quinta-feira, 30 de outubro de 2014


A HORA DO ESPANTO

Prof Eduardo Simões

            Enquanto a OMS (Organização Mundial de Saúde), órgão da ONU, denuncia a pequena contribuição dos países ricos no combate à epidemia do vírus ebola na África, o mundo é surpreendido por uma coligação insólita de países latino-americanos, que, longe de serem modelos de sociedades desenvolvidas para mundo, dão uma lição a este, tomando à frente das iniciativas de luta contra o vírus. Na dianteira está Cuba, associada aos países do projeto bolivariano: a ALBA (Aliança Bolivariana Para os Povos da América), entre os quais se contam a Venezuela, em frangalhos, de Maduro, e a Bolívia, ajeitada, de Morales.
            O compromisso de Cuba de mandar duas brigadas para e região da epidemia, e disponibilizar 4 mil médicos voluntários, que já trabalham na África – nas mesmas condições suspeitas que no Brasil? – não causa surpresa, a quem conhece a história recente, e a importância da participação cubana na guerra pela independência de Angola, onde o número de combatentes ilhéus chegou à dezenas de milhares, o governo oculta o seu número exato, assim como o de cubanos mortos nesse conflito.
            Tudo bem, Cuba tem algo a dizer e a fazer na África, assim como todos os povos da América Latina, até como retorno pelo imenso número de africanos que ajudou a construir a riqueza e a força das Américas, ou para compensar a indiferença do mundo civilizado para com esse continente, mas é preciso fazê-lo de uma forma correta, adequada, pois estamos lidando com um vírus muito mortal - as medidas recentes tomadas pelos países desenvolvidos nos casos de contaminação no seu solo, nos mostram o quanto essa doença é contagiosa e o quanto é caro e difícil combatê-la com eficiência.
            Aí surge a pergunta mais urgente: esses países, Cuba e ALBA, estão prontos para travar esse combate? Nesses países ninguém é louco de contestar o governo porque vai mandar o seu filho para a África, sem mais, para satisfazer as exigências abstratas e personalistas do ‘internacionalismo proletário’, seja para uma guerra sangrenta seja para o combate meritório de uma doença. Nos países mais... “civilizados”, isso não é possível, a família entra na justiça clamando por responsabilidade e indenização e os eleitores massacrariam o governante na próxima eleição.
            Como será, quando centenas ou milhares de enfermeiros e médicos desses países começarem a apresentar sintomas da doença? Serão trazidos de volta à sua pátria, para serem tratados por sistemas de saúde, decerto melhores que os africanos, mas ainda precários em relação ao tamanho do desafio? Se eles perderem o controle do processo poderão criar uma área de contágio permanente do vírus no continente americano. O que nós e os africanos ganhamos com isso? Outra opção é fingir-se de morto e deixar seus nacionais morrerem, isolados na África. Quem seria louco de contestar essa estratégia dentro desses países?
            A questão do ebola é muito séria, e não dá margem para jogo de cena ou o seu uso como propaganda ideológica, projetos salvacionistas improvisados, alavancados no calor dos debates e de interesses geopolíticos, por regimes carregados de problemas internos, inclusive de como lidar com grandes bolsões de pobreza internos, ainda incólumes. Nada deve ser improvisado ou omitido – logo nesses regimes que não primam pela transparência – nem movido por heroísmo romântico, por mais nobres que sejam os sentimentos.
            P.S. Deu na imprensa, que o governo cubano avisou
aos voluntários, que se adoecerem serão deixados ao sabor da doença na África, e nesse caso o presidente de Cuba e a elite do Partido Comunista, se tivessem o mínimo de vergonha na cara, deveriam ser os primeiros a se apresentar a essas brigadas, mas nós sabemos quando eles farão isso... É a barbárie, a mais grotesca barbárie; uma propaganda forçada de um regime falido. Seja como for ao cubano comum é melhor começar a treinar sua vocação para herói, como foi nesses últimos 54 anos, e aos opositores do regime a sua prudência.

(visite o blogue construindopiaget.blogspot.com.br)

Nenhum comentário:

Postar um comentário