A
PAISAGEM DO PINÁCULO DO TEMPLO
Prof
Eduardo Simões
Quando eu dei conta de mim, no início
dos anos 60, adorava colecionar, sem atinar pelo perigo, posters de políticos espalhados durante as eleições. Era de
graça, algo fantástico para mim, e não era injeção na testa. Lembro-me até do
nome de um deles: Adahil Barreto Cavalcante. Mais tarde, quando dei pelo juízo,
e me apeguei a ele como a um tesouro, junto com minha geração aprendi a rir e a
troçar de promessas vazias de políticos, que, naquele tempo, tanto mais
prometiam quanto menos sabiam ou mais escondiam.
De fato, naquela época os políticos
prometiam, mas havia um comedimento, uma obrigação, entre aqueles mais
experientes ou menos desinibidos, de dizer algo mais em suas campanhas. Ainda
havia um compromisso com a ideologia ou princípios ético-morais, ainda que
vagos, que os obrigava a ir além, deixando o deserto das promessas mirabolantes
e inacabáveis para os pilantras, que sempre existiram, e para fazermos humor.
E agora, quando hoje os candidatos ao
executivo não fazem outra coisa além de prometer e eventualmente expor, por
meio de denúncias tão genéricas quanto baixas, o lado escuro, verdadeiro ou
não, do oponente? A coisa está tão acintosa que só consigo imaginar algum
mecanismo de projeção, freudianamente falando. Quando vi José Sarney atacando
desabridamente uma candidata à presidência, quase que fechei imediatamente com
esta, afinal se Sarney está atacando...
Aos 84 anos, será que não basta ter
sido presidente da república, senador a vida toda, ganhando o que um senador no
Brasil ganha, ter todo um estado nas mãos da família, onde esta manda e
desmanda, causando um horror mundial? Não estaria na hora de se ter um pouco de
compostura e dignidade? Alguém já avisou: “sem o PMDB ninguém governa”, isso
não é um aviso, é uma ameaça, uma ameaça à nação, e um lembrete para quem quer
que seja o vencedor: “a negociação-ata, vai continuar”.
Moral dessa história: não dá para parar a
história, ou como dizia Chico Buarque: “a história é um carro alegre, cheia de
povo contente [licença poética], que atropela indiferente, todo aquele que a
negue”. Ou seja, um trem sem freios... o pior lugar para se estar, pois mais
cedo ou mais tarde ele vai se esborrachar em alguma estação, com aconteceu com
a União Soviética, a Iugoslávia, os grande impérios do passado, etc. Mas há uma
vantagem, afinal de cima do precipício das fantasias criadas por cada geração
as paisagens são mais belas.
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