COMPULSÃO BUROCRÁTICA OU AFIRMAÇÃO DE PODER?
Prof Eduardo Simões
Na
escola estadual onde eu leciono, no bairro da Rocinha, Guaratinguetá,
solicitei, recentemente, um datashow para exibir um pequeno documentário a
propósito da matéria, sem falar que os alunos estavam a insistir que eu lhes
passasse alguma projeção. Eu, é claro, só passo algo que tenha a ver com a
matéria e que seja curto o bastante para não os dispersar. Estava certo que
obteria o velho datashow, porque todas as salas já estão equipadas com modernos
instrumentos de projeção, com home-theatre, e ninguém mais usava o velho
equipamento.
Para
minha surpresa, a pessoa na secretaria, seguindo as ordens da diretora, me
informou que eu não poderia pegar o datashow, guardado em um armário, porque eu
não havia solicitado com antecedência o uso da máquina. Eu estava em sala de
aula, ninguém estava usando ou pretendia usar da máquina, eu tinha um material
adequado para passar, e não pude usar do equipamento, porque não havia
preenchido um papel de controle, numa escola com cinco salas!
No dia
seguinte tentei novamente, desta vez com a diretora, e ela confirmou a ordem e me
deu os seguintes argumentos:
a) A
marcação prévia impede que dois professores busquem ao mesmo tempo a máquina.
Argumentei que eu entendia isso, e que se houvesse alguém à minha frente eu não
iria criar problemas a respeito – aliás, nunca houve qualquer disputa entre
professores a esse respeito desde que eu cheguei à escola, há três anos, menos
ainda agora, quando cada sala possui o seu equipamento!
b) Ela
então falou que, “quando era professora” sempre trazia suas aulas planejadas
semanalmente de casa, e certamente não se desviava um milímetro desse
planejamento. Para mim isso é a receita certa para uma aula chata e bitolada,
sem falar que eu não sou ela nem sou obrigado pela lei, ou pelo que quer que seja,
a dar aulas exatamente como ela. O que um argumento desses não revela hein! Falei
ainda que na minha área, história, é comum a gente passar horas no computador e
não conseguir encontrar nada adequado para os alunos e, algum dia, sem querer,
topar com um filme muito interessante e adaptado ao que se está vendo em sala. Perde-se
então uma oportunidade, só para seguir o que foi planejado na ausência desse
novo e precioso dado?
c) Ela disse ainda que tal controle era necessário porque havia professores usando de filmes para não dar aula. Eu argumentei que se isso acontecesse o mais razoável era saber quem eles eram e chamar a sua atenção, e não amarrar toda a equipe. Ela argumentou que já sabia quem eles eram e que já havia chamado a sua atenção (por conseguinte, a inscrição prévia torna-se inútil, a não ser que mais inútil ainda seja a sua reprimenda aos relapsos), e que ela sabia muito bem o que fazer. Ao que ela vive repetindo para mim, como se eu estivesse duvidando de sua capacidade. Pouco importa. O que me importa é a aprendizagem dos meus alunos e o meu compromisso de sempre ajudar à empresa onde eu trabalho, seja ela pública ou privada.
d) Argumentei ainda que o que me interessava era o velho datashow, que já me acostumara a manusear, e que eu sabia estar agora permanentemente livre, mas ela me disse que eu não poderia mais usar o datashow porque isso iria invalidar todo o investimento que a escola já fizera em modernos equipamentos de projeção. Ou seja: existe equipamento, existe motivação, existe necessidade, mas a gente não pode usar o equipamento para não parecer, não sei para quem, que o estado fizera um mau negócio em por equipamentos modernos em sala de aula! Noutras palavras: burocracia 1.000, afirmação de poder 1.000, pedagogia... zero!
c) Ela disse ainda que tal controle era necessário porque havia professores usando de filmes para não dar aula. Eu argumentei que se isso acontecesse o mais razoável era saber quem eles eram e chamar a sua atenção, e não amarrar toda a equipe. Ela argumentou que já sabia quem eles eram e que já havia chamado a sua atenção (por conseguinte, a inscrição prévia torna-se inútil, a não ser que mais inútil ainda seja a sua reprimenda aos relapsos), e que ela sabia muito bem o que fazer. Ao que ela vive repetindo para mim, como se eu estivesse duvidando de sua capacidade. Pouco importa. O que me importa é a aprendizagem dos meus alunos e o meu compromisso de sempre ajudar à empresa onde eu trabalho, seja ela pública ou privada.
d) Argumentei ainda que o que me interessava era o velho datashow, que já me acostumara a manusear, e que eu sabia estar agora permanentemente livre, mas ela me disse que eu não poderia mais usar o datashow porque isso iria invalidar todo o investimento que a escola já fizera em modernos equipamentos de projeção. Ou seja: existe equipamento, existe motivação, existe necessidade, mas a gente não pode usar o equipamento para não parecer, não sei para quem, que o estado fizera um mau negócio em por equipamentos modernos em sala de aula! Noutras palavras: burocracia 1.000, afirmação de poder 1.000, pedagogia... zero!
Ela por
fim disse que me faria uma concessão e mandaria gente para instalar o aparato
moderno para eu passar um vídeo. A pessoa foi, mas cadê que o sistema “moderno”
queria funcionar! Foram necessários mais de 25 minutos, metade da aula, de
tentativas para o engenho funcionar, e eu já com saudade dos cinco a sete minutos
que eu perdia até o velho datashow começar!
De que
adianta o governo gastar milhões dos impostos dos contribuintes, equipando ou
modernizando os equipamentos nas escolas se não consegue modernizar a
mentalidade dos gestores? De que adianta ter aparelhos de última geração nas
escolas se nestas há diretores ou diretoras que os utiliza para demarcar o seu
domínio territorial, afirmar a sua posição de chefe do pedaço? E o que é pior,
ou talvez até por isso, uma das coisas que mais depõem contra o professor, no
atual sistema de avaliação do Estado de São Paulo, é a sua pouca afinidade ou pouco
uso de tecnologia em suas aulas. Ou seja, você precisa usar da tecnologia na
escola, mas para ter acesso a ela precisa, antes, passar por um ritual de
submissão pré-histórico.
Nada
justifica essa medida da diretora, ainda mais porque a escola tem amargado, nos
anos em que ela esteve à frente, resultados medíocres no SARESP, e, portanto não
pode se dar ao luxo de ignorar momentos adequadamente didáticos por causa de
alguma suposta inadequação burocrática, desnecessária, inútil e prejudicial em
uma escola tão pequena. O que a minha escola, e todas as escolas de São Paulo
precisam é de pedagogia, pedagogia, pedagogia, mas só temos experimentado, nos últimos
anos, controle burocrático, esvaziamento, humilhações.
NÃO
HAVERÁ REVOLUÇÃO NA EDUCAÇÃO SEM PROFESSOR: TODA DIGNIDADE AOS PROFESSORES! E
que eles façam por merecê-la.
(visite o blogue construindopiaget.blogspot.com.br)
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