BRINCANDO
COM FOGO (I)
Prof
Eduardo Simões
A revista especializada BBC History
Brasil lançou um assunto polêmico em seu último número. No artigo intitulado a Lei da sobrevivência, a editora, Tatiana
Santos lembra o papel dos chefes tribais africanos no comércio de gente expulsa
daquele continente na condição de escravo, principalmente para o continente
americano.
Esse é, de fato, um tema tabu na nossa
historiografia, pelo menos naquela que escreve os livros que formarão as
cabeças das futuras gerações nas escolas, pois neles é regra comum ensinar que
toda a problemática escravista africana se prende apenas à ambição da burguesia
ocidental, de fato ambiciosa, e associada ao rei no processo de formação do
estado nacional, impondo de fora para dentro, com violência irresistível, o
estatuto da escravidão entre os africanos. Lembro-me até de um livro didático,
que tinha uma gravura de uma mulher africana, escondida com umas crianças,
observando europeus caçando gente no terreiro de sua aldeia.
Os fatos, porém, não corroboram esta
visão, e o que temos é que até o final do século XIX não era possível a
europeus devassar o interior do continente africano sem a autorização do chefe
local, e longe de fazer guerra indiscriminadamente contra povos africanos
resistentes, ocasionando grandes perdas e resultados incertos, que tornariam o
tráfico antieconômico, os europeus, até esse período preferiam negociar e
aplicar o velho preceito de “dividir para governar”, sem falar que mesmo depois
disso eles não puderam ignorar a dificuldade de controlar territórios na
África, haja vista o massacre de todo um regimento inglês, o melhor exército de
então, em Isandlwana, em 1879, pelos zulus, o massacre da guarnição de Cartum,
pelos sudaneses, em 1885, e muitos outros.
Diferente, porém, da editora não creio
que isso se deva à necessidade de ocultar o racismo da nossa população, mas
antes do desejo infantil de parecer politicamente correto, numa sociedade onde,
tradicionalmente, a originalidade e o pensamento crítico são temidos. Mas não
dá para ficar eternamente prisioneiro do medo, ainda que seja o de parecer
politicamente incorreto...
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