sábado, 11 de outubro de 2014

BRINCANDO COM FOGO (I)

Prof Eduardo Simões

         A revista especializada BBC History Brasil lançou um assunto polêmico em seu último número. No artigo intitulado a Lei da sobrevivência, a editora, Tatiana Santos lembra o papel dos chefes tribais africanos no comércio de gente expulsa daquele continente na condição de escravo, principalmente para o continente americano.
         Esse é, de fato, um tema tabu na nossa historiografia, pelo menos naquela que escreve os livros que formarão as cabeças das futuras gerações nas escolas, pois neles é regra comum ensinar que toda a problemática escravista africana se prende apenas à ambição da burguesia ocidental, de fato ambiciosa, e associada ao rei no processo de formação do estado nacional, impondo de fora para dentro, com violência irresistível, o estatuto da escravidão entre os africanos. Lembro-me até de um livro didático, que tinha uma gravura de uma mulher africana, escondida com umas crianças, observando europeus caçando gente no terreiro de sua aldeia.
         Os fatos, porém, não corroboram esta visão, e o que temos é que até o final do século XIX não era possível a europeus devassar o interior do continente africano sem a autorização do chefe local, e longe de fazer guerra indiscriminadamente contra povos africanos resistentes, ocasionando grandes perdas e resultados incertos, que tornariam o tráfico antieconômico, os europeus, até esse período preferiam negociar e aplicar o velho preceito de “dividir para governar”, sem falar que mesmo depois disso eles não puderam ignorar a dificuldade de controlar territórios na África, haja vista o massacre de todo um regimento inglês, o melhor exército de então, em Isandlwana, em 1879, pelos zulus, o massacre da guarnição de Cartum, pelos sudaneses, em 1885, e muitos outros.

         Diferente, porém, da editora não creio que isso se deva à necessidade de ocultar o racismo da nossa população, mas antes do desejo infantil de parecer politicamente correto, numa sociedade onde, tradicionalmente, a originalidade e o pensamento crítico são temidos. Mas não dá para ficar eternamente prisioneiro do medo, ainda que seja o de parecer politicamente incorreto...

Nenhum comentário:

Postar um comentário