sábado, 11 de outubro de 2014

A PAISAGEM DO PINÁCULO DO TEMPLO

Prof Eduardo Simões

         Quando eu dei conta de mim, no início dos anos 60, adorava colecionar, sem atinar pelo perigo, posters de políticos       espalhados durante as eleições. Era de graça, algo fantástico para mim, e não era injeção na testa. Lembro-me até do nome de um deles: Adahil Barreto Cavalcante. Mais tarde, quando dei pelo juízo, e me apeguei a ele como a um tesouro, junto com minha geração aprendi a rir e a troçar de promessas vazias de políticos, que, naquele tempo, tanto mais prometiam quanto menos sabiam ou mais escondiam.
         De fato, naquela época os políticos prometiam, mas havia um comedimento, uma obrigação, entre aqueles mais experientes ou menos desinibidos, de dizer algo mais em suas campanhas. Ainda havia um compromisso com a ideologia ou princípios ético-morais, ainda que vagos, que os obrigava a ir além, deixando o deserto das promessas mirabolantes e inacabáveis para os pilantras, que sempre existiram, e para fazermos humor.
         E agora, quando hoje os candidatos ao executivo não fazem outra coisa além de prometer e eventualmente expor, por meio de denúncias tão genéricas quanto baixas, o lado escuro, verdadeiro ou não, do oponente? A coisa está tão acintosa que só consigo imaginar algum mecanismo de projeção, freudianamente falando. Quando vi José Sarney atacando desabridamente uma candidata à presidência, quase que fechei imediatamente com esta, afinal se Sarney está atacando...
         Aos 84 anos, será que não basta ter sido presidente da república, senador a vida toda, ganhando o que um senador no Brasil ganha, ter todo um estado nas mãos da família, onde esta manda e desmanda, causando um horror mundial? Não estaria na hora de se ter um pouco de compostura e dignidade? Alguém já avisou: “sem o PMDB ninguém governa”, isso não é um aviso, é uma ameaça, uma ameaça à nação, e um lembrete para quem quer que seja o vencedor: “a negociação-ata, vai continuar”.

          Moral dessa história: não dá para parar a história, ou como dizia Chico Buarque: “a história é um carro alegre, cheia de povo contente [licença poética], que atropela indiferente, todo aquele que a negue”. Ou seja, um trem sem freios... o pior lugar para se estar, pois mais cedo ou mais tarde ele vai se esborrachar em alguma estação, com aconteceu com a União Soviética, a Iugoslávia, os grande impérios do passado, etc. Mas há uma vantagem, afinal de cima do precipício das fantasias criadas por cada geração as paisagens são mais belas.

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