sábado, 11 de outubro de 2014

A CAMPANHA INÚTIL

Prof. Eduardo Simões

         Está em curso mais uma campanha da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo para combater o uso de drogas entre os jovens estudantes. Assisti a um resumo (que alguns chamam “release”) na Escola Antônio Payão, e imediatamente concluí: “não há nada de novo sob o sol”, e que tem gente, tinha logo que ser na Secretaria de Educação?, que nunca aprende.
         Mas por que eu afirmo que é uma campanha condenada ao fracasso? Porque ela cai de paraquedas, apenas para compensar a completa ausência dos conceitos de afetividade e socialização, vitais para o desenvolvimento de um ser humano, na Nova Proposta Curricular e na Senzala Eletrônica e Digital (SED). Durante trinta e tantas semanas os jovens são apenas máquinas de aprender ou escravos de metas burocráticas, e então, de repente, por conta da estação ou de interesses desconhecidos, lança-se uma campanha cheia de recursos tecnológicos e relatórios inúteis para compensar o descaso oficial, deixando o essencial fora.
         E qual é o essencial neste tema? É que o jovem drogado, como bem coloca o terapeuta Içami Tiba, e 100% de testemunhos de ex-drogados (que afirmam ter entrado no vício pelas mãos de amigos), não se conforma em ficar sozinho em sua bolha de desespero e autodestruição, ele está sempre ativo para trazer mais gente para o seu mundo, como naquele jogo da pirâmide, e por isso, segundo ainda o mesmo terapeuta, é inócua, dentro da escola, a distinção entre usuário e traficante.
         Para o jovem ainda não drogado, seu maior desafio é dizer “não”, muitas vezes a vários colegas, inclusive mais fortes, pois estes sempre ficam atrasados na escola, que as “autoridades” obrigam a ficar – como raposas colocadas dentro do granjeiro – sem parecer “c...” (a gente dizia “careta”), justo no momento em que o jovem está mais susceptível à opinião do grupo. Mas numa escola dominada pela Senzala Eletrônica e Digital, quem se preocupa com psicologia do desenvolvimento? Quem se preocupa com dinâmica de Grupo? Quem se preocupa com Afetividade? Quem se preocupa com Socialização?
         A verdade é que o único estudante que está numa bolha, isolado pelo próprio sistema, saturado de informações e práticas inúteis, é o aluno ainda não viciado. É este que deverá enfrentar sozinho as matilhas do tráfico, PHD em crime, impostas dentro daquilo que se não pode ser ainda o paraíso, pelo menos não deveria ser o inferno.

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