, nós obteremos melhores resultados mais tarde [especialistas, na texto,
contestam isso] (http://www.dailymail.co.uk/news/article-2418281/Children-start-school-age-seven-say-education-experts.html).
De fato, a política educacional finlandesa, segue,
nesse item, a sabedoria comum e o mais completo estudo já feito, no mundo,
sobre o desenvolvimento intelectual da criança, por Jean Piaget e seus
colaboradores. Uma das grandes descobertas de Piaget, demonstrada em experimentos
controlados e observações geniais é a de que a aprendizagem depende, em última
instância, de um mecanismo interno da inteligência, que ele chamou de equilibração,
que amadurece com os anos de vida da criança, até alcançar a sua estabilidade
final, o seu fechamento, lá por volta dos 15 a 16 anos de vida.
Desses estudos científicos, lotados de dados,
infelizmente pouco conhecidos e valorizados no Brasil, se chega a conclusão que
não adianta acelerar, pois a aprendizagem vai ocorrer a partir de um movimento
no interior da criança, que a gente só pode provocar, jamais determinar, sem
falar que depende de uma velocidade de maturação geral, que varia de criança
para criança, de acordo com uma série de elementos pessoais e sociais. Outra
constatação, também de Piaget, de capital importância, é que só aos sete/oito
anos a criança atinge, naturalmente, se as condições sociais não forem muito adversas,
o que ele chama de inteligência operatória concreta, a base lógica mínima para ela
enfrentar com sucesso o regime escolar.
Não é verdade que os antigos, na sua sabedoria,
determinavam que as crianças deveriam ir à escola só aos sete anos, e que nós,
na ignorância da história e o repúdio à sabedoria, em favor da loucura, fizemos
retroceder, com o fito de livrar os pais com excesso de ambição da
responsabilidade de participar da educação de seus filhos ou que, submetidos a
salários de fome, se veem obrigados a viver para trabalhar, como faziam os seus
ancestrais escravos? Massacrar as crianças, para postergar a resolução de
nossos problemas sociais estruturais é a solução?
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