sábado, 11 de outubro de 2014

BRINCANDO COM FOGO (III)

Prof Eduardo Simões

         Mas um dia uma esquerda, tão politicamente correta no discurso quanto incorretas nos atos, chegou ao poder e fez-nos crer que éramos um povo racista, e que, da mesma forma que os americanos, que andavam mutilando e enforcando negros em praças públicas, impedindo-os, por causa da pele, de freqüentar universidades e o serviço público, precisávamos instalar uma política de cotas e medidas compensatórias de caráter racial, etc. O encanto fora quebrado, e o paraíso racial em que brancos e negros se encontravam no Brasil, eficaz ou não, fora quebrado, e brancos e negros descobriram-se nus, recobertos apenas pela vergonha do ato criminoso, no caso dos primeiros, ou do ressentimento por fazerem papel de bobos por todo esse tempo, no caso dos últimos. O ovo da serpente estava maduro. Só faltava um motivo para descascá-lo: aconteceu...
         Um jogo de futebol como outro qualquer, no estádio do Grêmio de Porto Alegre. A torcida, querendo desconcentrar o goleiro Aranha, do Santos, dá vazão a habitual falta de educação das torcidas brasileiras e começa a xingá-lo com injúrias racistas, aparentemente por este estar também se esmerando muito na “cera”. Uma moça loura é captada pelas câmaras, justo no momento fatídico: “ma-ca-co!”, imagem passada e repassada uma infinidade de vezes, até as pessoas decorarem. O goleiro, ofendido ou aproveitando-se do momento, “futebol é guerra!”, dizem, reclama ao juiz. A moça do momento infeliz é identificada, e sobre ela, sem qualquer consideração pelo contexto, é jogada a pecha de “racista”, embora quem assista ao teipe do jogo verá que no meio da torcida havia rapazes negros também dizendo ofensas contra Aranha.
         O fato ganha dinâmica própria.  Autoridades e instituições brasileiras, com a delicadeza de um elefante no estro, começam a agir. A imprensa faz o carnaval de sempre, seja para explorar a falta de assunto seja para ocultar a inabilidade em explorar assuntos que realmente interessam; A CBF, uma das entidades mais desmoralizadas do país, age: expulsa o Grêmio da Taça Brasil, jogando a gasolina da paixão clubística no fogaréu de ressentimentos raciais. O que o clube tem a ver com a falta de educação de seus torcedores?
         Nada há tão ruim que não possa ficar pior. A casa da “preconceituosa” é incendiada. Crime de ódio racial, movido por negros ofendidos ou influenciados pelo clima criado pela imprensa? Ódio de torcedores, brancos e negros, pelo fato dela ter causado esse prejuízo ao clube? Aranha erra; diz que perdoa a moça, mas não quer se encontrar com ela nem retira a queixa, ou seja, não perdoa. Os gaúchos também não, como ficou demonstrado no jogo seguinte: o Rio Grande não é mais seguro para ele. Ninguém para orientar esses dois imaturos, cabeças de vento? Se isso tivesse acontecido no Brasil antigo, os sábios, de ambos os lados, já estariam esvaziando essa celeuma desnecessária, dizendo com um sorriso malicioso: “isso é paixão reprimida!” Quem garante que ela, torcedora estusiástica, não tenha se sentido desconfortavelmente atraída pela atuação do goleiro, que frustrava o seu time de coração, e a “ofensa” não saiu como um mecanismo de defesa?

         Há anos que estamos fabricando um racismo intolerável, e ainda inexistente, para o Brasil. Há quarenta anos um conhecido nosso, por acaso negro, e certamente um fracassado, vivia repetindo: “O Brasil, para os negros, é pior que a África do Sul (do Apartheid!)”, e é óbvio que ele nunca fez qualquer esforço de ir para lá, sequer como turista, mas, infelizmente, o número de pessoas que está apostando nesse  desatino é cada vez maior. Quem ganhará com isso?

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