A HORA DO ESPANTO
Prof Eduardo Simões
Enquanto a OMS
(Organização Mundial de Saúde), órgão da ONU, denuncia a pequena contribuição
dos países ricos no combate à epidemia do vírus ebola na África, o mundo é
surpreendido por uma coligação insólita de países latino-americanos, que, longe
de serem modelos de sociedades desenvolvidas para mundo, dão uma lição a este,
tomando à frente das iniciativas de luta contra o vírus. Na dianteira está
Cuba, associada aos países do projeto bolivariano: a ALBA (Aliança Bolivariana
Para os Povos da América), entre os quais se contam a Venezuela, em frangalhos,
de Maduro, e a Bolívia, ajeitada, de Morales.
O compromisso de Cuba
de mandar duas brigadas para e região da epidemia, e disponibilizar 4 mil
médicos voluntários, que já trabalham na África – nas mesmas condições
suspeitas que no Brasil? – não causa surpresa, a quem conhece a história
recente, e a importância da participação cubana na guerra pela independência de
Angola, onde o número de combatentes ilhéus chegou à dezenas de milhares, o
governo oculta o seu número exato, assim como o de cubanos mortos nesse
conflito.
Tudo bem, Cuba tem
algo a dizer e a fazer na África, assim como todos os povos da América Latina,
até como retorno pelo imenso número de africanos que ajudou a construir a
riqueza e a força das Américas, ou para compensar a indiferença do mundo
civilizado para com esse continente, mas é preciso fazê-lo de uma forma
correta, adequada, pois estamos lidando com um vírus muito mortal - as medidas
recentes tomadas pelos países desenvolvidos nos casos de contaminação no seu
solo, nos mostram o quanto essa doença é contagiosa e o quanto é caro e difícil
combatê-la com eficiência.
Aí surge a pergunta
mais urgente: esses países, Cuba e ALBA, estão prontos para travar esse
combate? Nesses países ninguém é louco de contestar o governo porque vai mandar
o seu filho para a África, sem mais, para satisfazer as exigências abstratas e
personalistas do ‘internacionalismo proletário’, seja para uma guerra sangrenta
seja para o combate meritório de uma doença. Nos países mais... “civilizados”,
isso não é possível, a família entra na justiça clamando por responsabilidade e
indenização e os eleitores massacrariam o governante na próxima eleição.
Como será, quando
centenas ou milhares de enfermeiros e médicos desses países começarem a
apresentar sintomas da doença? Serão trazidos de volta à sua pátria, para serem
tratados por sistemas de saúde, decerto melhores que os africanos, mas ainda
precários em relação ao tamanho do desafio? Se eles perderem o controle do
processo poderão criar uma área de contágio permanente do vírus no continente
americano. O que nós e os africanos ganhamos com isso? Outra opção é fingir-se
de morto e deixar seus nacionais morrerem, isolados na África. Quem seria louco
de contestar essa estratégia dentro desses países?
A questão do ebola é
muito séria, e não dá margem para jogo de cena ou o seu uso como propaganda
ideológica, projetos salvacionistas improvisados, alavancados no calor dos
debates e de interesses geopolíticos, por regimes carregados de problemas
internos, inclusive de como lidar com grandes bolsões de pobreza internos,
ainda incólumes. Nada deve ser improvisado ou omitido – logo nesses regimes que
não primam pela transparência – nem movido por heroísmo romântico, por mais
nobres que sejam os sentimentos.
P.S. Deu na imprensa, que o governo cubano
avisouaos voluntários, que se adoecerem serão deixados ao sabor da doença na África, e nesse caso o presidente de Cuba e a elite do Partido Comunista, se tivessem o mínimo de vergonha na cara, deveriam ser os primeiros a se apresentar a essas brigadas, mas nós sabemos quando eles farão isso... É a barbárie, a mais grotesca barbárie; uma propaganda forçada de um regime falido. Seja como for ao cubano comum é melhor começar a treinar sua vocação para herói, como foi nesses últimos 54 anos, e aos opositores do regime a sua prudência.
(visite o blogue construindopiaget.blogspot.com.br)
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