BRINCANDO
COM FOGO (III)
Prof
Eduardo Simões
Mas um dia uma esquerda, tão
politicamente correta no discurso quanto incorretas nos atos, chegou ao poder e
fez-nos crer que éramos um povo racista, e que, da mesma forma que os
americanos, que andavam mutilando e enforcando negros em praças públicas,
impedindo-os, por causa da pele, de freqüentar universidades e o serviço
público, precisávamos instalar uma política de cotas e medidas compensatórias
de caráter racial, etc. O encanto fora quebrado, e o paraíso racial em que
brancos e negros se encontravam no Brasil, eficaz ou não, fora quebrado, e
brancos e negros descobriram-se nus, recobertos apenas pela vergonha do ato
criminoso, no caso dos primeiros, ou do ressentimento por fazerem papel de
bobos por todo esse tempo, no caso dos últimos. O ovo da serpente estava
maduro. Só faltava um motivo para descascá-lo: aconteceu...
Um jogo de futebol como outro qualquer,
no estádio do Grêmio de Porto Alegre. A torcida, querendo desconcentrar o
goleiro Aranha, do Santos, dá vazão a habitual falta de educação das torcidas
brasileiras e começa a xingá-lo com injúrias racistas, aparentemente por este
estar também se esmerando muito na “cera”. Uma moça loura é captada pelas
câmaras, justo no momento fatídico: “ma-ca-co!”, imagem passada e repassada uma
infinidade de vezes, até as pessoas decorarem. O goleiro, ofendido ou
aproveitando-se do momento, “futebol é guerra!”, dizem, reclama ao juiz. A moça
do momento infeliz é identificada, e sobre ela, sem qualquer consideração pelo
contexto, é jogada a pecha de “racista”, embora quem assista ao teipe do jogo
verá que no meio da torcida havia rapazes negros também dizendo ofensas contra
Aranha.
O fato ganha dinâmica própria. Autoridades e instituições brasileiras, com a
delicadeza de um elefante no estro, começam a agir. A imprensa faz o carnaval
de sempre, seja para explorar a falta de assunto seja para ocultar a inabilidade
em explorar assuntos que realmente interessam; A CBF, uma das entidades mais desmoralizadas
do país, age: expulsa o Grêmio da Taça Brasil, jogando a gasolina da paixão
clubística no fogaréu de ressentimentos raciais. O que o clube tem a ver com a
falta de educação de seus torcedores?
Nada há tão ruim que não possa ficar
pior. A casa da “preconceituosa” é incendiada. Crime de ódio racial, movido por
negros ofendidos ou influenciados pelo clima criado pela imprensa? Ódio de
torcedores, brancos e negros, pelo fato dela ter causado esse prejuízo ao
clube? Aranha erra; diz que perdoa a moça, mas não quer se encontrar com ela
nem retira a queixa, ou seja, não perdoa. Os gaúchos também não, como ficou
demonstrado no jogo seguinte: o Rio Grande não é mais seguro para ele. Ninguém
para orientar esses dois imaturos, cabeças de vento? Se isso tivesse acontecido
no Brasil antigo, os sábios, de ambos os lados, já estariam esvaziando essa
celeuma desnecessária, dizendo com um sorriso malicioso: “isso é paixão
reprimida!” Quem garante que ela, torcedora estusiástica, não tenha se sentido
desconfortavelmente atraída pela atuação do goleiro, que frustrava o seu time
de coração, e a “ofensa” não saiu como um mecanismo de defesa?
Há anos que estamos fabricando um
racismo intolerável, e ainda inexistente, para o Brasil. Há quarenta anos um
conhecido nosso, por acaso negro, e certamente um fracassado, vivia repetindo:
“O Brasil, para os negros, é pior que a África do Sul (do Apartheid!)”, e é
óbvio que ele nunca fez qualquer esforço de ir para lá, sequer como turista,
mas, infelizmente, o número de pessoas que está apostando nesse desatino é cada vez maior. Quem ganhará com
isso?
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