sexta-feira, 31 de outubro de 2014

TRAGÉDIA QUASE ANUNCIADA

Prof Eduardo Simões

         A morte recente, e em circunstâncias trágicas, de uma menina de apenas 9 anos, em um acidente numa escola de tempo integral em Caraguatatuba, deve nos provocar a uma reflexão sobre os mitos e verdades da escola de tempo integral, que nos está sendo imposta de cima para baixo, goela adentro, antes que tragédias semelhantes aconteçam.
         O primeiro deles é que a escola é, de per si, um lugar seguro para crianças e jovens, como se o seu gigantismo ou a pureza da intenção que a gerou garantisse a segurança de alunos e profissionais contra as mazelas do mundo externo. Ora, o gigantismo da escola, com muitas e superlotadas turmas, para melhorar a ‘relação custo-benefício’, dificulta sobremaneira o controle sobre as crianças, facilitando a que adultos e jovens infantilizados, vindos de fora, escalem os muros para passar drogas a quem está dentro, ou que, de fora, a joguem por cima do muro, sem que ninguém veja, quando não finge que não vê, para evitar problemas. Afora isso a sempre a possibilidade de o crime organizado infiltrar “aviõezinhos” entre os alunos ou simplesmente espera-los na saída. Onde há aglomeração há possibilidade de lucro para o crime organizado, que não se esquivará de explorá-la.
         Segundo, o excesso de edificações para acomodar tanta criança e serviços a que a nova escola se propõe, cria uma série de microambientes, alguns muito discretos e difíceis de perceber, onde uma criança, fazendo uso de sua curiosidade temerária, pode facilmente se envolver numa encrenca, sem ser notada. De nada adiantam imensos espaços abertos, mostrando que os projetistas desses prédios entendem muito pouco de crianças e jovens, e menos ainda dos mecanismos da atenção humana, que está sempre buscando um foco, enquanto despreza os contornos, até com uma forma de sua percepção não se “desligar” automaticamente. Na minha cidade ficou famosa a fuga de duas crianças de uma escola de tempo integral, que acabou tanto na rádio como nas vias de fato. A importância de Espaços específicos para a recepção e despedida das crianças no final do turno, de forma organizada e segura, só se coloca para quem vive nesse meio, e não para quem só pensa em custos, funcionalidade, organização espacial neutra, etc.
         Terceiro, a mágica da transformação da criança pelo simples ingresso emuma escola destas, não vai acontecer, é apenas um truque, efeito de marketing, presente, inclusive nas novas formas de batizar esse tipo de escola – a de Caraguá, onde houve a tragédia, tinha o pomposo nome de “complexo educacional de tempo integral”, oficialmente: “Centro Integrado de Desenvolvimento Educacional”, para não ser confundida com uma... “escola”. A criança trará de casa para esse novo paraíso arquitetônico, os velhos maus costumes que adquiriu na ausência dos pais, e até por sua presença, principalmente o de não obedecer às regras e avisos de professores e funcionários. Quem é de escola sabe o que eu estou falando. Tampouco irá melhorar a qualificação precária da mão-de-obra disponível, educada pelo sistema “entrou passou”, há muito anos em voga nas escolas de São Paulo.
         Mas há outros problemas a desafiar a teimosia do sistema em se meter em “frias”, que complicam a vida dessas escolas. Segundo alguns professores, o número de casos de pais invadindo as escolas de tempo integral, para acertar as contas pela agressão ou ameaças ao seu filho aumentou. O problema é que quando surgia uma desavença entre dois alunos, o final do expediente único soava e os brigões iam embora, dando tempo de esfriar a cabeça e preparar a chegada, em paz, no dia seguinte. Na escola de tempo integral não! Os desafetos ficarão face-a-face por mais um expediente inteiro, acumulando raivas, tensões, humilhações, etc., até que no dia seguinte alguém da família terá que vir ameaçar ou agredir alguém, uma vez que, professores e gestores, com a autoridade totalmente esvaziada pelas leis absurdas que se votam nesse país e pelo descaso da população pela educação de suas crianças, não conseguem se tornar mediadores respeitados nesses conflitos. A eficácia do professor mediador só existe no projeto, em ações periféricas e em poucos profissionais excepcionais.
         A evolução das medidas educacionais, nesses últimos anos, em nosso estado também não ajudou muito. Como Mario Covas fechou muitas escolas, para concentrar os garotos em grandes unidades, processo que se acirrou na superlotação das turmas, garotos ligados às gangues de bairros, que no passado estudavam em paz em escolas diferentes, passaram a se esbarrar nos corredores da mesma escola, e até a estudar nas mesmas turmas. O índice de violência dentro da escola, é claro, disparou, e a escola em tempo integral deve acirrar ainda mais essa situação.
         O que há, então de errado no projeto da escola integral? O principal erro é criar esse tipo de escola em um ambiente educacional em franca decadência ou desagregação, e até para deter a esta, quando deveria ser a culminância de um processo bem-sucedido, sem falar da ausência de um projeto pedagógico, ou como diria o professor Lauro O. Lima: “é apenas pedagogia predial!”
         O projeto da escola de tempo integral busca, ao que parece, quebrar toda resistência da escola tradicional em ser transformada numa linha de produção fabril em tempo integral, numa escola que não acolhe crianças, mas fazedores de testes e exames, que só existem para consumir e vomitar informações afetivamente neutras. Se o objetivo fosse outro eu entenderia que se fizesse o seguinte;
         a) Definir de forma clara e precisa – pelo menos muito mais do que nos Parâmetros Curriculares Nacionais – com a ajuda de pais, professores, burocratas, as diretrizes político-pedagógicas do sistema educacional, noutras palavras: o que queremos fazer ou gerar (que tipo de cidadão?), e como nós vamos fazer isso (o melhor método, em função do que se conhece sobre a psicologia de crianças e jovens).
            b) Por em prática os princípios dessa pedagogia, em uma ou outra escola e ver os resultados, ou observar as escolas já existentes, e escolher aquelas que funcionam melhor, como exemplo a ser seguido pelas outas. Exportação de know-how.
         c) Ir expandindo pouco a pouco aquele modelo, aprendendo com cada fracasso e/ou sucesso, consolidando a estrutura tangível do projeto, gerenciamento dos espaços, ao mesmo tempo em que se aprimora a estrutura intangível, o substrato psicopedagógico.
         d) Parar de se preocupar com resultados de exames criados em realidades diferentes da nossa, a partir de projetos educacionais que são apenas parcialmente semelhantes ao nosso, como o PISA e correlatos. Nós temos que criar a nossa própria via educacional, o nosso caminho de maturação cognitiva-afetiva-social, sem querer copiar ninguém, nem ignorar importantes lições que nos possam vir do exterior.
         Acima de tudo é preciso que nos compenetremos da importância vital e até sagrada do espaço escolar, com tudo o que ele contém em sua estrutura física, que os alunos tanto depredam!, e nos profissionais que trabalham lá, hoje tão desencantados! Um projeto educacional só é sério no longo prazo, cujos frutos só se pode colher após uma longa maturação, com cuidados contínuos, na direção correta, e não algo que se mude de afogadilho, ao sabor de modismos internos ou externos, além de conveniências políticas, quando alunos e professores são usados descaradamente como cobaias, e menos ainda obra de quixotes solitários, porque a maioria dos pais estão muito ocupados ganhando dinheiro para comprar um carro novo ou reformar a sua casa já tão confortável. O que vale mais, nossos filhos ou o nosso patrimônio material?     O governo, por sua vez, precisa superar a sua visão de que escola e deposito de crianças para deixar os pais livres para trabalhar pelo lucro das empresas seu patrão, gerando maior recolhimento de impostos, quase que nos mesmos moldes da primeira revolução industrial, graças à terceirização e a prática de acoplar o salário à consecução de um volume de tarefas, semelhante à que era usada pelo senhor do servo medieval. A crise da educação, da escola, no Brasil e em São Paulo é, por fim, o perfeito retrato da crise de valores de nossa sociedade, cujas primeiras e mais numerosas vitimas são as crianças.
         É difícil adivinhar aonde isso vai dar?

Fontes: http://www.portal.caraguatatuba.sp.gov.br/noticias_view.php?id=7599#.VFPfhPnF9qU
                   http://caraguablog.blogspot.com.br/2013/07/caragua-cide-centro-ja-comecou-funcionar.html

                   http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?id=1510358

(visite construindopiaget.blogspot.com.br)
COLANDO COM SALIVA

            Prof Eduardo Simões

            Mais uma vez a direção da minha escola mostra que não é do ramo. Tudo começou com a vice passando um pito nos alunos por causa da sua postura displicente, principalmente de alunos do Ensino Médio, durante a oração de abertura do expediente. Confesso que nunca vi muita conveniência nisso, uma vez que nem todos os alunos são cristãos praticantes, quando não têm alguma birra, por causa dos pais que os obrigam a ir à missa ou ao culto, quando não porque a rebeldia é a marca dessa idade. Para mim, melhor seria se fosse feito uma espécie de oração-compromisso, religiosamente neutra, com a república, a democracia, ao esforço intelectual e a nobreza moral; enfim um momento de congraçamento e união, com o fim, inclusive da discriminação sexual constante das filas separadas de meninos e meninas.
            O mais grave, porém, é a forma errática de como esses pitos aparecem na escola. Em alguns momentos, parece-nos que os alunos estão mais agitados ainda, e nada acontece! Será que os alunos não percebem isso? Eu acho que sim, e ficam perdidos. É preciso que fique claro para eles quando a displicência, nesse momento, passa dos limites, e uma vez ultrapassados o pito, ou outra punição, deve vir irrevogavelmente, e não quando as gestoras simplesmente decidem que, naquele dia, não vão aturar. Os alunos, percebendo isso, nunca deixarão de testar.
            A isso seguiu uma cena tragicômica: a equipe de gestão, a diretora estava ausente, preocupada com os alunos que, sempre quando acaba a oração, se dirigem ao banheiro e aos bebedouros, para atrasar propositalmente a sua entrada na aula, resolveu, nesse dia, agir. Eles se dirigiram ao banheiro, a coordenadora correu à frente para impedi-los, aí eles se desviaram para um bebedouro, a coordenadora saiu atrás, falando alto e pedindo que eles fossem para a sala, como os outros, aí eles saíram correndo para o outro bebedouro, bebendo água e fazendo um grande barulho, saboreando bem alto a sua vitória, “aaaaah!”, enquanto a coordenadora falava alto em prováveis punições.
            As questões que surgem daí são: primeiro, qual é a causa dessa atitude de rebeldia tão aberta? Será que é fruto de problemas domésticos familiares que estão repercutindo no comportamento desses rapazes? É a resposta a atitudes inconvenientes ou pouco pedagógicas da direção e dos professores? É fruto do modelo de escola imposto, e nisso eu friso bem: IMPOSTO, pela Secretaria de Educação, que, ignorando os aspectos afetivos e sociais do desenvolvimento das crianças as tornam reféns, assim como aos professores, de metas de caráter meramente cognitivo-eleitoreiro? É uma mistura de tudo isso?
            Segundo: o que a escola, ou o sistema com um todo, têm feito para responder às demandas sociais e afetivas dos alunos? O que a escola tem feito, fora da repressão, para desenvolver a disciplina social e o autocontrole emocional-afetivo desses garotos? Pelo que eu vivencio: nada! Temos uma professora mediadora muito esforçada, mas convenhamos, não é a mesma coisa que uma psicóloga, e até uma enfermeira com especialização em atendimento infanto-juvenil, como acontece nas escolas americanas, onde o nosso governo foi buscar a Secretaria Escolar Digital (SED). Pelo lado do sistema, a mesma coisa. O grande investimento do momento é a SED, que aumentará enormemente o controle e o aspecto da escola como uma mera e afetivamente neutra linha de produção, semelhante a uma fábrica de conservas, com a vantagem de transferir trabalho de secretaria para os professores, permitindo redução de custo. Palavra mágica e mântrica desse governo.
            O que fazer então? Ora, esses alunos são “figurinhas carimbadas” se se quiser agir pelo lado da repressão, é só usar contra eles medidas administrativas legais como a suspensão. É possível, embora não seja certo, que, após um ou dois casos punidos exemplarmente por esse instituto administrativo, essa compulsão passe. O perigo são esses meninos decidirem não mais ir a escola, como vários já o fizeram, impunemente, ao longo desse ano, apesar das ameaças da legislação. Não dá para por na cadeia ou cobrar multas aos pais de tantos alunos que não querem mais ir à escola. Não há cadeia que chegue. Isso é uma excrecência do Regime Militar ou do autoritarismo histórico de nossa sociedade, tornado ridículo, pelo monte de leis paternalistas criadas após 1988, a pretexto de proteger a infância e juventude da incoerência e da hipocrisia dos adultos. Para mim, que conheci o que havia antes, piorou.
            Uma alternativa seria encarar filosoficamente essa atitude, entendendo que esses meninos – nenhuma aluna participa disso – estão usando disso como um ritual de autoafirmação, cuja causa precisa ser descoberta e trabalhada, ao mesmo tempo em que a escola, se desprendendo um pouco do monopólio da cognição, e mesmo essa abordada de forma incorreta, ressuscitando o behaviorismo, passe a trabalhar e avaliar mais o valor das normas sociais e de uma socialização bem sucedida, em que pese o caos da sociedade brasileira, com os professores tolerando, sem se estressar com o atraso, mas estimulando-os com elogios quando eles se fizerem merecedores. Para mim é o melhor caminho.

           
(Visite o blogue construindopiaget.blogspot.com.br) 

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

MAL OCIDENTAL

Prof Eduardo Simões

         No passado, sempre que algum conflito se destacava pela sanguinolência entre povos africanos, eu ouvia de alguém a expressão: “isso é herança do imperialismo... eles aprenderam isso com os ocidentais”. Confesso que nunca vi muito sentido nessas expressões, pois sempre tive muita dificuldade em vislumbrar anjos e demônios associados a grupamentos humanos, que são, independente das circunstâncias, sempre... humanos. O resto é ideologia barata, adquirida a custa de pouca reflexão. Entretanto ao ver as cenas dramáticas envolvendo as recentes vítimas, reais ou potenciais, do ebola na África, algo me chamou a atenção.
         Os documentários sobre a vida selvagem nos trazem o drama da luta pela vida na África, em toda sua majestade e dramaticidade, sem miséria ou indignidade, com o seu final inevitável: a morte. Aí há uma sabedoria. Sabedoria assimilada em milênios pelos africanos em geral, que aprendem da natureza a inevitabilidade da morte e a aceitação, entre natural e serena, da culminância de nossa vida. Mas não é isso que estamos vendo na TV. Um homem, agonizando ou desfalecido, jaz abandonado sobre uma poça d’água, um contaminado assoma uma feira livre, lotada de gente, multidões fogem para lugares remotos, espalhando doença, outros matam médicos para evitar a doença!
         Algo mau ficou da presença dos europeus na África, nesse último século e meio. Eles eram burgueses, burgueses arrogantes, cheios de empáfia e certezas, e, acima de tudo, descrentes de Deus e da natureza, a quem queriam corrigir. Sua visão de curto prazo, muito utilitária, fazia com que eles vissem na morte um flagelo ou um sinal de impotência humana, que deveria ser a todo custo postergada, quando não vencida. Morrer cedo, significa não “gozar a vida”, a vida que fluía, na forma de mercadorias, pelas portas das fábricas, ao custo da poluição e escarmento das fontes naturais de vida. Uma vida que só era gozada de fato no interior de mansões raras e exclusivas, para poucos colunáveis ou “fashion”.
         Disso tudo ficou o medo da morte, e o seu correlato, ao mesmo tempo contraditório e complementar: o medo da dor, física ou moral (cultural), principalmente quando ela implica em perda daquilo que nós nunca possuímos, o controle do futuro, que no desespero de seu aguçamento leva vários a buscar a abreviação da vida, acorrendo para o que mais teme. A doença não impossibilita a vida, mas a onipotência burguesa, e daí é melhor sair dela, pois deixar de ser produtor-consumidor pleno, nesse mundo, equivale ao inferno capitalista.

         O medo da morte gera o medo da dor, da qual se escapa pela busca da morte, que gera o medo da infecção, da doença, que também causa o fim da solidariedade, do heroísmo, da paciência, etc. Tudo isso muito ocidental, e nisso aqueles ideólogos tinham razão, e faz com que as cenas de desespero e desumanidade vistas na TV, aparentemente tão distantes, nos pareçam estranhamente familiares e ameaçadoras.

(visite o blogue construindopiaget.com.br) 

A HORA DO ESPANTO

Prof Eduardo Simões

            Enquanto a OMS (Organização Mundial de Saúde), órgão da ONU, denuncia a pequena contribuição dos países ricos no combate à epidemia do vírus ebola na África, o mundo é surpreendido por uma coligação insólita de países latino-americanos, que, longe de serem modelos de sociedades desenvolvidas para mundo, dão uma lição a este, tomando à frente das iniciativas de luta contra o vírus. Na dianteira está Cuba, associada aos países do projeto bolivariano: a ALBA (Aliança Bolivariana Para os Povos da América), entre os quais se contam a Venezuela, em frangalhos, de Maduro, e a Bolívia, ajeitada, de Morales.
            O compromisso de Cuba de mandar duas brigadas para e região da epidemia, e disponibilizar 4 mil médicos voluntários, que já trabalham na África – nas mesmas condições suspeitas que no Brasil? – não causa surpresa, a quem conhece a história recente, e a importância da participação cubana na guerra pela independência de Angola, onde o número de combatentes ilhéus chegou à dezenas de milhares, o governo oculta o seu número exato, assim como o de cubanos mortos nesse conflito.
            Tudo bem, Cuba tem algo a dizer e a fazer na África, assim como todos os povos da América Latina, até como retorno pelo imenso número de africanos que ajudou a construir a riqueza e a força das Américas, ou para compensar a indiferença do mundo civilizado para com esse continente, mas é preciso fazê-lo de uma forma correta, adequada, pois estamos lidando com um vírus muito mortal - as medidas recentes tomadas pelos países desenvolvidos nos casos de contaminação no seu solo, nos mostram o quanto essa doença é contagiosa e o quanto é caro e difícil combatê-la com eficiência.
            Aí surge a pergunta mais urgente: esses países, Cuba e ALBA, estão prontos para travar esse combate? Nesses países ninguém é louco de contestar o governo porque vai mandar o seu filho para a África, sem mais, para satisfazer as exigências abstratas e personalistas do ‘internacionalismo proletário’, seja para uma guerra sangrenta seja para o combate meritório de uma doença. Nos países mais... “civilizados”, isso não é possível, a família entra na justiça clamando por responsabilidade e indenização e os eleitores massacrariam o governante na próxima eleição.
            Como será, quando centenas ou milhares de enfermeiros e médicos desses países começarem a apresentar sintomas da doença? Serão trazidos de volta à sua pátria, para serem tratados por sistemas de saúde, decerto melhores que os africanos, mas ainda precários em relação ao tamanho do desafio? Se eles perderem o controle do processo poderão criar uma área de contágio permanente do vírus no continente americano. O que nós e os africanos ganhamos com isso? Outra opção é fingir-se de morto e deixar seus nacionais morrerem, isolados na África. Quem seria louco de contestar essa estratégia dentro desses países?
            A questão do ebola é muito séria, e não dá margem para jogo de cena ou o seu uso como propaganda ideológica, projetos salvacionistas improvisados, alavancados no calor dos debates e de interesses geopolíticos, por regimes carregados de problemas internos, inclusive de como lidar com grandes bolsões de pobreza internos, ainda incólumes. Nada deve ser improvisado ou omitido – logo nesses regimes que não primam pela transparência – nem movido por heroísmo romântico, por mais nobres que sejam os sentimentos.
            P.S. Deu na imprensa, que o governo cubano avisou
aos voluntários, que se adoecerem serão deixados ao sabor da doença na África, e nesse caso o presidente de Cuba e a elite do Partido Comunista, se tivessem o mínimo de vergonha na cara, deveriam ser os primeiros a se apresentar a essas brigadas, mas nós sabemos quando eles farão isso... É a barbárie, a mais grotesca barbárie; uma propaganda forçada de um regime falido. Seja como for ao cubano comum é melhor começar a treinar sua vocação para herói, como foi nesses últimos 54 anos, e aos opositores do regime a sua prudência.

(visite o blogue construindopiaget.blogspot.com.br)

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

COMPULSÃO BUROCRÁTICA OU AFIRMAÇÃO DE PODER?

Prof Eduardo Simões

            Na escola estadual onde eu leciono, no bairro da Rocinha, Guaratinguetá, solicitei, recentemente, um datashow para exibir um pequeno documentário a propósito da matéria, sem falar que os alunos estavam a insistir que eu lhes passasse alguma projeção. Eu, é claro, só passo algo que tenha a ver com a matéria e que seja curto o bastante para não os dispersar. Estava certo que obteria o velho datashow, porque todas as salas já estão equipadas com modernos instrumentos de projeção, com home-theatre, e ninguém mais usava o velho equipamento.
            Para minha surpresa, a pessoa na secretaria, seguindo as ordens da diretora, me informou que eu não poderia pegar o datashow, guardado em um armário, porque eu não havia solicitado com antecedência o uso da máquina. Eu estava em sala de aula, ninguém estava usando ou pretendia usar da máquina, eu tinha um material adequado para passar, e não pude usar do equipamento, porque não havia preenchido um papel de controle, numa escola com cinco salas!
            No dia seguinte tentei novamente, desta vez com a diretora, e ela confirmou a ordem e me deu os seguintes argumentos:
            a) A marcação prévia impede que dois professores busquem ao mesmo tempo a máquina. Argumentei que eu entendia isso, e que se houvesse alguém à minha frente eu não iria criar problemas a respeito – aliás, nunca houve qualquer disputa entre professores a esse respeito desde que eu cheguei à escola, há três anos, menos ainda agora, quando cada sala possui o seu equipamento!
            b) Ela então falou que, “quando era professora” sempre trazia suas aulas planejadas semanalmente de casa, e certamente não se desviava um milímetro desse planejamento. Para mim isso é a receita certa para uma aula chata e bitolada, sem falar que eu não sou ela nem sou obrigado pela lei, ou pelo que quer que seja, a dar aulas exatamente como ela. O que um argumento desses não revela hein! Falei ainda que na minha área, história, é comum a gente passar horas no computador e não conseguir encontrar nada adequado para os alunos e, algum dia, sem querer, topar com um filme muito interessante e adaptado ao que se está vendo em sala. Perde-se então uma oportunidade, só para seguir o que foi planejado na ausência desse novo e precioso dado?
                    c) Ela disse ainda que tal controle era necessário porque havia professores usando de filmes para não dar aula. Eu argumentei que se isso acontecesse o mais razoável era saber quem eles eram e chamar a sua atenção, e não amarrar toda a equipe. Ela argumentou que já sabia quem eles eram e que já havia chamado a sua atenção (por conseguinte, a inscrição prévia torna-se inútil, a não ser que mais inútil ainda seja a sua reprimenda aos relapsos), e que ela sabia muito bem o que fazer. Ao que ela vive repetindo para mim, como se eu estivesse duvidando de sua capacidade. Pouco importa. O que me importa é a aprendizagem dos meus alunos e o meu compromisso de sempre ajudar à empresa onde eu trabalho, seja ela pública ou privada.
                    d) Argumentei ainda que o que me interessava era o velho datashow, que já me acostumara a manusear, e que eu sabia estar agora permanentemente livre, mas ela me disse que eu não poderia mais usar o datashow porque isso iria invalidar todo o investimento que a escola já fizera em modernos equipamentos de projeção. Ou seja: existe equipamento, existe motivação, existe necessidade, mas a gente não pode usar o equipamento para não parecer, não sei para quem, que o estado fizera um mau negócio em por equipamentos modernos em sala de aula! Noutras palavras: burocracia 1.000, afirmação de poder 1.000, pedagogia... zero!
            Ela por fim disse que me faria uma concessão e mandaria gente para instalar o aparato moderno para eu passar um vídeo. A pessoa foi, mas cadê que o sistema “moderno” queria funcionar! Foram necessários mais de 25 minutos, metade da aula, de tentativas para o engenho funcionar, e eu já com saudade dos cinco a sete minutos que eu perdia até o velho datashow começar!
            De que adianta o governo gastar milhões dos impostos dos contribuintes, equipando ou modernizando os equipamentos nas escolas se não consegue modernizar a mentalidade dos gestores? De que adianta ter aparelhos de última geração nas escolas se nestas há diretores ou diretoras que os utiliza para demarcar o seu domínio territorial, afirmar a sua posição de chefe do pedaço? E o que é pior, ou talvez até por isso, uma das coisas que mais depõem contra o professor, no atual sistema de avaliação do Estado de São Paulo, é a sua pouca afinidade ou pouco uso de tecnologia em suas aulas. Ou seja, você precisa usar da tecnologia na escola, mas para ter acesso a ela precisa, antes, passar por um ritual de submissão pré-histórico.
            Nada justifica essa medida da diretora, ainda mais porque a escola tem amargado, nos anos em que ela esteve à frente, resultados medíocres no SARESP, e, portanto não pode se dar ao luxo de ignorar momentos adequadamente didáticos por causa de alguma suposta inadequação burocrática, desnecessária, inútil e prejudicial em uma escola tão pequena. O que a minha escola, e todas as escolas de São Paulo precisam é de pedagogia, pedagogia, pedagogia, mas só temos experimentado, nos últimos anos, controle burocrático, esvaziamento, humilhações.

            NÃO HAVERÁ REVOLUÇÃO NA EDUCAÇÃO SEM PROFESSOR: TODA DIGNIDADE AOS PROFESSORES! E que eles façam por merecê-la.

(visite o blogue construindopiaget.blogspot.com.br)

terça-feira, 28 de outubro de 2014

1536 – A PSICOLOGIA DO CARRASCO

Prof Eduardo Simões

            A vida tem umas reviravoltas que nos fazem pensar. Que prazer não dá aos olhos de rapazes e homens inteligentes a graça louçã de uma mulher jovem que sabe o que quer e como obtê-lo, ainda mais se a isso se adicionam a inteligência e o espírito. Corça graciosa, quem lhe escapará? Quem tiver juízo e tempo bastante para avaliar se vale a pena.
            Assim era Ana Bolena, a mulher mais poderosa da Inglaterra, graciosa o suficiente para arrastar um rei para fora, ao mesmo tempo, de si, de um matrimônio e de uma Igreja. Gostar de alguém inteligente não garante por si só a aquisição da inteligência. Mas, como dizia um de nossos quase poetas: “felicidade não existe, o que existe na vida são momentos felizes”, Ana tratou de aproveitá-los, enquanto ainda era jovem e graciosa, talvez crendo que essa felicidade perduraria, mesmo tendo começado com a excrescência de um casamento secreto, depois tornado público em 1533, sob as ruínas de um sacramento e da honra de uma dama espanhola, a ex-rainha oficial.
            A situação ficou ainda melhor com a morte prematura da repudiada, Catarina de Aragão, em janeiro de 1536, com um terrível câncer no coração, logo aonde! Aliás, dizem que o câncer é a doença da tristeza e do sentimento de culpa; se isso é verdade eu não sei, mas que bruta coincidência! Mas foi aí que aquelas “bruxas”, que não existem, e aquelas “coisas entre o céu e a terra” começaram a aparecer, e tudo começou a dar errado, uma vez que uma das principais justificativas do monarca era a incapacidade da rainha lhe dar um filho varão. Bolena não conseguia pegar menino, mas, em meio a abortos sucessivos, ainda conseguiu gerar um dos maiores monarcas da Inglaterra: Elizabeth, ou Isabel, como que a mostrar à posteridade o quanto tudo aquilo fora vão.
            Então a situação mudou radicalmente, e o que era um “amor” capaz de vencer os mais sagrados impedimentos religiosos e barreiras sociais, acabou se tornando um caso de interesse “nacional’, onde Ana Bolena era o detalhe que estava sobrando, ou pior, atrapalhando. Henrique VIII percebeu a necessidade de busca mais aproximação com a Espanha, terra de sua falecida esposa, e os espanhóis, aparentemente, impuseram uma condição esperada: nada com Ana Bolena. De musa e diretora de uma das mais audaciosas e profundas mudanças já ocorridas na Inglaterra, ela agora se tornava um estorvo ao futuro do país e de seu amado, e amante compulsivo, que na surdina já lhe aplicava do remédio que ela um dia o ajudara a aplicar à falecida.
             Não foi difícil, a partir daí, forjar um estranho inquérito e julgamento, entremeados por muita tortura, o combustível das investigações da época, e de alguns países atuais, onde ela foi associada a cinco outros nobres, que não eram benquistos na corte. Dessa união de contrários saiu uma conclusão arrasadora: Bolena traíra o rei, deitara-se com o irmão e ainda traiu a pátria – para se livrar dela o rei trombeteava com o seu berrante real. Só não a acusaram pelo incêndio de Roma porque Roma não era bem vista naquele momento na Inglaterra. E a sentença só podia ser uma: morte.
            Mas Henrique VIII, mostrando que ainda tinha algum “sentimento” ou talvez lembrando-se de tantos bons momentos passados juntos, ou quem sabe com peso na consciência, não quis que a cabeça da sua ex-preferida fosse cortada com o brutal machado que já secionara o pescoço que sustentava um dos cérebros mais privilegiados de seu tempo, sem falar de uma moral inatacável, o de Thomas Morus, executado em julho de 1535, por não concordar com a união do rei com a novata, mandou vir um hábil espadachim da França, ao custo de uma boa gratificação. O serviço tinha que ser “limpo”.

            Conta-se que, no dia 19 de maio de 1536, Ana Bolena chegou um tanto nervosa ao lugar de execução, olhos vendados, mexendo muito a cabeça, e assim, nervosa, foi posta de joelhos. O carrasco, profissional, percebeu que aquela inquietação poderia atrapalhar o seu golpe e por isso disse em voz alta “Onde está a minha espada? Ô rapaz vá pegar a minha espada”. Imaginando que teria ainda algum tempo, a condenada relaxou, imaginando que ainda teria uns momentos de vida, e foi justo nesse instante que um raio prateado livrou-a de uma vez dessa ilusão.

(visite o blogue; construindopiaget.blogspot.com.br)
SENTIR PODE, FALAR NÃO

Prof Eduardo Simões

         Há algum tempo vemos algo insólito no mais importante estado da Federação: notícias, fartamente decoradas com fotografias, imagens de vídeo, etc., dando conta que existe uma grave crise hídrica no estado, inclusive com severas faltas de água já acontecendo em algumas regiões, e o governo do estado afirmando categoricamente que está tudo bem, que não há racionamento, mas apenas “redução da oferta”.
         Essa semana, inclusive, ele foi bem mais longe, chegando a mandar um comunicado “duro” a Ban Kin Moon, o Secretário da ONU, por causa de uma funcionária da Organização, que, estando no estado, notou e notificou a falta de alguma coisa, sem deixar de apontar a mais provável das causas: a inépcia de gestão da empresa concessionária de água, logo isso em um governo que se gaba de seus “choques de gestão”. O governador, segundo as agências noticiosas, pôs dúvida a credibilidade da ONU, tudo bem em um país onde se nega o direito de advogar a Joaquim Barbosa, por falta de idoneidade moral, enquanto se mantém incólume o registro do condenado Zé Dirceu, chegando inclusive a ameaçar de não comparecer à próxima Cúpula do Clima, em Nova York. Mais um pouco e haveria guerra.
         Internamente, dizem, que os reparos da observadora têm fundamento, uma vez que a tal empresa concessionária deu lucros deveras polpudos aos seus acionistas, talvez a custa de investimentos de ampliação reservas e prevenção do sinistro atmosférico, mas também aqui não é saudável falar sobre o assunto. O último que se atreveu foi o presidente da Agência Nacional de Águas, ANA, dizendo que as bombas nas represas já estavam próximas de bater no “lodo”. Iiiih! Um “ilustre” deputado do governo logo o chamou de “vagabundo”, e um secretário da administração estadual disse que o tal presidente é que iria para o lodo. O governador não disse nada, mas com certeza Narizinho Arrebitado está muito constrangida.
         Aos brasileiros, pois, que vierem a esse estado e os próprios moradores, falo assim como que em código para evitar... vocês sabem, devem cuidar para quando sentir sede pedir água, mas não dizerem para quê.

(visite os blogues construindopiaget.blogspot,com.br)
VOTO DE OURO
Prof Eduardo Simões
            Justo quando parecia que a oposição estava tomando pé, veio uma maré e a envolveu. Mas alguém não dúvida que ela não vá se afogar?
            Aécio pegou muito pesado com a presidenta, que, esperta, deixou os ataques mais grosseiros para a sua equipe, enquanto o outro, açodado ou imaturo, partiu, ele mesmo, para a rinha, sofrendo as consequências. Aécio esqueceu que a sociedade brasileira é muito machista, e por mais que os anos passem, eleições junto, eles jamais verão a Dilma, ou qualquer outra, como presidenta ou candidata, antes de mulher. Aécio, portanto, agrediu uma mulher e uma mãe! Nada mais horrível, considerando que o brasileiro busca no espaço público compensar as ofensas, tiros e tapas que ocorrem no ambiente doméstico.
            Mas eu creio também, que boa parte da perda de Aécio, que alguns chamam “desidratação”, se deve ao fato de já ter chegado à classe média a desconfiança de que o mais poderoso estado da federação está à beira do colapso hídrico, com conseqüências inimagináveis, além das imagens dantescas da carência de água, que já começam a aparecer nos meios de comunicação, e que deve, fatalmente, arrastar o resto do Brasil junto. Como evitar a responsabilização do grupo de Aécio?
            Nesse cenário, a postura do governador de São Paulo e de seu entourage, só faz piorar as coisas ao negar peremptoriamente o sinistro climático, e perseguir quem fala dele... eu não disse nada! O eleitor já deve estar se perguntando: e se eles usarem do mesmo artifício para os casos de corrupção no seu futuro governo, como aconteceu com o caso da compra de votos da reeleição, com a Pasta Cor de Rosa, com a CPI da Máfia do Apito, que, segundo o jornalista Juca Kfouri, teve na omissão do senador Aécio elemento fundamental para o seu arquivamento, etc.? Não dá para negar que a punição para os crimes de colarinho branco só começaram nos governos do PT.

            Noutras palavras: se votar na Dilma você erra, por não querer dar cobro à atual corrupção, se votar em Aécio erra, pois será leniente com crimes futuros, pelo menos os grandes, se votar branco ou nulo ou não comparecer, você também erra, por mostrar desinteresse com o futuro do país. Por conseguinte. Seja qual for a sua decisão nesse domingo, dia 26, você estará certo.

(visite os blogues construindopiaget.blogspot.com.br)
CAVALEIROS DO APOCALIPSE

Prof Eduardo Simões

            Duas coisas chamaram-me a atenção às vésperas do segundo turno: a grande quantidade de pessoas de classe média, as mais instruídas, que, no facebook, clamavam contra o “comunismo”, temendo, pela ascensão do PT, da mesma forma que a classe média de 1964, usando do mesmo argumento, atraiu sobre o país uma das mais violentas ditaduras de nossa história, que essa mesma classe média, vinte anos depois, pediria nas ruas, com muito mais clamor, que acabasse. Outra coisa que me impressionou foram as declarações, em áudio, da presidente da SABESP, Dilma Pena, e do diretor metropolitano da empresa, Paulo Massato, na Assembleia Legislativa de São Paulo.
            Segundo Dilma Pena, há muito tempo que se sabe da gravidade da crise hídrica em São Paulo, e que se fazia urgente a conclamação do povo para economizar água, o que não foi feito, segundo ela, por “orientação superior”. Ora, o escalão mais superior da SABESP é justo o governo de São Paulo, sócio majoritário da empresa, portanto tal determinação só podia ter partido dele, e nós sabemos porquê motivo. Já Paulo Massato é mais direto, e diz que, se as chuvas esse ano forem poucas, vai ser preciso “dar férias” a milhões de paulistas, para que se dirijam às cidades litorâneas atrás de água. Um apocalipse tipicamente brasileiro.
            Agora vem a questão: o que é pior, uma doutrina ultrapassada, decadente, defendida por meia dúzia de gatos pingados dentro do PT e em outros partidos de esquerda, ou o arrasto de milhões de pessoas ao desespero causado pelo caos de uma gestão que só pensa em dinheiro? Mesmo porque se se concretizar o temor do senhor Massato, para esses milhões de desesperados que virão essa ideologia decadente e idiota vai parecer verdade revelada. De quem será a culpa se isso acontecer? Do PT? Da esquerda? “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro”.
            À classe média paulista eu bem que gostaria de poder dizer: “pensem melhor”, mas só posso dizer: “orem, orem muito, principalmente por você e pelos seus”, pois tudo indica que a hora de pensar e de agir já passou, e foi perdida.

Quem quiser ouvir o áudio da presidente e do diretor da SABESP vá para

Lei o texto abaixo e entenda o porquê dessa crise de água.

Sabesp distribui até 60% dos lucros aos acionistas durante governo Alckmin
Estimativas apontam que, entre 2003 e 2013, cerca de um terço do lucro líquido total da Sabesp foram repassados aos acionistas
            Em 1994, com a justificativa de que assim conseguiria mais dinheiro para investir em abastecimento de água e tratamento de esgoto, a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) decidiu se tornar uma empresa de capital misto. Duas décadas depois, 50,3% de seu controle acionário se encontram nas mãos do Estado, enquanto 47,7% das ações são de propriedade de investidores brasileiros (25,5%) e estrangeiros (24,2%).
            Embora o estatuto social da Sabesp determine que os acionistas podem receber 25% do lucro líquido anual da empresa (relação que o mercado chama de payout), a concessionária chegou a bater recordes em distribuição de dividendos durante o governo Geraldo Alckmin (PSDB). Em 2003, por exemplo, ano seguinte à vitória do tucano nas urnas, 60,5% do lucro líquido da Sabesp foram parar no caixa de acionistas. Na verdade, desde a sua entrada na bolsa de valores, em 2002, a Sabesp nunca registrou payout inferior a 26,1%.
            Estimativas feitas com base nos dados divulgados em março de 2014 pela Diretoria Econômico-Financeira e de Relações com os Investidores apontam que, entre 2003 e 2013, cerca de um terço do lucro líquido total da Sabesp foram repassados aos acionistas. O montante é da ordem de R$ 4,3 bilhões, o dobro do que a Sabesp investe anualmente em saneamento básico.

http://jornalggn.com.br/sites/default/files/u16/lucro_liquido_2.jpg

            Negócio rentável
            No meio financeiro, comprar ações da Sabesp virou um negócio rentável. Desde que se lançou no mercado de capital, a companhia colocou papéis à venda em duas ocasiões. A primeira em 2002, com prospecto inicial totalizando 3,364 bilhões de ações ordinárias na oferta brasileira, e 1,252 bilhão no exterior, na forma de ADSs (American Depositary Shares).
Naquele ano, cada lote de mil ações ordinárias saiu por R$ 110 aos investidores institucionais e, no caso de desconto da oferta de varejo, R$ 104,50. O preço das ADSs ficou em US$ 11,22 cada – equivalente, na época, a R$ 27,50. A venda dessas ações no mercado rendeu R$ 506,9 milhões. Segundo o prospecto da oferta inicial, os recursos foram encaminhados em sua totalidade aos cofres do governo do Estado.
            Em 2004, a Sabesp retornou ao mercado com oferta de 5,273 bilhões de ações ordinárias, equivalente a 18,51% do capital social da empresa, por meio de uma distribuição pública secundária realizada simultaneamente no Brasil e no exterior. Dessa vez, 3,841 milhões de ADSs foram para o exterior. O lote de mil ações ordinárias saiu por R$ 113,47.
A arrecadação naquele ano atingiu R$ 598,2 milhões. O governo do Estado e a Companhia Paulista de Parcerias (CPP) – uma sociedade de capital fechado controlada majoritariamente pelo Estado que tem por objetivo “viabilizar a implementação do Programa de Parcerias Público-Privadas (PPP)” – ficaram com os recursos.
            No total, pelo menos R$ 1,11 bilhão foi parar no caixa do governo estadual a partir da venda de ações da Sabesp em 2002 e 2004. A reportagem do GGN questionou a Secretaria de Fazenda do Estado quanto aos investimentos que foram feitos com esses recursos. A pasta remeteu as perguntas à Sabesp que, até o fechamento dessa matéria, não se manifestou.
            O gráfico abaixo mostra o desempenho das ações da Sabesp no mercado desde a entrada na Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo). Os picos registrados aconteceram em anos em que o lucro líquido da companhia de saneamento foi bilionário: R$ 1,055 bilhão em 2007, seguido de R$ 1,911 bilhão (2012) e R$ 1,923 bilhão (2013). O crescimento do lucro líquido puxa o aumento dos dividendos, o que torna as ações da Sabesp mais atrativas. Mesmo em 2008, quando a empresa teve lucro líquido de R$ 862,9 milhões, o payout foi de 34,3%.
   

A evolução das ações da Sabesp:
http://jornalggn.com.br/sites/default/files/u16/grafico_desempenho.jpg

            Dividendos x investimentos
            Se comparado ao total de investimentos feitos pela Sabesp nos últimos 10 anos em saneamento básico (aproximadamente R$ 17,3 bilhões), os lucros e dividendos da companhia de capital misto não parecem tão exagerados, segundo avalia Alexandre Montes, analista de investimentos ligado à Sabesp. De acordo com ele, “em 2012, o negócio da Sabesp gerou um caixa de R$ 4,3 bilhões apenas com a venda de serviços de água e tratamento de esgoto. Desse montante, ela investiu na aquisição de intangíveis cerca de R$ 2,8 bilhões”, afirmou.
            “Já em 2013, dos R$ 4,5 bilhões gerados, R$ 2,3 bilhões foram investidos. Do ponto de vista analítico-financeiro, a distribuição de rentabilidade para os acionistas está dentro dos padrões. Foram R$ 499 milhões em 2013 e R$ 579 milhões em 2012”, apontou o associado da Lopes Filho Consultores de Investimentos.
            Atualmente, cerca de 28 milhões de pessoas no Estado são abrangidas pelos serviços de abastecimento de água da Sabesp. Aproximadamente 73% dos clientes são moradores da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), cinturão abastecido pelo Cantareira, sistema protagonista de uma crise iminente de fornecimento de água, já que opera, desde o início de maio, com menos de 11% de sua capacidade.
            O governador e a Sabesp sustentam que o problema de abastecimento na RMSP acontece principalmente por falta de chuva. Na tentativa de evitar uma crise no segundo semestre, Alckmin anunciou algumas medidas emergenciais. Entre elas, a aplicação de multa em quem aumentar o consumo de água (ainda em análise pelos órgãos competentes), o uso das águas das bacias do Guarapiranga, Alto Tietê e, agora, Billings, para suprir a demanda paulista, além de uma obra de R$ 80 milhões para captar o volume morto do Cantareira.
            A conta que não fecha
            Ao longo de 10 anos da abertura de mercado e negociação de papéis na bolsa de valores americana, a Sabesp valorizou 601%. Na BM&FBovespa, a valorização foi de 427% no mesmo período, 2002 a 2012. Ou seja: em uma década no chamado “mercado futuro”, o valor da companhia saltou de R$ 6 bilhões para R$ 17,1 bilhões.
            Os investimentos em saneamento básico, por sua vez, subiram de R$ 594 milhões em 2003 para R$ 2,7 bilhões em 2013. Nos últimos cinco anos, a companhia hoje presidida por Dilma Pena investiu R$ 11,9 bilhões em distribuição de água e tratamento de esgoto, e pretende investir mais R$ 12,8 bilhões entre 2014 e 2018.
   
        
http://jornalggn.com.br/sites/default/files/u16/investimentos_2.jpg


            Para especialistas em gestão de recursos hídricos e saneamento básico ouvidos pelo GGN, a questão que não quer calar é a seguinte: como uma empresa como a Sabesp, com tanta rentabilidade no mercado e com investimentos bilionários em saneamento básico, não reduziu, nos últimos anos, a dependência do Sistema Cantareira? 
            O presidente do Sintaema (Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo), Rene Vicente dos Santos, avaliou que a Sabesp tem investido maciçamente no crescimento do número de clientes, com o objetivo de ampliar o lucro com serviços de distribuição de água e tratamento de esgoto, deixando de lado novas tecnologias.
Ele apontou, por exemplo, que a Sabesp mantém tubulações que datam de 30 anos, e que ainda perde 25% da água que produz. Ou seja: a empresa ainda assiste à perda de 25% de receita, apesar dos investimentos feitos para melhorar essa situação.
            “A Sabesp tem investido nos últimos anos na ampliação da rede, mas a primeira coisa que faz com o lucro é garantir a rentabilidade dos acionistas. Ela aplica em melhorias, mas prefere direcionar os investimentos para onde consiga mais arrecadação ao final do processo – ampliação e rede, captação e tratamento de esgoto”, ponderou.
            Poucas opções para driblar a falta d’água
            Já na avaliação de Ricardo de Sousa Moretti, professor da pós-graduação em Planejamento de Gestão de Territórios da Universidade Federal do ABC, “o lucro da Sabesp indica que ela poderia ter feito um investimento muito maior em saneamento básico”, não só em volume de recursos, mas em aproveitamento de estudos e metas elaborados há pelo menos uma década, que apontam ser emergencial a busca por novas fontes de água para São Paulo.
Segundo Moretti, a Sabesp desenvolveu uma política voltada para lucros obtidos com a construção de grandes obras, como estações de tratamento – hoje, são mais de 214 espalhadas pelo Estado – “mas esqueceu que para funcionar, é preciso ter um sistema capilar eficiente, que leve água [da estação de tratamento] até em casa do cliente a partir do sistema arterial, que são as redes coletoras. Essa parte arterial não foi feita. Temos estações prontas, mas o esgoto não chega nelas. Ou seja, a Sabesp criou uma política insana, de grandes obras de engenharias, e não de gestão de águas”, criticou.
            A “política insana” da Sabesp, ainda de acordo com Moretti, também implica na condução de águas sujas a mananciais que servem de reservatório para a Grande São Paulo. Caso da Bacia da Billings, que recebe água que lava a região do rio Pinheiros quando há enchentes. O professor destacou que embora a Sabesp retire mais águas do braço Rio Grande para suprir a demanda do Cantareira, a represa situada na região do Grande ABC já trabalha perto de sua capacidade máxima. “O certo seria ter construído mais estações de tratamento no local, mas isso não foi feito”, lembrou.
            “Uso da Billings é improviso ao sabor da crise”
            O coordenador do Grupo de Trabalho de Meio Ambiente do Consórcio Intermunicipal Grande ABC, João Ricardo Guimarães, classificou o anúncio de Alckmin sobre o uso da Billings como “improviso de soluções”. “Se isso era possível [usar a Billings para diminuir a dependência do Cantareira], por que não foi planejado e preparado há alguns anos? Por que o reservatório da Billings não abastece um número maior de pessoas há mais tempo? Por que fazer isso agora, ao sabor da crise?”, indagou.
            Para os especialistas, o governo Alckmin só tem duas alternativas para evitar uma crise no fornecimento de água após a Copa do Mundo. A primeira é rezar para que chova acima do patamar comum aos próximos meses, de modo que os reservatórios do Cantareira ganhem fôlego. A segunda é transferir águas da bacia do Rio Paraíba do Sul, de gestão federal, para contemplar a demanda paulista. Uma tarefa difícil, já que o governo do Rio sinalizou que a iniciativa pode comprometer o abastecimento de 10 milhões de pessoas só na Capital.
Fonte: Jornal GGN
http://csbbrasil.org.br/

(visite os blogues construindopiaget.blogspot.com.br)

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

HISTÓRIA GERAL E DO BRASIL PARA TODOS III

Autor: PROF. EDUARDO JORGE C. SIMÕES

Co-autores: Bianca Francine Correa da Silva
                   João Marcus Antunes Tavares
                   Marcus Vinicius Gomes Barbosa
                   Willians Campos Duart

História é texto. Uma imagem fixa (foto, quadro, gravura) nada nos diz sobre os movimentos e ações que antecederam ao estado que ela nos apresenta, e que o determinaram. Um filme pode até mostrar um fato se desenrolando, mas nunca os interesses que o determinaram. Só o texto, escrito ou oral, pode fazer justiça à história e torná-la história.


CAPÍTULO - 3

IDADE MÉDIA (476 - 1453?)

REINOS BÁRBAROS (séc. V e VII)

         Além da fronteira do Império Romano com havia uma região pouco conhecida, que os romanos chamavam Germânia, e que englobava as terras da atual Alemanha, Dinamarca, Polônia, etc., onde vivia um conjunto de povos culturalmente aparentados, que passaram à história com o nome de germânicos. A cultura deles diferenciava-se tanto da dos romanos como da dos povos que viviam na Europa Ocidental, os celtas.
         Depois de lutas duríssimas contra os germanos, inclusive com o massacre de três legiões no tempo de Otávio Augusto, os romanos optaram por uma convivência pacífica e uma política de contenção, levantando uma extensa muralha em torno da fronteira com a Germânia, por onde as duas culturas, a celta-romana e a germânica, travavam intenso e proveitoso comércio de mercadorias e culturas.
         Gradualmente os romanos foram assimilando os germânicos, e vice-versa, admitindo-os inclusive como soldados e generais no exército, permitindo que algumas tribos se instalassem em terras do império. Mas nem assim houve paz na fronteira, pois à medida que a população da Germânia aumentava ou experimentava a chegada de um novo povo, em geral vindo do Oriente, ia um povo empurrando o outro, na direção do Ocidente, num "efeito dominó", que fazia ruir as defesas romanas. As legiões tinham que se desdobrar para impedir a invasão geral do Império.
         Na virada do ano de 406, porém, as fronteiras arrebentaram de vez. Empurrados pelos hunos, que vinham do Oriente, diversos povos germânicos atiraram-se contra a fronteira, invadindo o Império, e, embora fossem poucos e mal equipados, avançaram, saqueando uma cidade atrás da outra, sem que nenhuma legião se mexesse. A crise política-econômica crônica levara Roma a uma crise de identidade fatal. Ninguém esperava mais nada de bom da parte de Roma.
         A invasão do primeiro grupo de povos germânicos serviu de chamariz aos outros que povos que, abandonando suas terras na Germânia, se atiraram contras as terras do Império, numa espécie de "corrida do ouro", ávidos por saquear as cidades mais ricas e ocupar as melhores terras. Atrás deles vinham os terríveis hunos, um grupo de povos asiáticos de cultura turco-mongol, sobre os quais se contavam as mais terríveis histórias, e que, após serem vencidos por romanos e germânicos, se estabeleceram na Europa Central.
         Entre os povos que invadiram o Império Romano do Ocidente vale destacar:
a) Suevos, que se estabeleceram no nordeste da Península Ibérica, sendo um dos formadores da matriz cultural do povo português.
b) os visigodos, que, após tomarem Roma em 410, criaram um vasto reino que englobava o centro sul da França e toda Península Ibérica - os visigodos também tiveram importante papel na formação da etnia portuguesa.
c) Vândalos, se destacaram por ser o único povo germânico a manter uma frota de navios e pelo pior saque que Roma sofreu, em 455 (o termo "vandalismo" significa violência e desordem em quase todas as línguas ocidentais) – dizem as crônicas que no momento Roma era saqueada pelos eles, a população surpreendeu o imperador nas ruas, tentando fugir, e o linchou.
d) Francos, que invadiram o norte da França, e, após expulsarem os visigodos para a Península Ibérica, fundaram o mais poderoso reino bárbaro do Ocidente.
d) Anglos e Saxões, que foram dois povos germânicos que invadiram a Inglaterra e formaram a matriz étnica do povo inglês.
         Entre as consequências dessas invasões podemos citar:
a) Destruição do Império Romano, pela incapacidade dos invasores de manterem as suas complexas instituições, embora tenham tentado.
b) Substituição da matriz cultural greco-romana, na Europa Ocidental, por outra que incluía tanto a matriz greco-romana como elementos germânicos.
c) Ruralização da Europa, pois as cidades eram o principal alvo de invasores sedentos por saques, e ninguém queria mais morar nelas - para se ter uma ideia, no século IX, Roma, que já possuíra perto de um milhão de habitantes se tornara uma vila com uns 10 mil habitantes.
d) Fim do comércio e das atividades manufatureiras em larga escala, agravada pelo fim da circulação de moedas.
e) Destruição da formidável infraestrutura romana, como o sistema de estradas, portos, aquedutos, etc., além de um patrimônio cultural imenso que se perdeu definitivamente.
f) Retorno do principal centro de produção de riquezas para o Oriente, na região da Ásia Menor, graças ao Império Bizantino, o herdeiro político de Roma.
Etc.
         O cristianismo romano também sofreu consequências, pois alguns povos germânicos haviam sido cristianizados por missionários que defendiam uma doutrina diferente da aceita em Roma, e por isso haviam fugido do Império, onde eram considerados hereges, ou seja, quem diverge da posição majoritária em uma igreja, para a Germânia. Os visigodos e os ostrogodos, que invadiram Roma, eram arianos, e começaram a perseguir a Igreja.

Os Costumes Germânicos Antigos
         O historiador romanoTácito, em seu livro Germania, faz a defesa dos costumes germânicos como moralmente "superiores" aos dos romanos, tendo como parâmetro os costumes da elite romana, que eram péssimos, e as poucas informações que obtivera sobre esses povos de viajantes criativos e imaginosos, a maioria falsa. A verdadeira feição das sociedades germânicas apareceu quando eles dominaram a Europa, e o que se viu foi bem diferente.
         Os germânicos, como gregos e romanos, se reuniam em assembleias, mas diferente destes, suas assembleias não tinham lugar certo de reunião nem eram permanentes. Na verdade eram encontros esporádicos de chefes de clãs, e seus guarda-costas, que, em caso de muita controversia, podiam acabar em espalhafatosa e sangrenta pancadaria.
         Segundo: os germânicos possuíam escravidão doméstica, aparentemente mais branda que a escravidão comercial e em larga escala de gregos e romanos, mas também é verdade que estes estavam em adiantado estado de esvaziamento social e legal da escravidão no século V.
         Terceiro: o respeito às mulheres também era uma ficção. Entre os germanos vigorava a poligamia de direito ou de fato, quando o marido se juntava às suas escravas domésticas, na condição de amantes. A mulher casada que fosse pega em adultério era enforcada, e seu corpo jogado em um pântano, o homem, por sua vez era morto apenas se a amante já fosse casada.
         Uma das mais bizarras, para nós, instituições germânicas era o fato de o roubo ser punido com pena de morte, enquanto o assassinato era punido com uma multa, e assim, quando o clero romano tentou impor a proibição de divórcio entre os francos, os mais ricos logo acharam uma saída: mandavam estrangular a esposa, pagavam a multa correspondente, aceita sem problemas pela família da vítima, e assumiam a atual. As famílias ricas se tornaram ninhos de víboras.
         Também germânica era a instituição do "Juízo de Deus" ou "Ordálio", que obrigava duas pessoas que se contradiziam a resolver sua diferença pelo recurso às armas, através de um duelo, onde o perdedor era fatalmente culpado, sem falar de outras provas onde o acusado, para provar inocência, devia segurar em ferro candente ou mergulhar as mãos em água escaldante - havia a prova de jogar a acusada de adultério em um rio, com uma pedra amarrada, com a obrigação de flutuar para provar sua inocência. Em relação às bruxas, requeria-se o contrário.

O Reino dos Francos
         Havia, na Europa, uma instituição, a Igreja Católica, que tentava a todo custo preservar a cultura romana a despeito da nova ordem implantada pela chegada dos povos germânicos, cujos maiorais também tentavam reviver essa cultura, pelo menos no plano político-econômico, para dela tirar proveito, mas a tarefa não era simples, afinal a Igreja era uma instituição desarmada, pregando a paz e o entendimento, onde o que valia era a lei do mais forte.
         Habilmente, bispos e religiosos católicos se aproximaram dos reis bárbaros, cuja posição, na realidade, era frágil e provisória, oferecendo-lhes sua cultura letrada para o aprimoramento e enriquecimento do reino, principalmente porque entre os germânicos a lealdade a um chefe era circunstancial, só valia enquanto houvesse vantagens financeiras. Além disso, só um rei forte poderia trazer um pouco de paz e segurança naquele ambiente conturbado, algo indispensável para a catequese da Igreja.
         Essa estratégia conseguiu uma grande vitória em 496, quando, Clóvis, o rei do mais poderoso povo germânico da época, os francos, se converteu ao catolicismo, e, junto com seus sucessores, deu todo apoio material e militar à igreja de Roma, recebendo em troca, o apoio de uma legião de homens eruditos que lhes possibilitaram dominar e administrar com sucesso quase todo território da atual França. Noventa anos depois, Recaredo, o rei dos visigodos, o segundo povo germânico mais poderoso do Ocidente, se torna católico.
         O apoio dos francos foi vital para o catolicismo não ser varrido do mapa da Europa, pois foram os seus soberanos que acudiram o Papa quando a Itália foi invadida por um povo germânico, os lombardos, e foram também os francos que impediram, com uma vitória decisiva em Poitiers, perto de Paris, a invasão da Europa pelos árabes muçulmanos, o que teria comprometido a sobrevivência do cristianismo ocidental.
         No Natal de 800, o Papa Leão III, corou ao rei dos francos, Carlos, em Roma, estreitando ainda mais os laços que ligavam a Igreja a esse povo. Carlos, que assumiu o governo sobre os francos em 768, e seguirá reinando até a sua morte, em 814, será tão bem sucedido, que passará à história tradicional com o nome Carlos Magno, e seu reinado será notável pelas seguintes razões:
         a) Uma série de campanhas militares bem-sucedidas ampliará o domínio dos francos nos territórios da atual Alemanha e Áustria, conterá a invasão lombarda ao centro da Itália e criará uma zona de influência franca no norte da Espanha, embora ali ele tenha sofrido uma derrota famosa na batalha de Roncesvalles, que se tornou tema de lendas e canções.
b) Intervenções na economia normatizará a composição da moeda, estabelecendo os regras da contabilidade pública e controle do preço de produtos básicos.
c) Investimentos massivos na educação e na cultura farão que o seu reinado seja conhecido como Renascença Carolíngia, atraindo para a sua corte vários intelectuais brilhantes, vindos de toda parte da Europa, como o anglo-saxão (inglês) Alcuíno, o lombardo Paulo Diácono, o franco Eginardo, etc., sem falar de uma reforma ortográfica e o estímulo à produção artística e cultural nos mosteiros.
d) Uma comissão de fiscais, os missi dominici, ficavam de olho nos condes, nobres que haviam sido beneficiados com o governo de partes do reino, para velar pela qualidade da administração - os missi dominici agiam sempre em dupla, sendo que um deles era um funcionário comum e o outro um padre.
Etc.
         Entretanto, Carlos e os seus sucessores, chamados de carolíngios, mantiveram o costume dos governantes bárbaro-germânicos de considerar o seu reino como se fosse uma propriedade privada, podendo dividi-lo entre os seus descendentes, como quem divide, hoje, uma propriedade rural por emio de um testamento. Assim, quando o rei Luis o Piedoso, filho de Carlos Magno, morreu, seus três netos resolveram repartir entre si o reino construído pelo bisavô, no chamado Tratado de Verdun, em 843.
         Esse tratado destruiu em definitivo o Império Franco-Carolíngio, e determinou, junto a outros acontecimentos, a fragmentação política da Europa Ocidental, que predominará durante a maior parte da Idade Média

A Questão do Patrimonialismo
         O patrimonialismo é um termo criado pelo sociólogo alemão Max Weber (1864-1920), para designar aquelas lideranças que não conseguem distinguir entre a sua propriedade, ou patrimônio, e o que é propriedade pública, propriedade do Estado, adquirida com o dinheiro dos impostos que o povo paga.
         Hoje em dia, se o presidente do Brasil, ou da maioria dos países do mundo, quiser se desfazer de algum bem público, por mais simples que seja, deve obter a autorização de um órgão encarregado só para isso, com base em regras estritas, e às vezes, se for um patrimônio muito grande, como uma empresa pública, é necessário que ele obtenha licença do Congresso Nacional, que deverá também determinará as condições mínimas para a venda da empresa.
         Agora, em hipótese alguma o presidente, ou quem quer que seja, poderá doar um pedaço do território nacional para um poder estrangeiro, passando a fazer parte de outro país - um estrangeiro pode comprar terras no Brasil, mas ele deverá se submeter às leis de nosso país, pois sua terra continua a fazer parte do território nacional.
         Não era assim que entendiam os antigos reis bárbaros-germânicos, que usavam do dinheiro arrecadado em impostos como bem entendiam, inclusive comprando coisa para uso pessoal, assim como doavam a estrangeiros pedaços de seu reino. O Estado era, para eles, a continuação de sua casa.
         Essa postura é visível no Brasil, quando um governador, por exemplo, usa da polícia ou de qualquer órgão do estado para pressionar alguém, contra quem ele tenha uma rixa pessoal, como aconteceu com frequência num período de nossa história, chamado de Primeira República ou República das Oligarquias.
        
Os bárbaros em Portugal
         Em 411, os povos bárbaros que haviam irrompido no Império Romano no último dia de 406, chegaram ao território português. Entre eles estavam os suevos, que, segundo uma testemunha ocular, logo se converteram ao catolicismo - eram pagãos - começaram a se dedicar à agricultura e entraram em acordo com os moradores locais, formando um reino estável, que abrangia a Galiza, região que abarcava o noroeste da Espanha e norte de Portugal, tendo como sede a cidade portuguesa de Braga.
         Posteriormente, em 416, os visigodos chegaram à Península, com uma missão dada pelos imperadores romanos de acabar com os remanescentes dessa invasão. Os suevos, porém, lhes impuseram uma tenaz resistência, sendo vencidos em 585, quando o Império Romano nem existia mais, sendo então absorvidos pelo Reino Visigodo, que substituía a Roma no controle da região.
         A princípio houve conflito entre os visigodos, que eram arianos, e os hispano-romanos, que eram católicos, sendo, inclusive, proibido o casamento entre eles, até que o rei dos visigodos se converte ao catolicismo e chega a um acordo, onde, teoricamente, todos são submetidos a uma mesma lei: o Código Visigótico, com todas aquelas características típicas das leis germânicas, a lei do talião e multa para todos os lados - a princípio os hispano-romanos seguiam a legislação romana e os visigodos os costumes germânicos.         
         Na prática pouca coisa mudou exceto pelo fato de a vida cultural, como um todo, sofrer um acentuado declínio, em virtude do caráter estritamente guerreiro da sociedade visigótica, como também sofreu a economia, uma vez que os visigodos dividiram as terras segundo critérios raciais, ficando com a maior e melhor parte, embora eles nada entendessem de agricultura. Em termos políticos aconteceu o mesmo que acontecia nos outros reinos bárbaros: muita luta interna, brigas de família, traições e instabilidade


O IMPÉRIO BIZANTINO

         Quando o imperador Teodósio dividiu o Império Romano entre seus dois filhos, em 395, estava criando, sem o saber, um novo império, que prolongaria por mais mil anos a existência da civilização greco-romana, com algumas modificações que acentuariam ainda mais a cultura grega, misturadas com um forte elemento importado do oriente: o cristianismo. Este Império passou à história com o nome de Império Bizantino, ou Bizâncio, numa referência à sua capital Constantinopla, também chamada de Bizâncio.
         No final do século V, o Império Bizantino, que englobava a atual Turquia, Síria, Palestina, Egito e Líbia, seguia muito bem, acumulando riquezas, tendo se tornado a única potência consistente às margens do Mediterrâneo. Seus imperadores ficaram preocupados com o que acontecia em Roma, mas como a situação da Itália era confusa e o custo de uma intervenção militar elevado, sem falar que eles estavam sob o ataque povos numerosos e aguerridos: os eslavos, bárbaros de cultura diferente dos germânicos, e que compõem hoje as populações de Polônia, Rússia, Sérvia, etc., os bizantinos preferiram esperar uma oportunidade melhor.
         Essa oportunidade apareceu em 535, quando o imperador Justiniano mandou um exército para retomar a Itália dos bárbaros ostrogodos, o que só foi possível após uma guerra de 20 anos, tão destrutiva que os italianos ficaram sem saber se agradeciam ou amaldiçoavam os seus "libertadores"! E mesmo sem ter conquistado toda Itália, muitas terras foram perdidas quando uma nova leva de povo germânico, os lombardos, tomou a maioria dos territórios conquistados pelos bizantinos, que ficaram restritos ao sul da Itália.
         Desde o início, portanto, houve muita hostilidade a civilização romano-germânica, com sede em Roma, e a romano-grega, com sede em Constantinopla, e as razões foram as seguintes:
a) A ambição de papas e imperadores em dominar ou controlar doutrinariamente a porção oposta do antigo Império Romano.
b) Os bizantinos se tornavam cada vez mais gregos e orientalizantes, abandonando a herança latina, ocidentalizante, que Roma se esforçava por manter.
d) Os bizantinos eram cristãos fervorosos, e sendo Bizâncio a sede de um império poderoso, ao contrário da decadente Roma, eles não viam porque seus bispos deviam se submeter ao Bispo de Roma, o Papa, sem mais. Os imperadores bizantinos tentaram interferir, inclusive pela violência, na Igreja de Roma – papas foram presos e até assassinados. Para contrabalançar esse poder, os papas vão se apoiar nos reis francos, recém-convertidos por seus missionários.
         A ruptura entre o cristianismo bizantino e romano veio em etapas. Em primeiro lugar houve o sério conflito das imagens, quando o imperador Leão III, em 730, e o imperador Leão V, em 814, levaram adiante um vigoroso programa de extinção ao culto de imagens, no cristianismo, chamado de Movimento Iconoclasta (= quebra-imagem; o termo vem de um tipo de imagem de santo bizantina chamada ícone), não só para ganhar a simpatia do povo, que era influenciado pelos islâmicos, que não admitem as imagens, como para combater o excesso de poder econômico dos grandes mosteiros - comunidades de religiosos - que possuíam muitas terras e regalias, como isenção de impostos. O resultado dessas intervenções, que fracassaram, foi a destruição de um riquíssimo patrimônio cultural-religioso e um estremecimento na relação com os papas e o Ocidente.     
         Em segundo lugar, aconteceu, em 1054, uma disputa entre os enviados do Papa a Constantinopla e o patriarca local, recém-eleito, sobre quem detinha mais autoridade - um patriarca é um bispo que dirige uma diocese especial, fundada por um apóstolo. Uma questão sem importância, mas que conduzida com intolerância e inabilidade por ambas as partes, acabou redundando na separação definitiva entre os cristãos do Oriente e os do Ocidente.  A igreja oriental, com sede em Constantinopla, se tornou a Igreja Católica Apostólica Ortodoxa, e a ocidental tornou-se a Igreja Católica Apostólica Romana, e esse evento da separação das duas igrejas é chamado, pelos ocidentais, de Grande Cisma do Oriente.
         A partir do Grande Cisma, o destino das duas Igrejas e das duas civilizações, a Cristã Ocidental e a Cristã Oriental ou Bizantina, se fez de forma independente, quando não mutuamente hostil, como aconteceu com as muitas guerras travadas entre Bizâncio e cidades italianas, e no ataque a Constantinopla pela Cruzada de 1204, até o fim do Império Bizantino nas mãos dos turcos otomanos, de religião islâmica, em 1453.
        
A Herança de Bizâncio
         Os bizantinos eram cristãos apaixonados, que por qualquer razão e em qualquer lugar, iniciavam calorosos debates sobre assuntos religiosos muito abstratos como a natureza da Santíssima Trindade ou a adequação de um termo técnico usado na teologia. Isso desestabilizava um pouco o cerne de sua civilização, que era fruto de um compromisso entre a Igreja, dominada pelos patriarcas e bispos orientais, e o imperador, mas também mostrava uma coisa importante: o altíssimo nível da educação do povo. E não era só isso: as mulheres também tinham acesso a essa educação.
         A consequência de tanta discussão foi, além do aparecimento de várias heresias, um apego apaixonado pela tradição, fazendo com que a sua religião se tornasse estática, assumindo um literalismo bíblico acanhado, enquanto rejeitava toda tentativa de renovação de antigas crenças. No plano espiritual os ortodoxos sobrevalorizam a vida mística de quem vive isolado, orando, distante das coisas do mundo.
         A eficiência da administração pública, criada pelos antigos romanos, é gabada por muitos como uma das responsáveis pela duração do império: mais de mil anos, apesar da incapacidade de muitos imperadores, que além de reivindicarem um poder absoluto, eram escolhidos por um sistema que estimulava as tramas de bastidores, a corrupção e a violência.
         A excepcional posição geográfica de Bizâncio, aliada a uma administração pública eficaz e a defesa das empresas locais, permitiu que o império acumulasse um volume enorme de riquezas por meio do comércio e do seu artesanato de luxo, em especial da seda, famosa em todo mundo.
         Mas a economia bizantina tinha um ponto fraco, e justo na sua atividade mais importante: a agricultura, cuja produtividade era afetada pela questão da propriedade, marcada pela forma insidiosa e violenta como os grandes proprietários leigos e mosteiros se apropriavam da terra dos pequenos camponeses, deixando-os na pobreza, eles que eram a maioria da população. Descontente e sobrecarregada de impostos, essa gente vai receber os árabes, e a sua nova religião, como libertadores.
         Presos ao sobrenatural e a uma cultura da opulência, boa parte da riqueza gerada pela economia foi gasta na construção e no embelezamento de palácios, igrejas e conventos, criando uma arte religiosa original e de altíssimo nível, da qual, infelizmente, pouca coisa sobrou, seja pela destruição pelos iconoclastas seja pelos conquistadores islâmicos. Mas o que sobrou impressiona. Desse período restou um monumento colossal e incrível: a igreja catedral de Santa Sofia (sofia, em grego, quer dizer "sabedoria"), em Constantinopla, construída em 360, que ainda hoje maravilha, apesar da destruição e modificações sofridas nos últimos 500 anos.
        
O Cesaropapismo
         É o nome que alguns dão à relação que havia entre Igreja e Imperador no período bizantino. Uma relação de favores mútuos, que ligava intimamente um a outro.
         Os membros da Igreja, bispos e padres, assumiam a defesa intransigente do imperador, associando-o à vontade de Deus, ensinando ao povo uma obediência irrestrita às ordens do governante, uma vez que elas representavam a "vontade de Deus", e em troca o imperador dava vantagens materiais aos membros do clero, inclusive isenção de impostos, facilitando a propagação da mensagem religiosa.
         O resultado é que algumas instituições ligadas à Igreja, como conventos, mosteiros e dioceses, ficaram muito ricas, despertando a cobiça de imperadores, enquanto afastava da Igreja a maior parte da população, que passava a vê-la como instrumento de opressão. Não é de admirar que o surgimento do islamismo, socialmente menos injusto na fronteira do Império, tenha provocado uma rápida adesão dos seus habitantes, acelerando a sua decadência.
        O cesaropapismo também existiu no Ocidente, quando os papas tentaram controlar a política do Império Franco, e, principalmente, nas relações entre eles e os imperadores do Sacro Império Romano Germânico, de que falaremos mais tarde, embora de uma forma menos acentuada, em virtude da mentalidade ocidental não se acomodar bem a essa "mistura".

Corpus Iuris Civilis            
         A realização mais famosa do imperador bizantino Justiniano foi reunião de dezenas de juristas, para a elaboração de uma obra de direito monumental chamada Corpus Iuris Civilis, Corpo de Direito Civil, resgatando boa parte daquilo que é considerado um dos principais legados da Civilização Romana ao mundo: a sistematização do direito.
         Embora a obra se disponha a organizar as normas de direito romano a partir do imperador Adriano em diante, aproximadamente de 117 até 565, os comentários feitos a essas leis são baseados em muitas leis e costumes bem mais antigos. O Corpus estava dividido nas seguintes partes;
         a) O Codex Justinianus, de 529, que faz uma organização das leis ou constituições que regularam o governo do Império Romano até ele. Eram 12 livros, e neles estavam contidas determinações como as que previam a liberdade do escravo após 20 anos de trabalho e a da igualdade entre as pessoas perante a lei. A parte penal foi abrandada. O Codex fazia do imperador a única fonte do direito.
         b) O Digesto ou Pandectas, de 533, uma coleção de 50 volumes contendo anotações e comentários de afamados juristas familiarizados ocm o antigo direito romano; seu desejo era lei.
         c) Instituições ou Institutas, de 534, num total de quatro livros, compunham uma espécie de manual de estudantes de direito, feitos para familiarizá-los com tão vasta tradição.
         d) Novelas, a partir de 534, era o conjunto das novas leis, derivadas das mudanças inevitáveis experimentadas pela evolução da sociedade. Essa parte foi enriquecida por vários imperadores bizantinos nos século seguintes.
         O Corpus Iuris não foi uma obra popular: no Oriente houve o problema dele ter sido escrito em latim para um povo que só falava grego. No Ocidente teve a desvantagem de se referir a uma realidade que não existia mais: um império ou estado organizado o bastante para fazer valer leis tão complexas, sem falar que era uma obra imensa – a sua última edição teve 60 volumes - em um mundo onde a maioria esmagadora da população era analfabeta e o livro um artigo de luxo... de muito luxo.

A CIVILIZAÇÃO ISLÂMICA

         A Península da Arábia, uma região seca e estéril, composta por desertos de areia, com temperaturas elevadas, era ocupada desde tempos imemoriais, por povos nômades, tornando-se, inclusive, a região de origem dos povos de língua e cultura semita.
         Povos irrequietos, organizados em tribos, que se dividiam em dois grandes grupos: os que moravam em cidades e faziam fortuna como intermediários entre o rico comércio do Oriente com o Oriente Próximo; e os que viviam como pastores nômades, nas regiões interiores, mas que não perdiam a oportunidade de atacar uma expedição de comerciantes - as mercadorias eram transportadas no lombo de camelos formando uma caravana - ou mesmo o rebanho de uma tribo inimiga. Uma sociedade dura, viril, que valorizava a guerra, e o roubo, justificado por estarem sempre a um passo da extinção física, seja pela fome seja pela guerra. Você rouba porque já roubaram o seu.
         A família extensa ou clã, composta por parentes de sangue, parentes longínquos e agregados, formando uma tribo, à qual se devia lealdade absoluta, era a base da sociedade. Quem quisesse viver sozinho estaria com os dias contados. A vingança era a regra na resolução de conflitos, e a violência era crônica.
         Havia também a possibilidade da adoção de uma pessoa ou um grupo, por uma tribo maior, formando poderosas coligações. Uma das tribos mais poderosas, a dos coraichitas, graças à adoção de vários clãs e grupos, como os hachimitas, conseguira se apoderar da importante cidade comercial de Meca, onde estava o templo mais famoso da Arábia, chamado Caaba: uma estrutura em forma de cubo, onde estavam as inúmeras divindades das tribos árabes politeístas. Além destas havia comunidades de cristãos, judeus, e zoroástricos persas.
         No ano de 610, um rico comerciante hachimita de Meca, chamado Muhammed, começou a ter visões, onde lhe aparecia alguém, que ele acreditou ser o anjo Gabriel, que lhe anunciava uma missão: ser o anunciador da última e definitiva vontade de Deus, uma vez que os judeus teriam deturpado a mensagem original e os cristãos entenderam mal o anúncio de Jesus Cristo. A nova religião passou a se chamar Islã, que quer dizer: "submissão a Deus".
         Pregando um estrito monoteísmo, Mohammed e seus seguidores bateram de frente com os coraixitas, que ganhavam muito dinheiro e prestígio com o politeísmo local. A perseguição foi imediata e violenta, obrigando Mohammed e os seus seguidores a fugir para uma cidade próxima: Yatrib, em 622. Esse episódio, chamado Hégira (migração), em árabe, é tratado com toda deferência pelos islâmicos, e a data de sua ocorrência tornou-se o início, o marco zero, de seu calendário. Mais tarde a cidade de Iatrib será rebatizada de Medina, e é hoje um dos centros mais importantes da religião islâmica.
         Sua pregação em Medina, porém, atraiu mais seguidores ao Islã, e com o apoio de tribos cristãs e de elementos judeus, Mohammed partiu para a conquista de Meca, conseguida depois de renhidas batalhas, transformando-a no centro de sua religião, destruindo os ídolos que lá havia, preservando, no entanto, a Caaba. Mas, após conseguir o seu intento, ele deu um cheque mate nos seus aliados cristãos e judeus: ou se convertem ou vão embora. Rapidamente as tribos da Península Arábica se unem em torno da nova religião.
         Mohammed morre em 632, e seus seguidores continuaram, com ardor redobrado, a conquistar novas terras e povos para a sua religião. O primeiro a sentir o impacto foi o Império Bizantino, que, esgotado pelas guerras contínuas contra a Pérsia, rapidamente perdeu seus territórios na África e na Palestina - a própria capital, Constantinopla, foi cercada, mas salva por vitórias bizantinas em terra e mar, que detiveram o avanço árabe. A mesma sorte não teve o Império Persa, que caiu após uma breve campanha.
         O que sobrou de resíduos do Império Romano no norte da África foi levado de roldão, caindo um após o outro. Em 711 os árabes penetram na Europa pela Península Ibérica, destroem o decadente reino visigodo na Espanha e penetram na França. A Europa já estava a um passo de se tornar islâmica, quando os francos conseguiram derrotá-los numa batalha perto de Paris, obrigando-os a retornar à Espanha, estabelecendo uma fronteira estável. Mas nem assim os cristãos europeus respiraram aliviados: em 846, uma frota de piratas árabes atacou e saqueou os arredores de Roma, inclusive a basílica de São Pedro, morada dos papas.
         Mas foram as últimas grandes conquistas. O gigantismo e o espontaneísmo do império inviabilizavam a sua estabilidade pelas seguintes razões:
a) Como não havia uma regra sucessória definida – o mesmo mau de Roma e Bizâncio - estabeleceu-se na corte dos governantes árabes, chamados califas, uma luta pelo poder tal que logo degenerou em assassinatos, violências e divisões sectárias.
b) A abertura inicial da mensagem islâmica e a ausência de um clero organizado permitiram o aparecimento de diversas correntes, que se atacavam mutuamente - a divisão mais famosa e sangrenta foi a gerada pelo aparecimento de um grupo autointitulado xiítas, que conquistou os persas e manteve guerras contra a maioria, representada pelos árabes sunitas - árabes e persas têm cultura diferente.
Começaram a parecer “salvadores” e “profetas” por todos os lados, alguns fortemente armados, querendo direcionar o movimento. No norte da África, por exemplo, a população local, os berberes, que havia se convertido ao Islã, revoltou-se contra a discriminação da elite árabe, além da luta pelo domínio de rentáveis rotas comerciais, e começou uma enorme guerra civil, que enfraqueceu o ímpeto dos ataques contra a Europa Ocidental, etc. etc.
         As contradições originais da mensagem durante o processo de conquista do mundo, paralisando-o, pois uma de suas premissas era que os não islâmicos, os infiéis, pagariam a maior carga de impostos para sustentar o conforto aqui na terra dos fiéis. Mas como isso iria acontecer se todo mundo estava se convertendo, e não era correto cobrar tributo dos convertidos? A realidade cobrava o seu preço.

As crenças e Obrigações Básicas do Islã
         a) O islã é uma religião revelada, ou seja: os seus princípios foram dados diretamente pela divindade e não pelo raciocínio humano.
         b) O Corão, em árabe, "recitação", pois o conteúdo do livro deve ser recitado pelo fiel, de preferência sabido de cor, é o livro que contém essa revelação, que para os árabes foi feito por meio de um ditado de Deus a Mohammad, de sorte que o Corão venerado pelos islâmicos é uma cópia fiel de um que existe junto de Deus.
         c) Mohammad incitou os islamitas a serem tolerantes com cristãos e judeus, que são chamados de povos do livro, embora nem todos os islâmicos sigam essa recomendação.
         d) Os islâmicos guardam a sexta-feira na semana, ao contrário dos judeus, que guardam o sábado, e os cristãos, que guardam o domingo. Nesse dia eles se reúnem em um templo específico, a mesquita, marcada pela presença de uma torre lateral, o minarete, onde um homem, o muezim, convida os fiéis a rezar ou vir para o ofício religioso. No passado eles gritavam a plenos pulmões, hoje usam alto-falantes. Na mesquita, eles rezam, escutam a palavra do Corão e ouvem o comentário de algum estudioso. Na mesquita existe um local apontando corretamente na direção de Meca, para a qual todos devem se curvar durante as orações.
         e) Não existe um clero organizado, exceto entre os xiitas, onde são chamados de aiatolás; mas existem os ulemás, que são estudiosos leigos do Corão, muito respeitados nas sociedades islâmicas; os sufis, que se retiram para lugares isolados para viver experiências místicas, em irmandades; os marabus, que são pessoas de vida reclusa e muito piedosas.
         f) Existem cinco obrigações inarredáveis para qualquer fiel islâmico: proclamar a unicidade de Deus, conforme o texto do Corão, dizendo: "Só Alá é Deus e Mohammad o seu profeta"; pagar o dízimo, variável entre 2,5 e 20 % dos bens para ser dado como esmola e ajuda aos mais pobres; parar o que está fazendo e rezar cinco vezes ao dia com o rosto voltado para Meca; fazer uma peregrinação à Meca pelo menos uma vez na vida, se o indivíduo tiver recursos e saúde; jejuar e/ou cumprir obrigações diversas no mês do Ramadã.
         g) A questão da purificação ou impureza ritual é levada muito a sério, por isso abluções com água são recomendadas, além de se evitar certas substâncias como as secreções internas do corpo humano, em especial o sangue, além do contato com cadáveres.     
         É, enfim, uma religião que estimula muito a ação coletiva e atos concretos, correndo o risco de cair no ritualismo. É visceral e ardorosa na sua apresentação e em suas conclamações, muito de acordo com o temperamento dominante nos povos do oriente.

A Questão do Jihad
         O conceito de Jihad, que em árabe quer dizer literalmente “esforço”, mas que foi traduzido pelos ocidentais como Guerra Santa, tem gerado muita discussão.
         Segundo os estudiosos islâmicos, haveria o Grande Jihad, que seria a luta que o indivíduo trava contra suas más inclinações, em favor de seu autoaperfeiçoamento, e o Pequeno Jihad, que seria a luta travada contra os inimigos do Islã, que de forma alguma seria um dos pilares de sua religião.
         É verdade que o Corão recomenda, em diversos capítulos, a necessidade de travar também uma guerra física, contínua e implacável contra os “hipócritas”, dentro da comunidade islâmica, e os infiéis. Mas essa guerra, altamente meritória, deve ter sempre um caráter defensivo. O problema é que nos textos também se respira um clima contínuo de conspiração externa, de perigo de contaminação, por excesso de proximidade com quem não é crente, que deixa muita gente sugestionável vendo inimigos em todo lugar, gerando uma excitação contínua de sair do Grande Jihad para o Pequeno.
         Essa situação tendeu a se agravar com o tempo quando enormes grupos de povos, culturalmente muito diversos, se agregaram à comunidade islâmica, passando a interpretar o texto de acordo com a sua experiência cultural gerando diferentes compreensões do texto sagrado, como aconteceu com sunitas e xiitas, levando o Pequeno Jihad para dentro da própria comunidade de fiéis.

Auge e Decadência do Islamismo Antigo        
        
No seu auge, entre os séculos VIII e IX, a sociedade árabe-islâmica era a mais evoluída e sofisticada do mundo ocidental. Uma civilização urbana, letrada, sem miséria, governada por uma elite ávida por literatura de alto nível, por uma sabedoria sutil e humanista, que morava em palácios amplos, abertos, higiênicos, cercados por jardins e belas fontes, tendo o seu interior repleto de obras de arte, com destaque para tapetes e azulejos de uma beleza deslumbrante.
 Enquanto isso, na Europa bárbaro-cristã milhões viviam uma rotina de violência, miséria e desespero, com os pobres morando em choupanas miseráveis enquanto os ricos se trancafiavam em torres ora de madeira ora de pedra e cascalhos toscos, com o interior escuro, mofado e mal cheiroso, comendo junto com animais, enquanto se contaminavam com a sujeira onipresente. A rudeza e grosseria dos costumes eram simplesmente indescritíveis.
No ramo das ciências os árabes islâmicos deram contribuições incalculáveis ao desenvolvimento do conhecimento humano.
         a) Na química, embora eles começassem pela busca infrutífera da pedra filosofal da alquimia, descobriram substâncias e compostos úteis como o nitrato de prata, o salitre, o bórax, etc., além de descrever os processos de destilação, filtração e sublimação.
         b) Na matemática, eles aperfeiçoaram a geometria dos gregos e a aritmética dos indianos e aperfeiçoaram novas formas de raciocínio matemático, criando um novo ramo desta ciência, álgebra.
         c) Na arquitetura eles se dedicaram principalmente à construção de palácios e mesquitas, ornadas com versos do Corão, aproveitando-se da sinuosidade das letras de seu alfabeto, criando ambientes internos de uma beleza deslumbrante e um exterior suntuoso, mas sem ostentação.
         d) Foram os cientistas islâmicos que criaram a ótica, discorrendo sobre a natureza das lentas e sobre as características da luz.
         e) Eles foram grandes divulgadores, na Europa, da filosofia grega, em especial a de Aristóteles, que estava um tanto esquecida, em virtude da ampla difusão de Platão, feita pelo bispo Agostinho de Hipona, além de outros autores antigos, cuja memória fora riscada pela violência das invasões bárbaras. Entre os pensadores islâmicos destacam-se Al-Farabi, Avicena e Averroés.
         f) Na medicina eles desenvolveram vários remédios, aperfeiçoaram as intervenções, cirúrgicas, descreveram corretamente a causa e o tratamento de muitas doenças, além de defender o caráter psicossomático das doenças em geral – o paciente era visto como um todo – etc. Possuíam uma avançada noção de higiene e os seus hospitais se baseavam em princípios e normas, muitas das quais são aceitas até hoje.
         g) Na literatura islâmica, principalmente a de língua persa, a poesia atingiu níveis de excelência na forma, o naturalismo dos temas e elevação intelectual considerável. O poeta mais conhecido foi o persa Omar Kayian, Sadi e Hafiz Shirazi. Junto com as coisas de Deus, a mulher é a principal inspiradora dos mais belos poemas dessa fase.
         Lutando com paixão contra quem lhe resistia, os islâmicos acumularam muitos inimigos e guerras, que ajudavam a reduzir tanto o número de infiéis como de crentes, esgotando a elite fundadora, enquanto provocava mudanças e contradições no interior do mundo islâmico, agora um mosaico de culturas muito diferentes, com suas elites ansiosas por expandir seu poder político e econômico.
No seio da comunidade de fieis surgem, oposições e animosidades igualmente apaixonadas. Em 750, explode uma luta pelo poder no centro do Império Árabe, quando um grupo derrubou o califa da dinastia omíada, reinante em Damasco (Síria), e inaugurou outra dinastia chamada abássida, em Bagdá (Iraque), enquanto outros povos e tribos, todos islâmicos, mas não árabes, a se atiram contra estes, agora vistos como opressores, como aconteceu no norte da África entre árabes e berberes, no final do século X, sem falar das guerras sangrentas, a partir de 680, que tornaram xiitas e sunitas dois grupos inconciliáveis.
Todas essas dificuldades levaram alguns grupos radicais ou fundamentalistas da elite a assumir mais poder dentro da comunidade, pregando um rigorismo distante da flexibilidade mental e espiritual dos primeiros tempos, em nome pureza ritual e da segurança, que levariam as sociedades árabes à estagnação política econômica e social. A mulher deixa de ser a fonte de inspiração superior para se tornar uma fonte de pecados, o que justifica a sua segregação e o seu uso como instrumento de procriação a serviço do patriarca. O estudo crítico, objetivo, da natureza é abandonado, o conhecimento científico fica estagnado...
         Mas no início não era assim... Conta uma história que, indagado sobre qual seria a pessoa que ele mais amava, o profeta Mohammed teria respondido:
         - É Aisha – Aisha era sua terceira esposa.
         - E depois de Aisha, quem é? Tornaram a perguntar-lhe.
         - É Abu-Bakr, por ser o pai de Aisha.

Vocabulário

Canção de Rolando: foi um dos mais famosos poemas épicos medievais, de autoria desconhecida – sua versão mais completa possui 4002 versos, escrita em língua anglo-normanda, datando de 1070. Ele trata de uma expedição punitiva que Carlos Magno empreendeu, contra reis muçulmanos da Península Ibérica, que estavam atacando a outros reis muçulmanos dessa mesma península, mas que eram aliados de Carlos. A luta aí foi tão intensa que ele resolveu voltar para a França e aguardar nova oportunidade, na sua retirada, porém, a retaguarda de suas tropas foi atacada, aparentemente por bascos, inconformados com o crescimento do domínio franco no sul da França e Norte da Espanha. Essa batalha, acontecida em 15 de agosto de 778, em um lugar nos Montes Pirineus chamado Roncesvales, levou à morte de um sobrinho de Carlos Magno que comandava a retaguarda nessa ocasião. O seu nome Rolando ou Orlando. A batalha, apresentada como gigantesca no poema, não passou de uma escaramuça, mas a morte de Rolando deve ter causado tal comoção na corte, que o seu nome acabou virando o símbolo do heroísmo cavalheiresco, e uma meta para todo cavaleiro medieval que se prezasse.

Heresias: é o nome dado pelo clero católico às diversas correntes que não conseguiram impor seus pontos de vista, quanto à interpretação das lacunas teológicas ou dificuldades diversas deixadas pela pregação de Cristo ou pela destruição de documentos cristãos por conta das perseguições dos imperadores romanos. Quando um determinada linha se tornava a oficial, depois de muitos debates e até convocação de concílios, os membros das correntes vencidas eram convidados a aderir ao pensamento da maioria (a ortodoxia), se, no entanto, perseverassem na sua crença original (sua heterodoxia) eram então desligados da Igreja, excomungados, e tratados como hereges. As principais heresias dos primeiros séculos do cristianismo foram as seguintes:
a) Adocionismo: derivada de ambientes judaicos, essa corrente defendia que o homem Cristo era Filho de Deus só por adoção, o seu lado humano não compartilharia a natureza divina, estavam irremediavelmente separadas.
b) Arianismo: negava a divindade de Cristo, por conseguinte sua consubstancialidade com Deus, afirmando que ele era uma criatura, superior, muito antiga, criada especialmente por Deus, que se encarnara no homem Jesus de Nazaré. Deus por sua vez era um mistério insondável que jamais poderia ser revelado ao homem. O arianismo causou uma grande comoção na Igreja é vários personagens importantes o abraçaram, até que foi condenado oficialmente no Primeiro Concílio de Niceia (20 de maio a 19 de junho de 325). Para evitar as punições decorrentes desse concílio, vários sacerdotes que aderiram a essa heresia fugiram do Império Romano, e um deles foi o bispo Ulfilas, de ascendência romana, mas criado entre os godos, que para eles se dirigiu e a eles pregou o cristianismo segundo a sua concepção, com grande sucesso. Ulfilas também conseguiu traduzir a Bíblia para a língua goda e criou um alfabeto para a sua escrita. O alfabeto gótico.
c) Montanismo:

Hunos: esse povo, oriundo da Ásia Central, tem sido tradicionalmente associado aos nômades Xiongnu, uma poderosa coalizão de tribos nômades do norte da China e Mongólia, que deu muito trabalho aos imperadores chineses, até que estes conseguiram definitivamente enquadra-los a mantê-los longe de suas fronteiras. Acredita-se que um grupo mais ocidental deles se desgarrou do restante e se precipitou para oeste, até chegar bater de frente com as tribos que viviam próximo à fronteira oriental do decadente Império Romano. Por volta de 350 os hunos arrasaram o poderoso reino dos alanos, que existia na Rússia, e estes, em pânico, fugiram para o oeste. Mais tarde eles derrotaram os poderosos ostrogodos, mais a oeste, e esses se precipitaram sobre o Império, empurrando, por sua vez, outros povos, numa espécie de efeito dominó. Em 378, os visigodos, já instalados nas terras do Império, esmagam as legiões romanas em Adrianópolis, matando o imperador, no dia 9 de agosto, até que em 395, as sentinelas romanas dão alarme da chegada dos hunos. Eles, de fato, foram precedidos por toda sorte de boato alarmista, que os apresentavam como pouco mais que animais selvagens, furiosos, absolutamente isentos de compaixão. Entre os anos de 432 e 453, eles revolveram quase toda a Europa continental, pondo fogo em grandes cidades, e criando um fama de conquistadores impiedoso, até que seu principal líder, Átila, morreu de uma hemorragia nasal, uma doença que sempre lhe acometera, após uma noite de bebedeira, sufocado no próprio sangue.


(visite os blogues construindopiaget.blogspot.com.br  -  memoriaecritica...)