quarta-feira, 15 de julho de 2015

JUSTO O CONTRÁRIO! OU O DESERTO DA NOSSA EDUCAÇÃO – 7

Prof Eduardo Simões

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            Entre alunos de “8º ano”. No mesmo nível, sem medo, cobrança, simulação, estresse, falta de respeito, além de muita aprendizagem.

            Quem viveu essa época sabe: um dos debates educacionais mais emocionantes e doutos dos anos 70 e 80 eram sobre a conveniência de se fazer provas padronizadas para avaliar a aprendizagem. Os grandes mestres da educação eram contra essa prática, e a atacavam com argumentos mais variados – Lauro de Oliveira Lima dizia que, em termos psicológicos, elas não passavam de instrumentos de que se valiam professores neuróticos para torturar seus alunos; do ponto de vista histórico-político, eram um desdobramento das iniciativas educacionais de D João VI, que, por meio de exames, garantia não só o preenchimento das vagas nos cursos superiores, que ele criou, como mantinha o povo pobre longe dos melhores cargos públicos, afinal não havia escola de nível médio, pública; do ponto de vista pedagógico um desastre, uma vez que os alunos só estudavam nas vésperas da prova e esqueciam tudo no momento seguinte, e, do ponto de vista moral, uma indução à desonestidade do aluno, provocando-o a colar..
            Venceu o bom senso, o aforismo de que “prova não prova nada”, e a escola começou a evoluir para a noção de “conceito”, algo bem mais flexível, mas que não vingou de todo, em virtude de nossa mania de ou escolher o caminho errado ou deixar as boas reformas pela metade. A avaliação evoluiu para o conceito, mas o resto da escola permaneceu o mesmo. Reforma meia-boca, só pode criar uma escola meia-boca, e o conceito, no final, acabou se transformando numa nota disfarçada, tipo A +, A -, B +. etc. O conceito de avaliação mudara, mas a cabeça do professor não, e a última coisa que nossa autoridades queriam – será que ainda querem? – era investir em professores.
            Mas, na atmosfera, assim como na educação brasileira, os ventos são caprichosos e mudam de direção de forma inesperada. Em 1997, um consórcio de burgueses dos países mais ricos, preocupados com a produtividade (= mais lucros), e buscando mais segurança nas inversões de seus amados bilhões (= mais lucros), junto a “intelectuais orgânicos” de sempre, resolveram intervir na educação, decidindo que:
            a) o conhecimento é algo objetivo, informação bruta, com sentido óbvio, como uma carrada de farinha, perfeitamente mensurável.
            b) a mente da criança é como um surrão de couro, onde você soca conhecimento- informação, como farinha para viagem.
            c) não existem aspectos subjetivos, afetivos, na educação. O método ou a aula-show, como acontece nos cursinhos e nos shows de mágica barata, resolve qualquer dificuldade. Toda cultura, carregada de subjetivismo e afetividade, é ignorada.
            d) a escola deve formar apenas mão de obra executante (Deus nos livre da pensante!) e padronizada, e isso deve ser de alguma forma imposto, inclusive pela forma de avaliação usada: questões objetivas com uma única resposta certa.
            e) se não existe a subjetividade, a afetividade e a cultura, também não existe diferença entre as crianças, que não passam de máquinas falantes, e, por conseguinte, todas podem ser avaliadas pela mesma medida e na mesma intensidade.
            E assim surgiram as provas do PISA!
            As autoridades políticas brasileiras, sedentas por títulos “honoris causa” e os bilhões lá de fora, imediatamente nos jogaram de cabeça no porão dessa canoa furada. Em 1996, o ministro Paulo Renato institui o Exame nacional de Cursos, o Provão, posteriormente, ENADE, e em seguida, 1998, o ENEM. Com a porteira aberta, a boiada estourou em uma enfiada de siglas estranhas, com um único propósito: tornar todo o sistema educacional cativo e dependente de provas padronizadas de desempenho, chegando ao extremo de, em São Paulo, haver uma iniciativa para que as provas do 3º Ano do Ensino Médio, de todas as escolas do Estado, seja uma só, enviadas diretamente pela Secretaria de Educação.
De uma hora para outra, sem qualquer debate minimamente digno do nome, sem que se soubesse de qualquer grande descoberta psicopedagógica que o justificasse, mudou-se toda a essência do sistema, que por sinal andava um tanto sem essência, fazendo a escola voltar exatamente de onde saíra no último quartel do século passado, trazendo de volta os mesmos problemas, com um agravante: os professores foram, nesse meio tempo, esvaziados em sua importância e dignidade, em primeiro lugar pela sociedade, em segundo pelos políticos e por fim pelos alunos.
Nesse contexto ficas-se boquiaberto ao saber que as crianças, na Finlândia, não fazem exames classificatórios em momento nenhum de sua vida escolar, exceto quando vão deixar o equivalente ao nosso Ensino Fundamental, aos 16 anos! Os alunos finlandeses não são, portanto, constantemente avaliados ou estressados com provas – transformadas, aqui, em documentos jurídicos espetaculosos, objetos de chilique de diretora e a processos administrativos e judiciais, a que estão, sob constante ameaça, os nossos professores – mas são minuciosamente observados pelos seus mestres, muito bem preparados, que ativam a equipe de suporte pedagógico da escola, sempre que uma criança apresenta dificuldades. Ou seja, eles confiam, respeitam e leem os relatórios e avisos de seus professores – aqui os relatórios mais parecem meios para os professores provarem que estão fazendo alguma coisa, como o relógio do vigia noturno.
O resultado dessa decisão tão saudável, e absolutamente antibehaviorista, é que esses alunos, que vivem sem provas, estão entre os melhores do mundo em provas padronizadas. Comparando os alunos finlandeses com os nossos, podemos dizer que fica provado que o condicionamento não desenvolve a inteligência, mas que a inteligência ultrapassa o condicionamento, até quando se busca resultados práticos.
"Quem só mede as estatísticas, não vê o aspecto humano" (Timo Heikkinen, diretor de escola em Helsinqui, citado em Seleções do Readers Digest, online, 24/06/12)


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http://g1.globo.com/
           
            Professora Jane Leon Antunes, 57 anos, dois braços e seis dentes quebrados a cadeirada, depois que um aluno de 23 anos, professor de jiu-jitsu, não se conformou com uma nota baixa.

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http://arede.info/


            Helicóptero da polícia, levando a professora da EE Ivanete Martins, em Piraquara, PR, entre a vida e a morte, após ter sido esfaqueada por um aluno de 14 anos, que recebera uma nota baixa.

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