A
CAMPANHA INÚTIL
Prof.
Eduardo Simões
Está em curso mais uma campanha da
Secretaria de Educação do Estado de São Paulo para combater o uso de drogas
entre os jovens estudantes. Assisti a um resumo (que alguns chamam “release”)
na Escola Antônio Payão, e imediatamente concluí: “não há nada de novo sob o
sol”, e que tem gente, tinha logo que ser na Secretaria de Educação?, que nunca
aprende.
Mas por que eu afirmo que é uma
campanha condenada ao fracasso? Porque ela cai de paraquedas, apenas para
compensar a completa ausência dos conceitos de afetividade e socialização,
vitais para o desenvolvimento de um ser humano, na Nova Proposta Curricular e
na Senzala Eletrônica e Digital (SED). Durante trinta e tantas semanas os jovens
são apenas máquinas de aprender ou escravos de metas burocráticas, e então, de
repente, por conta da estação ou de interesses desconhecidos, lança-se uma
campanha cheia de recursos tecnológicos e relatórios inúteis para compensar o
descaso oficial, deixando o essencial fora.
E qual é o essencial neste tema? É que
o jovem drogado, como bem coloca o terapeuta Içami Tiba, e 100% de testemunhos
de ex-drogados (que afirmam ter entrado no vício pelas mãos de amigos), não se
conforma em ficar sozinho em sua bolha de desespero e autodestruição, ele está
sempre ativo para trazer mais gente para o seu mundo, como naquele jogo da
pirâmide, e por isso, segundo ainda o mesmo terapeuta, é inócua, dentro da
escola, a distinção entre usuário e traficante.
Para o jovem ainda não drogado, seu
maior desafio é dizer “não”, muitas vezes a vários colegas, inclusive mais fortes,
pois estes sempre ficam atrasados na escola, que as “autoridades” obrigam a
ficar – como raposas colocadas dentro do granjeiro – sem parecer “c...” (a
gente dizia “careta”), justo no momento em que o jovem está mais susceptível à
opinião do grupo. Mas numa escola dominada pela Senzala Eletrônica e Digital,
quem se preocupa com psicologia do desenvolvimento? Quem se preocupa com
dinâmica de Grupo? Quem se preocupa com Afetividade? Quem se preocupa com
Socialização?
A verdade é que o único estudante que
está numa bolha, isolado pelo próprio sistema, saturado de informações e
práticas inúteis, é o aluno ainda não viciado. É este que deverá enfrentar
sozinho as matilhas do tráfico, PHD em crime, impostas dentro daquilo que se
não pode ser ainda o paraíso, pelo menos não deveria ser o inferno.
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