sexta-feira, 17 de outubro de 2014

HISTÓRIA GERAL E DO BRASIL PARA TODOS II

Autor: PROF. EDUARDO JORGE C. SIMÕES

Co-autores: Bianca Francine Correa da Silva
                   João Marcus Antunes Tavares
                   Marcus Vinicius Gomes Barbosa
                   Willians Campos Duart

História é texto. Uma imagem fixa (foto, quadro, gravura) nada nos diz sobre os movimentos e ações que antecederam ao estado que ela nos apresenta, e que o determinaram. Um filme pode até mostrar um fato se desenrolando, mas nunca os interesses que o determinaram. Só o texto, escrito ou oral, pode fazer justiça à história e torná-la história.

CAPÍTULO II
ANTIGUIDADE OCIDENTAL
CIVILIZAÇÃO MINOANA

         Enquanto na Mesopotâmia e no Egito se desenvolviam grandes civilizações, na área do Mar Mediterrâneo, em uma pequena ilha chamada Creta, perto da Grécia, desenvolvia-se uma civilização muito original.
         A ilha tem um clima temperado, com temperaturas amenas no inverno e elevadas no verão. O seu solo é pedregoso, pouco propício à agricultura, mas o seu litoral é muito recortado e profundo, excelente para a construção de portos. Justo nessa ilha, um povo antigo construiu uma civilização, chamada de Civilização Minoana, cujos principais centros eram as cidades de Cnossos, Faistos, Malia etc. Essa civilização conheceu seu esplendor entre 2700 e 1700 a.C.
         As escavações mostram que em Creta prosperou uma sociedade dirigida por uma poderosa classe mercantil, que, aproveitando-se da posição geográfica da ilha, a meio caminho entre o Egito e a Europa, agia como intermediária do rico comércio entre os dois continentes, que envolvia peças de cerâmica, vasos de metal, marfim, metais preciosos, contas de vidro, artesanato diverso, metais como cobre e estanho, etc. Em Creta havia um artesanato muito sofisticado, principalmente de cerâmica, e uma florescente indústria de vinho e azeite.
         O que mais chama a atenção na Civilização Minoana é a qualidade das habitações escavadas pelos arqueólogos, mostrando o alto padrão de vida da população, a delicadeza e os motivos de sua arte, pois enquanto nas civilizações vizinhas os artistas se preocupavam mais em reproduzir figuras de deuses, reis e exércitos em marcha, geralmente numa pose rígida e estática, na pintura cretense-minoana há movimento, cores, gestos espontâneos e a reprodução de gente comum, com destaque para as mulheres, ou cenas da natureza, principalmente marinhas, como a multidão de peixes, golfinhos e outros animais que embelezam as paredes do palácio real em Cnossos.
         Essa civilização é chamada Minoana, em referência a um rei de Creta, Minos, citado pela mitologia grega, que teve um filho transformado pelos deuses em um monstro meio touro meio humano, que devorava carne humana e morava em um labirinto, sendo-lhe servidos de tempos em tempos 14 jovens atenienses para o seu banquete. O fim desse monstro, o Minotauro, aconteceu quando um herói ateniense, Teseu, entrou no labirinto, desenrolando um barbante para não se perder lá dentro, e matou o glutão.
         Essa lenda tem um fundo de verdade e nos revela que em tempos idos os cretenses dominavam os gregos do continente, lhes impondo pesados tributos. As escavações arqueológicas no Palácio de Cnossos, por seu lado, mostraram uma construção gigantesca, contendo em torno de mil e quinhentos aposentos: um verdadeiro labirinto. Uma coisa é certa: os minoicos exerceram grande influência cultural sobre os povos helênicos ou gregos.
         Essa civilização tão original, da qual pouco se sabe, desapareceu repentinamente. As causas são desconhecidas, mas especula-se que alguma catástrofe natural deu um fim súbito a esse povo, sendo a mais provável a explosão vulcânica acontecida por volta de 1650 a.C., que gerou um enorme tsunami e arrasou as bases da economia local, tornando esse povo presa fácil de seus inimigos. Um deles, os aqueus, um povo que vivia na Grécia, aproveitou-se da fraqueza dos minoicos para destruir de vez essa civilização.


CIVILIZAÇÃO HELÊNICA OU GREGA

         Normalmente as pessoas chamam esses povos que viveram no território da Grécia atual "gregos" ou "gregos antigos", etc., mas eles chamavam a si próprios helenos, pois acreditavam ser descendentes de Heleno, um personagem mitológico, e chamavam a sua terra de Hélade. O nome "Grécia" foi criado mais tarde pelos romanos, mas os gregos não aceitaram essa mudança e até hoje chamam seu país de Hélade. Mas aqui, por uma questão de conveniência usaremos o termo grego e Grécia, como é tradicional.
         O território da Grécia, que está espalhado pelo sul da Europa e em ilhas do Mediterrâneo, tem um relevo muito acidentado e instável, sujeito a terremotos, que o torna pouco agricultável. O seu litoral é recortado por baías profundas, favoráveis à construção de portos. Uma exceção é a Península do Peloponeso, onde se observa a existência de vales muito propícios à agricultura, mas, comparados com os rios do Brasil, os rios da Grécia são como riachos.
         A Grécia é habitada há muito tempo, mas, a partir do IIº milênio a.C., povos de origem indo-europeia, povos cuja cultura e língua constituíram a base da Civilização Ocidental, foram chegando aos poucos e formaram a matriz cultural da Grécia Clássica.

Aqueus
         Os Aqueus foram o povos mais antigo a criar grandes cidades na Grécia, entre as quais se destacam Micenas e Tirinto, compactas fortalezas de pedras que demonstravam o caráter guerreiro e rude desse povo, que se dirigiu justamente para a Península do Peloponeso, para tirar proveito das condições agrícolas do solo, até alcançar o seu auge por volta de 1600 a 1100 a.C., sob o comando da cidade de Micenas, o que fez a cultura desse período ser chamada de Civilização Micênica.
         Os aqueus dominaram quase todo Mediterrâneo Oriental, inclusive a ilha de Creta, estabelecendo um império formado com vários reinos associados, controlados por uma pesada burocracia, que atuava em favor de uma elite de rudes guerreiros, fazendo com que a arte e o artesanato caíssem muito de qualidade nas áreas por eles controladas. Um de seus feitos guerreiros mais conhecidos foi a tomada da cidade comercial de Troia, que controlava importantes rotas comércio terrestre a marítimo entre Ásia e Europa, acontecida por volta de 1.250 a.C.. A história dessa guerra foi relatada em um poema muito fantasioso chamado Ilíada, composto por um poeta grego, Homero, muito tempo depois do ocorrido.
         As escavações mostram que as cidades micênicas já estavam muito enfraquecidas e com sinais de violência a partir de 1200 a.C., talvez por causa de guerras entre elas ou revoltas do povo contra a uma elite violenta e exploradora, e  o que sobrou delas caiu, provavelmente, ante uma nova leva de povos invasores: os dórios, também atraídos pela fertilidade do Peloponeso.

Era Obscura
         Alguns autores defendem que por volta de 1200 a.C., a Grécia, em especial a Península do Peloponeso, foi alvo de uma migração de novas tribos helênicas, que, aliada à decadência geral das cidades micênicas, fez toda a região mergulhar, por séculos, em uma fase de grande estagnação político-cultural, embora tenha havido alguns avanços, como a introdução de ferramentas e armas de ferro e de uma nova mentalidade militar, envolvendo principalmente o exército, que se torna menos nobre e mais popular.
         A organização tribal prevaleceu, enquanto os agrupamentos humanos se concentravam em aldeias sob o comando de um chefe, um patriarca, cujo nome em grego era basileus, que era ao mesmo tempo governante, sacerdote, e juiz, vivendo do cultivo de lotes de terras comuns. As aldeias em que eles viviam se situavam próximas a um monte ou colina, sobre a qual construíam um templo, onde se mantinha sempre acesa uma chama dedicada ao deus local.
         Essa gente vivia da agricultura de subsistência e da pecuária, além de uns poucos ofícios manuais, eventualmente auxiliados por um pequeno número de escravos - mulheres, prisioneiras de guerra ou de dívidas - que faziam trabalhos não especializados no ambiente doméstico. Mesmo com uma vida tão difícil surgiram as primeiras cidades e a população cresceu, tornando problemática a sua manutenção, pois as terras eram pouco férteis, obrigando muita gente a emigrar para outros lugares, ocupando gradualmente terras na atual Turquia, nas ilhas do Mediterrâneo, como Creta e Sicilia, além de porções da Itália, França e Península Ibérica.
         Nesse tempo os gregos criaram as bases de sua religião, intimamente vinculada com as necessidades práticas de um ser humano, dirigida a deuses que possuíam as mesmas virtudes, os mesmos defeitos e os mesmos desejos que os homens.
         Para os gregos, assim como para os romanos, os deuses existiam para justificar aquilo que eles já acreditavam ser o certo ou o melhor possível. Nessa religião não havia lugar para preocupações morais e éticas ou para uma postura de submissão diante do divino, como acontecia com os orientais, mas apenas para troca de favores entre a divindade e o fiel, cercada de muita magia.

Cidade-Estados de Esparta
         Os dórios, acima citados, ocuparam a parte mais fértil do Peloponeso e aí, após reduzir a população local a uma dura servidão, estabeleceram a sua cidade mais poderosa: Esparta, que por mais de um século foi a cidade mais importante e desenvolvida da Grécia. Entretanto, após se envolverem em uma guerra duríssima pela aquisição de mais terras, os espartanos, traumatizados, decidiram transformaram a sua cidade num acampamento militar; e isso era levado tão a sério que eles nem construíram muralhas para a cidade, afirmando que a melhor das muralhas era o peito de seus soldados. Como consequência disso, porém, a filosofia, as artes e as ciências estagnaram.
         Para viabilizar seu estado militarista os espartanos organizaram a sua sociedade da seguinte maneira: a) o cidadão comum, chamado esparciata, descendente dos antigos dórios, se dedicaria apenas aos exercícios militares, dos sete aos sessenta anos de idade; b) o estado cederia a cada espartiata um lote de terras inalienável e de igual tamanho, o kleros, com uma quantidade fixa de servos estatais, chamados hilotas, que as cultivariam e dariam ao esparciata a parte da produção necessária ao seu sustento; c) em hipótese nenhuma o cidadão espartano podia se dedicar ao comércio, que era praticado por estrangeiros amigos, que viviam em Esparta, tratados como cidadãos de segunda classe: os periecos.
         O espartano que não casasse ou fugisse do combate era tratado por todos com desprezo e humilhações frequentes, até que se regenerasse, mostrando valentia em uma batalha. Mas a pior situação era a dos hilotas, pois com medo que estes se revoltassem contra a sua dura exploração, o treinamento militar dos jovens espartanos incluía a execução imediata de todo hilota que fosse pego fora de casa, em certas horas do dia.
         As instituições políticas também refletiam o caráter do estado espartano onde se sobressaíam a igualdade e o sacrifício pela pátria. No topo do poder estavam dois reis, um dedicado ao comando do exército e o outro como supremo sacerdote, mas ambos com pouco poder efetivo; abaixo vinha um conselho de 28 anciãos, maiores de sessenta anos, membros das famílias mais importantes, a Gerúsia, com amplos poderes para fazer leis e vetar as decisões da assembleia dos cidadãos; na base estava a assembleia dos cidadãos ou Apela, aberta a todo espartano maior de trinta anos, com poder restrito, pois não podia apresentar propostas nem debater a pauta enviada pela Gerúsia. A Apela apenas a aprovava ou rejeitava as propostas, mas era ela que elegia os éforos.
         O maior poder, entretanto, estava nas mãos de cinco cidadãos eleitos por um ano, sem reeleição, para a função de éforos. Os éforos presidiam a Gerúsia e a Apela, e tinham poder irrestrito para fiscalizar e reprimir, conforme a lei e os costumes, até os reis. Cabia aos éforos, por exemplo, determinar se uma criança que nascesse fraca ou doentia poderia continuar vivendo na cidade ou seria abandonada em lugar deserto, podendo ser levada por estranhos, para ser usada como escrava ou aberração em um circo, ou morta pelos animais, pelo clima ou pela fome.
         A democracia espartana, enfim, valorizava a igualdade acima de tudo, por isso criou poderosos instrumentos de controle sobre tudo o que o cidadão fazia, justamente para garantir que ele não ficasse diferente dos outros. O preço pago foi a liberdade. Fora isso, o espartano era um homem obcecado pela guerra, pela morte e pela glória pessoal, e entre eles era comum ouvir o adágio: "o espartano não quer saber quantos são os inimigos, mas onde eles se encontram".
         O homem era tratado como uma máquina de guerra e a mulher como mera reprodutora.

Cidade-Estado de Atenas
         As cidades gregas eram como países independentes, por isso são chamadas de cidades-estados ou pelo termo grego pólis; e se a pólis mais importante do povo dório era Esparta, a mais importante do povo jônio, outro povo indo-europeu, era Atenas.
         Os jônios, atacados por outros povos, se refugiaram em uma região no centro da Grécia, chamada Ática. A Ática, por ser muito montanhosa, oferecia boas condições de defesa e segurança, mas, por ter o solo muito pedregoso, jamais poderia oferecer uma boa agricultura, por isso os jônios resolveram que a sua principal cidade se voltaria para o comércio marítimo, aproveitando-se das características de seu litoral.
         Como muitas cidades da Grécia, Atenas também conheceu o regime monárquico, passando em seguida a um regime dominado pelos nobres ou eupátridas, grandes donos de terra, que elegiam três governantes, os arcontes, assessorados por um conselho de nobres chamado Areópago. Esse regime em que o governo é exercido por um grupo em favor de uma classe social é chamado de oligarquia.
         Como havia uma forte tensão entre os eupátridas e os pequenos agricultores, uma vez que aqueles tomavam as terras destes e escravizavam quem não lhe pagasse o que devia, e também com os comerciantes, que detestavam, pelo apoio que os eupátridas davam à agricultura em detrimento do comércio, os atenienses, para evitar uma guerra civil, acordaram em fazer uma reforma na estrutura política da cidade, e para isso convidaram um reformador chamado Sólon, no ano 594 a.C.
         A reforma de Sólon partiu de três premissas básicas: a) o fim da escravidão por dívidas; b) a participação política seria condicionada pela riqueza do indivíduo, e não mais pelo nascimento; c) seria feita uma padronização de pesos e medidas. Esses dois últimos itens favoreciam a classe dos comerciantes, que passou a dirigir os destinos e o caráter do estado ateniense.
         Mas essa reforma também avançou em outras áreas, como: a) dividiu toda a população da cidade em quatro classes ou tribos de acordo com a renda medida por um padrão agrário; b) cada uma dessas tribos elegeria cem membros para fazer parte de uma assembleia: o Conselho dos Quatrocentos ou Bulê; c) haveria ainda uma assembleia formada por todos os cidadãos chamada Eclésia, que discutia e definia política interna e externa, propunha leis, etc.; d) das tribos também sairiam os cidadãos que formavam a suprema corte de justiça, a Heliaia, composta por centenas de juízes, onde as partes apresentariam pessoalmente as suas queixas; e) haveria ainda uma instância judiciária específica, mas com muito pouco poder real, o Areópago, composta só por eupátridas, numa concessão de Sólon à nobreza.
         Essa constituição, adaptou as leis de Atenas à realidade do momento mas o crescimento da influência dos grupos ligados ao comércio e à atividades urbanas fez crescer a impressão de que os nobres ainda tinham muito poder. Em sua busca por mais igualdade os elementos mais radicais apelaram para a tirania de Pisístrato - para os gregos, um tirano não era um governante mau, mas alguém, que mesmo fazendo um bom governo, decidia sem escutar os cidadãos. Pisístrato foi um bom governante, mas o povo reagiu quando seus filhos o sucederam, matando a um e expulsando o outro.
         Depois dessa experiência os atenienses tentaram uma nova constituição democrática, e para fazê-la convidaram a Clístenes, de uma das mais importantes famílias de Atenas.
         A reforma de Clístenes acabou com o critério censitário na repartição dos cidadãos instaurado por Sólon - o critério censitário se baseia a na renda do indivíduo, e faz com que os mais ricos tenham mais vantagens na política, que os outros - e estabeleceu o critério geográfico, exigindo como condição básica que o indivíduo fosse nascido e morador em um dos demos da Ática. O demos equivalia mais ou menos ao nosso município, e o seu significado original era "povo" ou "população". Foi daí que veio o termo democracia (= governo do povo).
         O órgão máximo de poder ficou sendo Eclésia, que decidia sobre tudo. A Boulê foi aumentada para 500 membros, com o objetivo de analisar os problemas e decidir o que deveria ser levado para a decisão da Eclésia; o Areópago foi mantido, mas com um caráter meramente simbólico; a Heliaia foi mantida com as mesmas atribuições. Para proteger a cidade contra novos tiranos, Clístenes criou a lei do ostracismo, que punia qualquer um que representasse perigo ao regime democrático da cidade com o exílio de dez anos, após uma votação da Eclésia.
         Na verdade o que mostramos acima é apenas o esboço de uma estrutura muito complexa que previa votações periódicas, rotatividade, e outros artifícios, para garantir que o poder nunca mais seria exercido só por um indivíduo ou classe social. O poder político estava de fato distribuído por todos os cidadãos e, no entanto, as coisas não deram muito certo para a democracia ateniense pelas seguintes razões: a) escravos, estrangeiros e mulheres não podiam participar, mas apenas uma minoria de homens nascidos de pai e mãe atenienses; b) poucos se interessavam em participar das longas e tediosas reuniões da Eclésia; c) esse desinteresse e a corrupção dos políticos expuseram a Eclésia a todo tipo de manobras demagógicas, que induziram a assembleia a aprovar coisas absurdas.
         A democracia ateniense sobrevalorizou a liberdade, mesmo em prejuízo da igualdade, embora criasse vários mecanismos institucionais e culturais para desestimular o excesso de diferenciação entre seus membros. Qualquer homem que se destacasse demais na política ou na economia, que ficasse muito rico, podia sofrer uma pressão social e até legal para usar mais de seus ganhos para o bem da comunidade, ou, em caso extremo, podia ser condenado ao ostracismo.
         Entretanto, é fato que sob a democracia Atenas atingiu seu máximo esplendor. Certa vez, Sólon, indagado por um poderoso rei oriental sobre quem seria o homem mais feliz do mundo, respondeu: "Foi Télos, de Atenas". E explicou: "residindo em uma cidade florescente, teve dois filhos saudáveis e virtuosos, que lhe deram netos que viveram muitos anos, e, por fim, após haver adquirido uma grande fortuna, acabou seus dias de forma heroica, defendendo sua cidade no campo de batalha. Seus concidadãos, agradecidos, financiaram a construção de um monumento no lugar onde tombou".
         Eis o ideal de felicidade e democracia para um ateniense dessa época.

A Questão da Democracia
         Ao contrário das democracias modernas, que são chamadas de indiretas ou representativas, porque as pessoas elegem seus representantes - deputados, senadores, vereadores - para elaborar as leis ou cuidar dos interesses de suas cidades e países, os gregos só concebiam democracia com a participação dos cidadãos, elaborando e votando leis, e decidindo sobre a melhor solução para um problema de política interna ou externa. Esse tipo de democracia é chamado direta.
         Para viabilizar a sua proposta de democracia, os gregos acreditavam que suas cidades nunca deveriam ultrapassar algo em torno de 10 mil cidadãos, e para conseguir esse objetivo não hesitavam em lançar mão de recursos extremos como o infanticídio e a xenofobia. Essa postura salvava o modelo de democracia direta da pólis isolada, mas o colocava sob a ameaça de grandes e pequenos reinos, como o da Macedônia, que não hesitavam em unir a força de várias cidades, sacrificando a democracia, mas conseguindo com um maior poder de ataque e defesa.
         Os gregos eram muito apegados ao conceito de igualdade, alimentada por laços familiares e raciais poderosos, e por meio um apego comunitário quase tribal, mas eles logo perceberam que se quisessem trilhar o caminho da democracia teriam que fazer uma escolha crucial: se o valor mais importante para a comunidade fosse a igualdade, ela teria que se submeter a processos de controle, que seriam tanto mais rigorosos quanto mais rigorosa fosse a sua opção para a igualdade. Quando alguém se destaca, perde-se a igualdade.
         Por outro lado, se o valor mais importante para a comunidade fosse a liberdade, então alguma forma de desigualdade teria que ser tolerada, pois a liberdade faz aflorar muitas diferenças naturais e aprendidas que aparecem  na evolução de cada pessoa. Além de traços culturais, interesses econômicos e políticos havia, na eterna rivalidade entre Atenas e Esparta, duas concepções diferentes de democracia, de acordo com a escala de valores das duas cidades. Atenas privilegiou a liberdade, e Esparta a igualdade.
        
        
As Guerras dos Gregos
         Para os gregos a guerra era um dever sagrado, e fazia parte da formação para cidadania de todo homem livre adulto. As cidades viviam guerreando entre si, como se fosse um rito ou um esporte. Sempre havia pretexto para uma guerra. Mas logo outros povos vieram medir forças com eles.
         A fundação de colônias gregas na Ásia Menor, atual Turquia, dirigiu o avanço da civilização grega na direção do Oriente, onde havia mais riqueza circulando e sendo produzida. No seu avanço elas acabaram por se encontrar com uma grande potência asiática, a Pérsia, que avançava na direção oposta, para o Ocidente. O choque foi inevitável.
         Entre gregos e persas houve três guerras, chamadas de Guerras Greco-Pérsicas, que os gregos chamavam de Guerras Médicas, porque confundiam os persas com os medos. Os persas tinham tudo para vencer, pois seu império era muito mais poderoso, mas enquanto se o rei persa usava de povos subjugados para lutar por ele, os gregos tinham a motivação: lutavam por suas famílias, sua liberdade e suas terras, e o que parecia milagre aconteceu: os gregos venceram.
         Na primeira guerra houve a célebre Batalha de Maratona (490 a.C.), quando os atenienses derrotaram os persas às portas de sua cidade - o termo "maratona" tornou-se o nome da mais famosa prova olímpica.
         Na segunda guerra o rei espartano Leônidas, com trezentos homens, mais alguns aliados, conseguiu retardar o avanço persa na passagem das Termópilas (480 a.C.), lutando até o extermínio completo, além da decisiva vitória naval ateniense na baía de Salamina (480 a.C.), confirmando um oráculo, anterior à batalha, que disse: "uma muralha de madeira salvará a Grécia".
         A terceira guerra, com poucas batalhas, ficou mais conhecida pelo jogo político e pelo tratado de paz assinado entre as partes, chamado de a Paz de Cálias - Cálias era o negociador ateniense - que determinou o seguinte: a) o fim das pretensões da Pérsia sobre o território da Grécia e de suas colônias; b) a proibição de navios persas navegarem no Mar Egeu; c) autorização para os persas negociarem com as colônias gregas da Ásia Menor. Nessa época Atenas era cidade mais poderosa da Grécia.
         O culto que os grego faziam à guerra, em sua busca pela glória pessoal e de sua cidade, acabou arrastando-os  ao colapso, pois logo após as guerras com os persas, as principais cidades gregas começaram a formar poderosas ligas de cidades, mutuamente hostis.
         A cidade de Atenas liderava a rica Liga de Delos, que unia as cidades que prezavam o sistema democrático de governo, sob o controle da classe mercantil; contra ela se levantou a Liga do Peloponeso, liderada por Esparta, agrupando as cidades que tinham predileção pelo sistema oligárquico, ou uma democracia que privilegiasse a igualdade, com o predomínio dos grandes proprietários. As duas ligas travaram uma guerra total, arrasadora, durante trinta anos, que terminou com a vitória de Esparta, financiada pelo ouro persa - nesse período Atenas teve o seu governante mais realizador: Péricles.
         O fortalecimento de Esparta, entretanto, preocupou uma potência nascente: a cidade de Tebas, que comandava a Liga Beócia; por isso, ao primeiro pretexto, Tebas declarou guerra a Esparta e venceu a sua ex-aliada. Preocupada com o crescimento de Tebas, Atenas resolve ajudar sua maior inimiga: Esparta.
         Assim, os gregos foram se autodestruindo, numa maré de guerras, ódios e intrigas, oferecendo ocasião para que um poder estrangeiro os dominasse. Esse poder estrangeiro chegou, com Filipe II da Macedônia e seu filho, Alexandre Magno ou Alexandre da Macedônia.

Alexandre e o Helenismo
         Os macedônios eram considerados pelos gregos como bárbaros e primitivos - os gregos chamavam de "bárbaros" os povos que não falavam a sua língua - mas sob o reinado do Alexandre, construíram um dos maiores e mais breves impérios de todos os tempos.
         Desafiados pelos tebanos, os macedônios atacaram e arrasaram Tebas, vencendo em seguida uma união de cidades gregas na batalha de Queroneia, em 338 a.C., quando as pólis gregas perderam definitivamente a sua independência.
         Em 334, Alexandre atravessou o estreito que separa a Ásia da Europa, com um pequeno exército, e partiu para a conquista do Império Persa, e, embora quase sempre se defrontasse com forças muito maiores que as suas, não conheceu quem o vencesse em campo de batalha, chegando com as suas tropas até o atual Paquistão, onde entrou em contato com a civilização indiana.
         As vitórias espetaculares de Alexandre, um gênio militar, fizeram com que os historiadores acrescentassem ao seu nome o apelido de Magno, que quer dizer "grande". Mas o império de Alexandre não sobreviveu à sua morte, aos 33 anos de idade, sendo retalhado por seus generais, após guerras sangrentas, da seguinte maneira: a) o general Seleuco, fundou o Império Selêucida, que abarcava a maior parte do império persa na Ásia; b) o general Ptolomeu ocupou o Egito e lá fundou uma dinastia; c) os descendentes do general Antígono ficaram com a porção europeia, Grécia e Macedônia, sem falar de outros generais menores, que, brigando sem parar, fundaram reinos pequenos e breves, desestabilizando a mais importante área de comércio do mundo.
         Mas nem só de guerras e anarquia se compõe a herança de Alexandre. Ele estimulou a fusão entre as culturas grega clássica e asiática, criando uma nova cultura chamada "Helenismo", com as seguintes características: a) divinização da pessoa dos reis, algo inaceitável nas antigas pólis, mas comum entre os orientais; b) ampliação considerável do volume do comércio no Mediterrâneo Oriental, causando grande prosperidade econômica, acompanhada do aumento generalizado dos preços e da especulação financeira; c) aumento dos domínios dos grandes proprietários, em prejuízo dos pequenos agricultores; d) maior interferência do estado na economia, com estímulo ao artesanato de exportação; e) aumento da diferença entre ricos e pobres, acabando de vez com o ideal de igualdade cultivado na pólis; f) aparecimento de grandes cidades - as principais foram Alexandria (no Egito), fundada por Alexandre Magno, Antioquia (na Síria) e Pérgamo (na Turquia).
         As artes, a filosofia e a arquitetura não tiveram a mesma força e o encanto da época clássica, mas as ciências experimentaram um grande avanço, assim como aumentou o acesso das pessoas ao conhecimento e à literatura. Em Alexandria havia uma biblioteca - a Biblioteca de Alexandria - com centenas de milhares de volumes, à qual estava ligado um templo chamado Museion, ou Museu de Alexandria, onde mestres de vários ramos da ciência se encontravam e ministravam cursos abertos ao público, sem falar do farol, o Farol de Alexandria, uma torre com uma altura de 120 metros, com uma grande fogueira em cima! Uma das maravilhas da engenharia antiga.
         No geral a cultura helenística parece muito com a cultura de hoje, muita riqueza, brilho, maravilhas tecnológicas, mas pouca profundidade. O mundo de Télos, descrito por Sólon, não existia mais.

A Cultura Grega Clássica
         É impressionante, como um povo tão pequeno, morando em uma região tão difícil para a agricultura, a atividade econômica mais praticada na época, tenha conseguido construir uma civilização tão influente, e colocado de forma quase completa as bases da cultura ocidental.
         As suas realizações no campo das artes, das ciências e da filosofia são prolongadas ou imitadas até hoje, por isso se diz que são clássicas, por serem dignas de admiração e imitação. A cultura grega clássica teve seu o seu apogeu associado ao apogeu das pólis, entre os séculos VI e IV a.C.
         Enquanto no resto do mundo predominavam as explicações de caráter religioso, mitológicas, sobre o funcionamento do universo e da natureza, e até do próprio homem, alguns gregos começaram a explicá-la de uma forma racional, concreta, pela observação direta da natureza, por meio da filosofia. É verdade que a maioria dos gregos acreditava na mitologia, mas deu liberdade para os filósofos a criticarem.
         O primeiro grupo de filósofos que apareceu na Grécia é chamado de pré-socráticos, e sua principal fonte de interesse é o mundo em volta, e a matéria em especial, que eles acreditavam ser eterna e constituída pela união dos quatro elementos: água, terra, fogo e ar. Seus principais representantes foram: Tales de Mileto: o primeiro a romper com os mitos e falar racionalmente do que existe; Anaximandro: o primeiro a defender uma teoria da evolução; Parmênides: que dizia que só o que permanece é verdadeiro e as mudanças uma ilusão; Heráclito: dizendo o contrário, que a mudança é a essência de tudo, que é impossível atravessar duas vezes o mesmo rio; Demócrito: defensor radical da matéria, criou o termo átomo, como sendo a menor partícula da matéria, indivisível e indestrutível.
         Na Itália, em uma região chamada Magna Grécia, viveu o filósofo Pitágoras de Samos, que via no número a essência das coisas e foi um grande matemático. Pitágoras, entretanto, defendia uma matemática mística e espiritual, de elevado teor moral.
         Após os pré-socráticos, a filosofia se dedicou a temas mais abstratos como a questão da substância, das essências, do comportamento ideal do cidadão (a ética), etc. Três filósofos se destacam: Sócrates, que criou um método de autoexame ou tomada de consciência, para o homem levar uma vida virtuosa e não se deixar levar pela superficialidade do senso comum; Platão, que defendeu a teoria dos arquétipos, modelos eternos existentes na mente da divindade, que seriam a causa de tudo o que há, e que a esse mundo dos arquétipos qualquer um pode achegar pela prática da meditação filosófica - o termo filosofia quer dizer amor à sabedoria. Para Platão o conhecimento é inato; Aristóteles, que foi umas das inteligências mais universais da história, deu contribuições valiosas em quase todos os ramos do conhecimento. Sua abordagem ressaltava a importância da experiência, ou seja, o conhecimento não é inato, mas adquirido no contato com a realidade, etc.
         Os gregos também inventaram o teatro, e deram tanto valor a ele que em Atenas o estado financiava o ingresso das pessoas mais pobres às apresentações. O teatro grego foi importante, principalmente por suas tragédias, um ramo da dramaturgia onde se encena uma situação limite ou contraditória, onde o personagem precisa decidir entre duas situações igualmente necessárias, urgentes, mas que se excluem mutuamente. Como se diz na linguagem de hoje, a pessoa é colocada numa "sinuca de bico": de um jeito ou de outro ela perde e sofre muito.
         Algumas das principais tragédias, com seus autores, foram: Prometeu acorrentado, de Ésquilo, onde se opõem o desejo da liberdade e solidariedade à necessidade de seguir convenções e crenças da maioria, que também estabilizam a sociedade, e provocam sofrimentos; Antígona de Sófocles, onde a obrigação do amor fraternal se choca com a obrigação de obedecer às leis da cidade; Édipo rei, também de Sófocles, mostra a inutilidade do homem lutar contra o seu destino; Medeia, de Eurípides, onde o amor excessivo acaba por levar a personagem principal a uma explosão inimaginável e mortal de ódio.
         A própria construção dos teatros é algo a parte, uma maravilha da engenharia e da acústica, sem falar nos templos majestosos e estranhamente belos em sua simplicidade arquitetônica - o maior e mais famoso é o Partenon, em Atenas, ainda de pé, mas bastante danificado - além de inúmeras estátuas com motivos mitológicos ou históricos, representando os grandes personagens da época, que mais parecem retratos em três dimensões feitos de pedra.




A CIVILIZAÇÃO ROMANA

         A posição excepcional da Península Italiana, no meio do Mar Mediterrâneo, e seu solo muito fértil, foram um grande atrativo para povos de variadas culturas, inclusive os gregos.
         O território grego na Itália se espalhava ao sul da Península, e na ilha da Sicilia, formando o que se convencionou chamar de Magna Grécia, e, como acontecia em lugares de presença grega, essas colônias viviam brigando entre si. As cidades mais importantes foram Cumas, a primeira, (fundada em 750 a.C.), Tarento e Siracusa, a maior e mais importante, atual capital da Sicilia.
         Os gregos da Itália eram chamados de italiotas, para se distinguir dos vários outros povos que tinham a sua cultura nativa da Itália, os itálicos, constituídos de gente de procedência e cultura diversos, e em graus diversos de desenvolvimento social e tecnológico, entre os quais se destacavam os etruscos, que desenvolveram uma importante civilização. Os etruscos se tornaram inimigos dos gregos, lutando muito para impedir o avanço das colônias gregas para o centro da Itália.
         Dos etruscos pouco se sabe, uma vez sobraram poucos documentos e boa parte de sua escrita ainda não foi decifrada. Sabe-se que eles viviam numa região do centro-norte da Itália, a Etrúria, constituindo um aglomerado de doze poderosas cidades, como Clúsio, Tarquinia, Arezzo etc., que por um tempo dominaram a região onde foi fundada a cidade de Roma, influenciando a cultura desta. Aos etruscos é reputada a invenção do arco, um elemento chave da arquitetura romana.

A Fundação de Roma e a monarquia (753? - 509 a.C.)
         Segundo uma lenda muito antiga, Roma foi fundada por dois irmãos gêmeos: Rômulo e Remo, que se desentenderam sobre quem reinaria na cidade, e na luta que se seguiu Rômulo matou Remo. Segundo ainda a tradição, Roma foi fundada a 21 de abril de 753 a.C. Para os estudiosos modernos, porém, Roma resultou da união espontânea de diversas tribos latinas estabelecidas na região do Lácio, no centro da Itália, importante local de passagem e comércio, com muita terra fértil. Essas tribos aos poucos uniram suas aldeias, estabelecidas às margens do rio Tibre, que ao crescerem e se fundiram em uma única grande cidade.
         Ao longo de mais de dois séculos a cidade foi governada por reis, alguns estrangeiros, que criaram uma eficaz infraestrutura urbana, procurando agradar aos moradores da cidade, a plebe, enquanto enfrentavam a oposição dos grandes proprietários rurais, os patrícios. Para agradar aos patrícios, porém, os reis deram-lhes a exclusividade dos postos no Senado, um órgão de formulação de leis, aconselhamento do rei e controle dos costumes, de acordo com a antiga tradição, que deu uma grande estabilidade política à cidade. Os reis, para agradar aos plebeus, meteram-se em várias guerras contra os vizinhos, acumulando terras e saques que eram divididos entre os membros plebeus do exército.
         A plebe se manifestava politicamente por meio da Comitia Curiata, uma reunião de todos os cidadãos livres de Roma, para decidir sobre assuntos internos, e por meio da Comitia Centuriata, com uma estrutura mais militar e uma participação mais restritiva, que elegia magistrados, decidia sobre declaração de guerra e pena de morte para cidadãos romanos, mas cujo poder real era bloqueado por uma série de artifícios legais, utilizados ora pelo rei ora pelos patrícios, conforme as suas conveniências. De uma maneira geral os reis usavam da plebe para contrabalançar o poder dos patrícios, em seu próprio benefício.

A República Romana (509 - 27 a.C.)
         Inconformados com as restrições ao seu poder, os patrícios, deram um golpe de estado e fundaram a república, em 509 a.C., criando um regime que atendia mais aos seus interesses, enquanto restringiam direitos dos plebeus e aumentavam a opressão sobre estes.
         Para começar o Senado teve o seu poder ampliado, enquanto as comitias tiveram os seus reduzidos. Muitas vezes, quando os comerciantes e pequenos camponeses eram mobilizados para servir ao exército nas guerras, partiam deixando seus campos e negócios abandonados, e quando regressavam eram presos, por não poderem pagar suas dívidas, e vendidos como escravos por seus credores, em geral patrícios, justos aqueles por cujo poder haviam lutado e arriscado a vida na guerra. Se o plebeu não voltasse da guerra para pagar sua dívida, sua família seria escravizada.
         Como os patrícios continuassem irredutíveis, os plebeus tomaram uma atitude radical: no ano de 494 a.C., eles abandonaram em massa a cidade, justo no momento em que os cônsules - Roma era governada por dois cônsules, eleitos por um ano pela Comitia Centuriata - faziam uma convocação para mais uma guerra, que já lhes batia à porta.
         Encurralados, os patrícios cederam e teve início as negociações nas quais os plebeus conseguiram várias conquistas como: a) o fim da escravidão por dívidas; b) a eleição de representantes, os tribunos da plebe, com poder para vetar atos e leis contrários à sua classe, embora não fossem imunes ao suborno; c) a nomeação de dez legisladores, os decênviros, que compilaram as leis básicas da cidade e as fizeram inscrever em doze tábuas de bronze, as chamadas Lei das Doze Tábuas, que foram depois afixadas em um local público, à vista de todos - acabando com as interpretações legais e punições arbitrárias feitas pelos juízes patrícios; d) serem nomeados magistrados; e) poderem casar com moças patrícias; e) serem eleitos cônsul, podendo assim entrar para o Senado; f) tornaram as Comitias órgãos máximos de decisão; etc.
        
As Guerras de Roma
         Apaziguada internamente, Roma pode então se dedicar ao seu projeto de expansão externa. Primeiro anexou todo o Lácio, absorvendo os outros povos latinos que viviam na região. Depois foi a vez da Etrúria e dos gregos, de tal sorte que no ano de 265 a.C., toda Itália estava em poder de Roma.
         Mas essa conquista não foi fácil como parece. Contra os samnitas, um aguerrido povo das montanhas, os romanos sofreram uma das mais humilhantes derrotas de sua história. Contra os volscos, outro povo itálico, a traição de um general, Coriolano, obrigou os romanos a apelar às mulheres para salvar a cidade - a mãe e a esposa do traidor conseguiram demovê-lo da guerra.
         O pior momento, porém, para os romanos, foi a derrota diante dos senones, um povo celta do norte da Itália, que venceram o exército romano, invadindo e saqueando a cidade, em 387 a.C. - os celtas tinham uma cultura diferente da dos romanos, tecnologicamente mais simples. Os romanos os chamavam "bárbaros".
         A prova decisiva veio quando os romanos perceberam que, para alcançar objetivos mais amplos, teriam que dominar as grandes ilhas do Mediterrâneo e a principal fonte de minérios mais próxima: as ricas minas de metais da Península Ibérica, que os romanos chamavam de Hispania. Entretanto essa região era também considerada estratégica por outra grande cidade, Cartago, dominada por uma poderosa elite de comerciantes de cultura fenícia, e que já havia estabelecido colônias na região. Contra Cartago, Roma travou três guerras, chamadas Guerras Púnicas.
         Na primeira, Roma, ainda sem uma marinha de guerra, tinha tudo para perder, mas, sendo mais perseverante e investindo mais, conseguiu "virar o jogo" e ganhar a guerra no último momento, conquistando as ilhas da Sicilia, Córsega e Sardenha, além de uma indenização milionária.
         Na segunda guerra, um general cartaginês, Aníbal, vindo da Espanha, cruzou os Alpes, entrou na Itália e aplicou no exército romano a mais sangrenta derrota de sua história, na batalha de Canas, chegando aos muros de Roma. Entretanto, abandonado pelos seus, pois os comerciantes cartagineses achavam que a guerra estava ficando muito cara, não pode tomá-la. Os romanos, então, desembarcaram na África e atacaram Cartago diretamente, e após derrotarem Aníbal, impõem um tratado arrasador: Cartago perdeu todas as suas colônias, sua poderosa marinha de guerra, ficando restrita à sua área urbana e aos terrenos ao redor.
         A terceira guerra começou devido a enorme capacidade de recuperação financeira e comercial de Cartago, que preocupava tanto aos romanos, a ponto de um de seus líderes, Catão, sempre terminar seus discursos no Senado falando: "e além de tudo o que eu disse, Cartago deve ser destruída!". Os romanos aproveitaram de um desentendimento entre os cartagineses e um rei africano, para enviar um ultimato: os cartagineses deveriam abandonar a sua cidade, o que eles recusaram. Seguiu-se então um cerco memorável de três anos, onde os cartagineses fizeram de tudo para se superar, mas foi em vão. Roma venceu, e Cartago foi completamente arrasada em 146 a.C.
         Após vencer Cartago na Segunda Guerra Púnica, os romanos se voltaram com toda força contra a Macedônia, que havia apoiado aos cartagineses, dando início a um ciclo de três guerras, que resultaram na derrota completa dos herdeiros de Alexandre Magno. O passo seguinte foi a conquista da Grécia, garantindo aos romanos um posição estratégica no comércio entre oriente e ocidente, que eles logo fizeram convergir para Roma, passando por Alexandria, no Egito, esvaziando o poderio e o esplendor das cidades gregas.
         A conquista da Grécia, porém, teve um preço: a assimilação da cultura grega pelos romanos foi tal que os estudiosos consideram que à Civilização Helenística seguiu-se a Civilização Greco-romana, uma fusão das duas culturas. Isso era tão evidente que o poeta romano Horácio, disse em uma de suas obras: "A Grécia cativa, dominou o seu rude conquistador". Escravos gregos letrados eram vendidos por altíssimo preço no mercado de escravos, e os ricos pagavam esse preço para fazê-los preceptores de seus filhos - um preceptor é uma espécie de professor particular que leciona só para um aluno e, nesse caso, mora na casa do aluno. Saber falar grego e conhecer a cultura helênica passou a ser um sinal de superioridade social, parecido, nos dias de hoje, com a obrigação de saber inglês.
         Nesse momento, porém, o Império Selêucida, tenta interferir na Grécia, mas sofre uma grande derrota frente aos romanos, em 190 a.C., e nunca mais se reergueu, até ser extinto em 63 a.C., transformado em uma província romana. Os romanos passaram então a dominar as regiões mais ricas do Oriente Próximo, e com a queda do Egito, após a guerra civil que deu fim à República Romana, o Mediterrâneo tornou-se uma espécie de lago romano, e passou a ser chamado por eles de Mare Nostrum (Nosso Mar).
         A conquista do Oriente também teve um preço cultural a ser pago, pois milhares de orientais se mudaram para Roma, causando mudanças paulatinas nos hábitos locais, acrescentando novos costumes, nem sempre bons. Desconsolado com todo aquele orientalismo, que ele julgava ser um sinal de decadência dos costumes romanos típicos, o poeta Juvenal escreveu: "o rio Orontes (da Síria) desaguou no Tibre". A cultura romana clássica se modificava a olhos vistos
         Na Europa Ocidental, exércitos romanos comandados por generais brilhantes e ambiciosos, como Julio César, conseguiram conquistar territórios imensos e muito povoados na Gália (França, Suíça, Bélgica, Holanda) e na Britânia (Inglaterra), habitadas por povos celtas, entre os anos de 58 e 51 a.C., gerando enormes saques que seguiram para Roma, deixando o povo admirado e orgulhoso, enquanto uma boa parte seguia para os bolso do general e seus financiadores, criando do dia para noite uma legião de homens muito ricos, que só pensavam em se dar bem, a revelia do interesse público, e também grande desconfiança entre os senadores, grandes proprietários patrícios, que temiam o poder de generais, como César, ligados ao partido da plebe.
         A sociedade romana, que já vinha experimentando sangrentas, mas ainda localizadas, disputas pelo poder, se dividiu de vez após o assassinato de Julio César, em 44 a.C., quando houve uma guerra civil geral, que culminou com o fim da República e o estabelecimento de um regime tipo monárquico, dando início a um novo período na história da cidade conhecido como Império Romano.
                  
Império Romano (27 a.C. - 476)
         Com a derrota dos patrícios republicanos, o regime político de Roma se tornou, na prática, monárquico, com o governo vitalício de Otávio Augusto, embora muitas instituições republicanas tivessem sido mantidas, mas só de fachada. Para dar um ar de continuidade republicana, Augusto aceitou apenas o título de Princeps - que quer dizer "primeiro cidadão" ou "principal", daí a primeira fase do Império ser conhecida também como Principado (de 27 a.C. a 284).
         Augusto fez um longo governo, dando início a um período de pacificação interna e redução de guerras de conquista, conhecido como Pax romana - paz romana - que durará uns 200 anos, período em que a Civilização Romana conhecerá uma prosperidade sem igual na Antiguidade, e espalhará as sementes de sua cultura por toda a costa do Mediterrâneo ou em regiões longínquas, como a Inglaterra, o interior da África e da Ásia, havendo indícios de contatos com indianos e chineses.
         Esse primeiro período, que conheceu imperadores brilhantes e administradores geniais como Trajano e Adriano, viu também psicopatas sanguinários subirem ao poder, como Nero e Calígula, que devastaram a política com o assassinato de muitos líderes e pessoas importantes, até que um dos piores dentre eles, o imperador Cômodo, um demente viciado em jogos de gladiadores, assume o poder, em 180, dando início a um período de intensa crise política e econômica que será conhecido como a Crise do Século III, que durará até 284.
         Durante a Crise haverá um período particularmente difícil para os romanos, chamado de Anarquia Militar, entre 235 e 284, durante os quais 26 imperadores se sucederam, dos quais só um teve morte natural. A luta pelo poder encheu as ruas da cidade de lágrimas e sangue, misturado com fome, surtos de pestes e o desencanto geral dos romanos por sua cidade e pelo império.
         Em 284, Diocleciano, filho de um ex-escravo, torna-se imperador e dá início a um novo regime, o Dominado, e a uma série de reformas que ajudarão a prolongar a existência do Império; a principal delas foi a divisão do Império em uma parte Ocidental, com capital em Roma, governada por Maximiano, e uma parte Oriental, com capital em Nicomédia, na Turquia, governada por Diocleciano, que preferia usufruir da enorme riqueza das províncias do Oriente a viver numa Roma mergulhada na crise e na violência. Diocleciano e Maximinao chamavam a si próprios "augustos", e fizeram associar a eles dois outros governantes menores, que eles chamaram "césares", formando a Tetrarquia - governo dos quatro.
         Diocleciano tentou também fazer uma reforma econômica, estabelecendo o controle oficial de preços, mas a sua política deu errado e o império mergulhou em mais uma crise econômica.
         A divisão entre a parte oriental do Império, urbana e muito próspera, e a parte ocidental, decadente e em processo de ruralização, causado pela insegurança e desabastecimento  das cidades, pois o comércio regular e os serviços públicos estava comprometidos pela desordem política e a crise econômica, se torna definitiva com a morte do imperador Teodósio o Grande, em 395, quando seus dois filhos, Honório e Arcádio, acordaram a divisão do Império. Honório, que ficou com Roma e o Ocidente, tinha apenas nove anos! - dizem que, em 410, quando Roma foi saqueada pelos visigodos alguém chegou a Honório, instalado em Ravena, a nova capital, e disse: "perdemos Roma!" Ele ficou desconsolado, só se acalmando quando soube que se tratava da cidade e não de sua galinha favorita. Ele era um fanático criador de galináceos.
         Para que se ter uma ideia de como a crise política comprometia a própria identidade do Império, basta saber que, com a disseminação de golpes de estado sangrentos, desferidos por generais sedentos de poder, os imperadores passaram a ver neles os seus piores inimigos, e assim que um deles se destacava demais nas lutas contra os invasores e inimigos estrangeiros, invariavelmente o imperador providenciava o seu assassinato, como aconteceu com os dois maiores generais dos últimos anos de Roma: Estilicão e Aécio. Tornara-se perigoso dedicar-se a Roma.
         Governado por homens incapazes, e até por loucos, o Império Romano extinguiu-se quando o último imperador, Rômulo Augústulo, com apenas 14 anos, foi deposto do trono e o rei bárbaro Odoacro, declarou oficialmente o fim do Império, em 476.

Sociedade, Economia e Política Romanas.
         Povo agrícola, com um forte pendor militarista, os primeiros romanos valorizavam a simplicidade, a discrição, a piedade religiosa, o trabalho duro, os costumes antigos, a devoção à comunidade e o culto da lei. Um dos maiores exemplos do ideal de cidadão romano foi Cincinato que, chamado para ser ditador - chefe supremo, temporário, nomeado em ocasião de crise - e comandar o exército numa guerra, venceu os inimigos e devolveu o cargo meses antes do fim do mandato, para se dedicar a trabalhos agrícolas em suas terras. Ao contrário dos gregos, muito fechados e racistas, os romanos eram cosmopolitas, abertos à influência estrangeira. Vários imperadores nasceram fora de Roma.
         Uma instituição muito valorizada pelos romanos era a família, mas a família patriarcal, onde o marido e pai, o pater familias, detinha poder quase absoluto sobre esposa e filhos, podendo inclusive puni-los com a morte, embora na prática esse poder fosse moderado pelos costumes e pela necessidade que todos tinham de dar um bom exemplo, e por isso mesmo uma simples ação de divórcio precisava ser muito bem justificada pelo pater, para não enfrentar a ira do Senado. Ele, o pater, acertava o casamento dos filhos, mas havia abertura para a opinião destes sobre o assunto. E o sentimento sincero de amor entre um casal era socialmente valorizado. Era comum os grandes patrícios romanos se fazerem retratar ao lado de suas esposas.
         Havia uma família sólida, centralizada, com regras estritas e claras, que cultuava os antepassados e gênios protetores específicos chamados lares. Em cada casa havia um altar para estes, a quem prestavam culto, sob a orientação do pater, que era também o sacerdote da casa. Com o passar do tempo, já no final da República, essa família foi se desagregando sob o peso da escravidão e da corrupção geral dos costumes, ao mesmo tempo em que, num movimento oposto, filhos, esposas e escravos foram adquirindo mais direitos. Certamente que uma coisa, a aquisição de mais direitos, não implica na outra, a decadência dos costumes, pois há muito mais coisas envolvidas nesse processo histórico.
         O pendor militarista fez com que eles criassem um exército invencível no seu auge. Muito organizado e tecnológico. A sua base era a legião, uma unidade de combate terrestre com tropas de apoio e cavalaria. No início as legiões eram constituídas só por cidadãos romanos, devotados à sua cidade, mas com o tempo, devido ao excesso de ingerência dos militares na política, eles transferiram a sua lealdade para o seu comandante, e mais tarde para quem os pagasse melhor. No final os imperadores tiveram que recorrer a povos bárbaros, principalmente germânicos - povo de nível tecnológico mais simples, semelhante ao dos celtas - para formar tropas e generais para comandá-las, pois os romanos, viciados no luxo, não queriam mais lutar.
         As maiores campanhas do exército foram a vitória sobre de Cartago e a conquista das Gálias, mas essas guerras também foram fatais para Roma, pois a encheram de escravos - só das Gálias, acredita-se, veio um milhão deles - desvirtuando o caráter do povo. Com tantos de homens e mulheres à sua disposição, o romano médio esqueceu as virtudes tradicionais. O trabalho foi desvalorizado, enquanto um grande número de pessoas livres se sujeitava a viver da esmola pública ou privada, na condição de cliente - gente que era sustentada por ricaços ou pelo Estado, em troca de lealdade ao seu patrono. No início do Império, mais de 350 mil pessoas viviam de doações do estado.         
         Aqueles que tentaram solucionar a situação, como os irmãos Caio e Tibério Graco, que lutaram entre os anos de 133 e 122 a.C. por uma ampla reforma agrária, que atendesse aos necessitados e veteranos das forças armadas e da plebe, foram brutalmente assassinados pelos senadores patrícios e os seus clientes. Mas também é preciso dizer que muitos plebeus e veteranos, beneficiados com essas terras, recusavam-se a tomar posse delas, preferindo a vida mansa e ociosa de cliente em Roma.
         A escravidão se tornou o motor da economia romana, levando à falência o pequeno agricultor, impossibilitado de concorrer com a grande propriedade movida por centenas de escravos. Isso gerou uma queda na produção de alimentos, em favor de outras culturas para exportação, gerando carestia e desabastecimento crônico, numa cidade que não parava de crescer.
         Os maus tratos, no auge do escravismo, geraram várias revoltas sangrentas, das quais a mais conhecida foi a Revolta de Espártaco, de 74 a 73 aC, quando um gladiador chamado Espártaco liderou uma multidão de escravos e camponeses desgostosos, chegando a ameaçar Roma, antes de ser derrotado e morto. Também houve rebeliões de escravos muito sangrentas na Sicilia. Mas com o passar dos anos, principalmente no fim do Império, foram aprovadas várias leis para proteger o escravo.
                O descaso com a vida humana, como no caso extremo dos jogos de gladiadores - lutas em que os atletas podiam morrer de verdade disputadas em arenas repletas de gente, vibrando e torcendo a cada golpe - é também um sintoma da decadência moral provocada pela escravidão onipresente e a compulsão pela guerra. Esses jogos eram tão populares no Ocidente, que nem depois de Roma ter se tornado majoritariamente cristã cessaram de pronto. No Oriente essa "moda" não pegou.
         A prosperidade e a fama de Roma tornaram-na uma cidade gigantesca, consumindo as riquezas produzidas em outras partes, gerando despesas monstruosas, que eram pagas com o aumento de impostos, e um controle brutal sobre o trabalho e a vida das pessoas, livres ou não. Mas a instabilidade mental e emocional de diversos governantes não permitiu qualquer saída, e as reformas arbitrárias das finanças, pagamentos milionários de suborno, etc., acabaram por inviabilizar qualquer recuperação econômica e social séria. Se a isso somarmos a confusão e a violência geradas na luta pelo poder, pois não havia uma lei regulando a sucessão dos imperadores, vemos que era um beco sem saída. Generais ambiciosos punham seus soldados para lutar nas ruas de Roma. Quem acabasse vivo ficava com o poder e o título de imperador, torcendo para não ser, posteriormente, morto por seus soldados, subornados por outro pretendente.
         Não é de admirar que, apesar de Roma ter uma grande muralha e uma população mobilizável enorme, a cidade caiu sem resistência diante de povos muito mais fracos tecnologicamente, porque ao primeiro sinal da chegada destes às portas da cidade, como aconteceu em 410 e 455, a população mais pobre acorreu para abrir os portões e recebê-los como libertadores.

Os Romanos em Portugal
         A ocupação romana da Península Ibérica vai ocorrer na esteira das guerras contra Cartago, na metade do século II a.C. Não será uma tarefa fácil, pois os romanos encontrarão uma viva resistência dos povos locais, chamadas celtíberos, uma mistura de povos celtas com povos mais antigos que habitavam a península desde pré-história: os íberos, com quem os celtas se misturaram.
         Entre os que resistiram a ocupação romana encontravam-se os lusitanos, um povo que habitava o centro sul de Portugal e o oeste da Espanha, e que entre os anos de 151 e 139 a.C. moveu uma guerrilha tão bem-sucedida, que os generais romanos se viram obrigados a subornar gente da guarda pessoal do principal chefe lusitano, Viriato, para que o matassem, inviabilizando a continuidade da luta. No final toda área foi conquistada e as tribos locais receberam um fino verniz da cultura latina, a exceção de Lisboa, onde havia uma grande presença romana.
         O domínio romano foi mais intenso no sul e fraco no norte, onde se falava um latim modificado, ou latim vulgar, que, misturado a outras línguas, dará lugar ao português hoje falado em Portugal e em suas ex-colônias. O território ocupado foi intensamente utilizado para a produção de cereais, exportados para Roma, fazendo prosperar as propriedades rurais típicas dessa época: as vilas.
         Não havia, em Portugal, uma única cidade livre, onde se pudesse praticar livremente os usos e costumes dos celtíberos, indicando que em todas elas houve resistência à dominação romana. Nos campos e nas regiões montanhosas, onde havia comunidades lideradas por chefes patriarcais, os romanos estipulavam um imposto que era cobrado diretamente a esse chefe. Este, premido pela situação, via-se obrigado a se tornar cobrador de impostos para o invasor, cortando o elo de lealdade entre ele e a comunidade, dificultando o aparecimento de lideranças "problemáticas", para os romanos.

O Cristianismo
         A religião cristã nasceu dos ideais de um carpinteiro de judeu, chamado Jesus Cristo, ajudado por um grupo de pescadores, sem outros recursos que a consciência de terem presenciado um fato único, além da pregação de um homem incansável chamado Paulo de Tarso, que saíram pelo mundo a pregar uma nova abordagem religiosa, que eles chamavam, em grego, "Evangelho de Jesus Crsito", que quer dizer "Boa Nova de Jesus Cristo". Era algo que tinha tudo para dar errado, mas que mudou a civilização ocidental, e nesse sentido o cristianismo é uma religião única.
         Segundo uma tradição aceita pela Igreja Católica, Pedro, um dos colaboradores próximos de Jesus, viajou para Roma e lá morreu por volta de 67, como bispo da cidade. Não se sabe quem foi que levou o cristianismo a Roma, mas aí ele atingiu os anseios das camadas mais pobres da população, e depois, graças à boa qualidade das estradas, se espalhou rapidamente dentro do império e além de suas fronteiras.
         Os imperadores romanos a princípio não se preocuparam, considerando-o como mais uma das inúmeras religiões orientais que se espalhavam pela cidade, sem nunca deixarem de ser minoritárias ou marginais, mas que, por razões não muito claras, começou a chamar a atenção negativamente, atraindo sobre seus fieis violentas perseguições, incompatíveis com o espírito de tolerância dos romanos em matéria de religião.
         Com o imperador Nero, em 64, teve início vários ciclos de perseguições públicas e sangrentas, com muito requinte de crueldade, movidas pelos imperadores contra os cristãos, atingindo o seu auge no reinado de Diocleciano, até que o Edito de Milão, decretado pelo imperador Constantino, em 313, acabou definitivamente com as perseguições, declarando o cristianismo uma religião legal.
         A força do cristianismo romano foi reforçada pelo imperador Teodósio I, que o tornou a religião oficial do Império Romano, em 380, acabando com o apoio do estado ao politeísmo tradicional, e praticamente forçando a conversão dos habitantes do império, pois naquela época seria inconcebível que a população de um reino tivesse uma religião diferente da do seu rei. A partir daí a força da Igreja só fez crescer até que, em 390, aconteceu algo inusitado. Como Teodósio tivesse mandado matar sete mil pessoas na ilha grega de Tessalônica, como punição pelo assassinato do prefeito local, o Bispo Ambrósio de Milão impediu-o de entrar na catedral da cidade, enquanto ele não fizesse penitência pelo excesso que cometera... O imperador se submeteu.
         O cristianismo romano rapidamente começou a alterar o perfil da cultura do império, graças a atuação de intelectuais brilhantes, como o erudito São Jerônimo, que traduziu a Bíblia do hebraico antigo e do grego para o latim, numa edição que ficou conhecida como Vulgata, que é até hoje o texto bíblico oficial da Igreja Católica - Jerônimo foi um dos primeiros a alertar contra uma leitura muito literal da Bíblia.
         O bispo Agostinho de Hipona, um filósofo pagão convertido, começou a criar uma ponte entre a filosofia e a cultura clássica com o cristianismo, sendo por isso considerado o fundador da teologia cristã. Em Confissões, ele narra os acontecimentos de sua vida, em especial de sua conversão, com tanta sensibilidade e análise psicológica, que o livro é lido com interesse até hoje. Já no livro A cidade de Deus, pregou a separação radical entre o mundo real e o mundo espiritual, defendendo a superioridade deste sobre aquele, criando uma interpretação do sentido da história a partir da fé cristã. Já a sua doutrina da predestinação - a crença de que o destino de cada um está irremediavelmente traçado no dia desde o dia de seu nascimento - não foi bem aceita, sendo condenada parcialmente pela Igreja. Entre suas frases mais famosas estão: "tarde te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova [Deus], tarde te amei! Estavas dentro de mim, e eu estava fora e aí te procurava... estavas comigo e eu não estava contigo!", "fizeste-nos para ti [Deus], e o nosso coração vive inquieto até que repouse em ti" etc.
         Vivendo numa época mais agitada e insegura, Boécio, um filósofo cristão que viveu na corte de um rei bárbaro, após a queda de Roma, continuou na linha de valorizar o conhecimento da cultura clássica para dar mais base e enriquecer a fé cristã. Vítima de boatos, porém, ele foi preso e condenado à morte em 524. Houve ainda outros, como Tertuliano, um apologista apaixonado, e brilhante frasista: "o sangue de mártires é sementeira de cristãos". No Oriente, destacaram-se grandes pensadores e eruditos cristãos, como Orígenes, que escreveu uma obra que impressiona pela quantidade de temas e a profundidade de sua análise, além de muitos outros. Os pensadores mais abalizados e prestigiados dos primeiros séculos do cristianismo passarão à história com o título de Santos Padres, sobre cuja doutrina a Igreja construirá seu edifício teórico.
         Os cristãos, enfim, criaram uma estrutura poderosa e bem organizada, baseada em homens estudiosos, compenetrados de sua missão, com um forte senso de hierarquia, de lealdade, e totalmente dedicados (nem se casavam!), conhecida como Igreja Católica Romana, de sorte que quando o império caiu ante os bárbaros, o Bispo de Roma, também chamado Papa, assumiu o governo da cidade.

Modo de Produção Escravista ou Antigo
         No Ocidente desenvolveu-se, segundo a concepção marxista, outro tipo de modo de produção, baseado em uma forma diferente de produzir riquezas e nas diferentes relações sociais que daí surgiu chamada de relações de produção, porque são determinadas pela forma como a sociedade produz suas riquezas, e, no caso das sociedades romana e grega, derivadas da utilização em larga escala da mão de obra escrava, transformando a compra e venda desta num importante setor da economia.
         Não é que no Oriente não houvesse escravos, mas eles eram em pequeno número e em geral usados em trabalhos especializados ou em atividades domésticas, com peso irrelevante na economia. No Ocidente, ao contrário, eles moviam os setores importantes, como a mineração, o grosso do artesanato e a agricultura.
         As guerras romanas eram, em alguns casos, um empreendimento semiprivado, que servia para lançar a candidatura de um político novato, como aconteceu com César, nas Gálias, e, seguindo esses exércitos iam traficantes de gente, prontos para tomar os prisioneiros e levarem-nos para a venda, repartindo os lucros com o general. A coisa era tão disseminada que calcula-se que no século I a.C. viviam na Itália cerca de 4.500.000 pessoas livres e uns 3.300.000 de escravos.
         A existência desse modo de produção exige:
a) Uma sociedade com uma visão utilitarista da realidade, inclusive em matéria de religião, que não dava ênfase às questões morais ou submissão a seres espirituais.
b) Uma rede extensa e integrada de comércio, com um amplo domínio de uma classe, a expensas do resto da sociedade e de alguma forma controlando o Estado.
c) Uma razoável acumulação de capitais, ou riquezas, para investimentos em mão de obra, em mãos de particulares.
d) Uma clara noção de propriedade privada, relativamente protegida das ingerências estatais, quando não tomavam terras do Estado, como aconteceu com as elites romanas que viviam se apropriando de terras públicas, causa de muitos conflitos. A noção mais intensa de propriedade privada e do poder do indivíduo, favorecerão ao desenvolvimento da escravidão sem peias, que caracterizou o auge desse sistema sob o Império Romano.
e) Um forte aparato de repressão, coeso, eficiente e bem comandado, para dar cabo das revoltas que inevitavelmente aconteceriam (as legiões).
f) Uma classe social, claramente caracterizada e organizada em torno dessa prática, da qual tirava sua renda e até a sua identidade social.
         Além disso, seria necessária uma fonte contínua de fornecimento escravos, uma vez que a perspectiva de vida do escravo era curta e criá-los desde a infância era oneroso e incerto, algo que se torna muito problemático quando o império chega ao seu auge, e o seu gigantismo impede que prossiga crescendo e capturando novas populações. Nesse momento o fluxo de escravos cessa, há uma crise na mão de obra, com sério reflexo na produção e na identidade das pessoas. A sociedade se encontra em um beco sem saída.

Vocabulário

Alexandre Magno: discípulo do filósofo Aristóteles, Alexandre foi um fenômeno da história. Com apenas 20 anos foi feito rei da Macedônia, em virtude do assassinato de seu pai, Filipe II, e partindo imediatamente para a guerra de conquista, em um curto período de apenas 13 anos, ele conquistou todo o Império Persa, e regiões remotas da Ásia Central, chegando até as fronteiras da Índia, sendo obrigado a voltar atrás apenas por causa da rebelião de seus soldados. Alexandre acabou morrendo na cidade de Babilônia aos 33 anos de idade, de uma doença misteriosa. Seu grande mérito, porém, foi reconhecer o valor dos costumes orientais, estimulando uma fusão entre a cultura grega e a dos povos do Oriente, dando ele próprio o exemplo ao se casar com uma princesa persa. Da fusão pacífica entre elementos gregos e orientais surgiu uma nova cultura, com predominância de costumes gregos, na região do Oriente Próximo e na Europa Meridional, que recebeu o nome de Helenismo. Essa predominância do Ocidente sobre o Oriente na região vai durar até a chegada do islamismo, a partir do século VII, que eliminará todos os traços da cultura ocidental na região. Logo após a morte de Alexandre, o seu império se extinguirá, despedaçado pela ambição dos seus generais.

Cartago: era uma cidade fenícia situada na atual Tunísia, norte da África, fundada por colonos de Tiro, lá por volta de 820 a.C. Embora estivesse situada numa área muito fértil, a cidade tinha a sua maior fonte de riqueza no comércio de objetos de metais preciosos e metalurgia em geral, transformando-se em centro de importante ourivesaria. Para alimentar a sua indústria, os cartagineses mandavam navios às regiões mais longínquas do Ocidente – o Oriente estava fechado pelos gregos – para negociar com povos mineradores ou se apossar, quando possível, dessas minas. Seus navios chegaram até a Inglaterra, atrás de estanho. Além disso, praticavam a pirataria e a venda intensiva de escravos. Graças a isso Cartago se tornou ama metrópole com uns 400 mil habitantes. Com vistas às minas da Península Ibérica, Cartago construiu, junto a povos locais, uma rede de alianças e feitorias comerciais, que eram uma importante fornecedora de matéria prima. Como os romanos também estavam em busca dessa matéria prima, o choque entre os dois povos vai ser inevitável, e a Segunda Guerra Púnica começará justamente na Península, no cerco da cidade ibérica de Sagunto, por Aníbal, de Cartago, em 219 a.C. O que decretou o fim da cidade púnica, porém, será o seu formidável poder de recuperação, que a tornava temível aos romanos, que a forçaram a uma terceira guerra, e a um cerco memorável, entre 149 a 146 a.C., quando a cidade foi completamente destruída – mais tarde ela será reconstruída por Otávio Augusto, em 29 a.C., com o nome de Julia Cartago.
A Cartago púnica era governada por uma assembleia composta pelos membros das famílias mais ricas e influentes; esta nomeava os membros do Conselho de Anciãos ou Conselho dos Cem (equivalente ao senado romano), e elegia 2 ou 4 sufetas ou sufetes, para governarem a cidade, além dos sumo-sacerdotes e generais.

Celtas: um vasto grupo de povos que habitavam a Europa Ocidental e que os romanos e gregos chamavam “bárbaros”, de maneira pejorativa. Organizavam-se em tribos e já dominavam a tecnologia do ferro. O grau de desenvolvimento tecnológico variava de um povo para outro, mas podemos dizer que os mais avançados habitavam a atual França e a Península Ibérica. Os principais povos celtas e a sua localização geográfica são os seguintes: celtíberos (Península Ibérica, inclusive Portugal), galos ou gauleses (atual França), helvécios (atual Suíça), britanos (na Grã-Bretanha). Eram caracterizados por usarem cabelos nem sempre muito longos e bigodes, e por usarem calça comprida em estampa xadrez. Eram famosos pelo enorme barulho que faziam no campo de batalha.

Dórios, invasão dos: não se tem certeza, hoje, se eles eram um povo que já existia há muito tempo no norte da Grécia, que, em função de um novo contexto, resolveram migrar para os vales do Peloponeso, ou se vieram de fora, liderando uma invasão propriamente dita. O certo é que não há nada conclusivo, nem a favor nem contra. Os dados são os seguintes: a) existe de fato marcas de destruição nas ruínas das cidades micênicas, datando aproximadamente de 1200 a.C., mas que podem ser atribuídas a elementos não dórios, e até a uma guerra civil entre os aqueus; b) ausência de traços da cultura dória fora do Peloponeso; c) mudança na forma da sociedade no Peloponeso, que passou de uma economia palacial – o palácio real como um local que organizava as atividades econômicas, bem como distribuía a riqueza produzida – por uma sociedade de castas, dirigidas por um déspota dório, com acontecia em Esparta.

Engenharia Romana: nada revela mais o caráter tecnológico e prático dos romanos que as suas realizações na área da engenharia civil e militar. São empreendimentos que até hoje assombram pela sua escala, são enormes, sua engenhosidade, simplicidade e pela sua resistência ao tempo. As principais marcas da engenharia romana são:
a) Vias ou estradas: feita por meio da disposição, em um leito previamente preparado, de camadas de pedregulhos de tamanhos variados, com um sutil caimento, que impedia o empoçamento de água da chuva. Os romanos chamavam as suas estradas de “via”, e a primeira delas foi construída em 312, por Apio Claudio, e chamava-se Via Ápia, e chegou a ter, no final, 600 quilômetros. De Roma partiam: a Via Flamínia, a Via Cássia, a Via Aurélia, a Via Salaria, a Via Tiburtina, a Via Casilina. Ao todo os romanos construíram 80 mil quilômetros de estradas, muitas das quais são utilizáveis até hoje.
b) Teatros e Anfiteatros: os gregos construíam teatros aproveitando as disposições do terreno, mas os romanos os construíam-nos em qualquer terreno plano, aproveitando-se do enorme conhecimento de acústica que possuíam, eram estruturas muito maiores e mais complexas que as gregas, e atingiram o seu ápice com o Teatro de Pompeu, cujo palco tinha 90 m de extensão, e que se abria para um semicírculo, onde ficavam os espectadores, de 150 m de diâmetro, onde se acomodavam até 20 mil pessoas. Os anfiteatros, ou ginásios, como hoje nós dizemos, eram outra maravilha, pois alguns eram dotados de um engenhoso sistema de comportas, que lhes permitia ser inundados e mostrar cenas de batalhas navais. O mais famoso anfiteatro foi o Coliseu, erguido em Roma pelo imperador Vespasiano, entre 70 e 72, uma edificação elíptica, com uma altura de 48,5 m (um edifício de 16 andares), com quatro níveis de arquibancadas, sistema de elevadores para as feras na arena, uma lona que poderia ser estendida, cobrindo os espectadores, uma capacidade entre 50 e 70 mil pessoas.
c) Aquedutos: os aquedutos eram estruturas, semelhantes a canais, que levavam água das nascentes de montanhas ou regiões distantes para as cidades romanas. Essa água ora passava por canaletas de pedra ou argila assentadas no chão, ou subterrâneas, ora cruzavam grandes planícies, dentro de enormes paredes, vazadas com arcos, que, em virtude do suave declive, iam carreando as águas de forma controlada para fontes, residências privadas e prédios públicos, de maneira que, se houvesse seca, primeiro secavam as fontes, depois as residências e só depois os prédios públicos. O aqueduto mais antigo foi construído pelos assírios, no século VI a.C., mas os romanos fizeram deles sua engenharia suprema. Roma era abastecida por 11 aquedutos, num total de 350 km, dos quais só 47 eram visíveis, o restante era subterrâneo. O aqueduto romano mais longo era o que abastecia Cartago, com 141 km. Como a única força que fazia o arrasto da água era a gravidade, vários desses aquedutos ainda estão em funcionamento. No Brasil há uma estrutura semelhante, visível nos famosos Arcos da Lapa, ou Aqueduto da Carioca, no Rio de Janeiro, um aqueduto construído em 1744, por Gomes Freire Andrade, o conde de Bobadela.

Era Obscura ou Séculos Obscuros: marcados pelo fim da economia palacial, as pesquisas arqueológicas e alguns relatos identificaram os seguintes elementos nesse período: a) queda acentuada da população; b) o desaparecimento de marcos da escrita; c) declínio do comércio; d) abandono de colônias; e) redução do uso de metais; e) decadência das artes, visível principalmente na ornamentação das cerâmicas. No final desse período haveria a Era Arcaica, antecessora da Grécia Clássica, marcada pela influência de elementos artísticos e culturais vindo do Oriente.

Etruscos: um povo de fala não latina, e origem misteriosa – especula-se que eles vieram de alguma região da Ásia Menor e se teriam relação com uma migração de povos daquela região. Habitando próximos à Roma, eles deixaram nesta várias marcas da sua cultura, como o culto da loba, a importância da mulher, as lutas rituais que deram origem aos gladiadores, o primeiro estilo artístico de Roma, elementos de arquitetura (abóbada de berço, o arco de meio ponto, cúpula), além de pelo menos dois reis de origem etrusca que governaram Roma. Apesar de terem construído uma poderosa civilização, muito pouco se sabe deles que não seja por fontes externas, pois até hoje a sua escrita apresenta muitos problemas de tradução, e quase não sobraram textos. A proximidade de Roma e a divisão de suas cidades, cada uma formando um reino independente, os enfraqueceram e facilitaram a sua absorção pelos romanos.

Gladiadores: acredita-se que o hábito da luta de gladiadores derive de uma luta entre escravos, muito apreciada pelos etruscos, e que se dava quando do funeral de alguém importante, muito parecidos com os jogos fúnebres descritos na Illíada de Homero. Havia classes de gladiadores nomeadas em função do armamento que usavam. Eventualmente eles também lutavam contra animais. Era um jogo cruel, e a possibilidade do gladiador morrer nele era verdadeira, mas, aparentemente o índice de mortalidade não era tão alto quando aparece nos filmes, pois o treinamento de um gladiador para espetáculos de ponta não era nada barato, e a multidão não iria gostar nada de ver uma luta sem emoção, sem perícia, e lances de habilidade dos dois lutadores. Agora, se o combate fosse até a morte, o valor do espetáculo a ser pago pelo patrocinador ao lanista, o homem que treinava os gladiadores e era o se dono, aumentava muito. Acredita-se que a última luta de gladiadores aconteceu em 404, quando o Império Romano, há mais de um século, era cristão! Isso mostra o apego tremendo que os romanos tinham por esse esporte, como hoje nós temos pelo boxe, UFC e MMA, apesar de conhecermos os efeitos terríveis que pancadas constantes na cabeça causam nos cérebros desses esportes.

Homero e Illíada: a Illíada é o nome que se dá ao poema que descreve as aventuras dos gregos durante a Guerra de Troia – Troia em grego é também chamada Ilion. O poema começa pela ira que se apossa de Aquiles, o personagem principal e o maior herói grego nessa guerra, após o rei Agamenon ter-lhe arrebatado uma prisioneira valiosa, por quem se afeiçoara, embora, pela mentalidade da época, a sua ira viesse da humilhação pública de ter que ceder sua conquista a outrem. Aquiles, porém, volta à guerra depois que o herói troiano Heitor mata o seu protegido, Pátroclo, por engano. Aquiles, forçado pela obrigação da vingança de sangue, uma vez que Pátroclo é seu parente, mata a Heitor e começa a desequilibrar a guerra, quando Páris, o raptor da rainha Helena, fato que deu início ao conflito, consegue mata-lo com uma flechada no calcanhar, a única parte de seu corpo que não era invulnerável. A história acaba aqui, e apesar de seu aspecto fantasioso, ou talvez por causa disso, essa obra teve um efeito espetacular na sua época e nos milênios seguintes, de tal sorte que é considerada por muitos como a obra fundadora da literatura ocidental e de toda a cultura ocidental. Aquiles era tido, no Ocidente, como o protótipo do homem prefeito, e o próprio Alexandre Magno se espelhava literalmente nele. Sobre Homero, o autor da Illíada, quase nada se sabe, exceto que há uma tradição que diz ser ele um poeta errante, um aedo, que apesar de cego, vagava de cidade em cidade cantando os versos de seu poema, criando, sem o saber, um dos maiores sucessos literários de todos os tempos. Ele teria vivido entre os séculos VIII e VII a.C. 


Indo-europeu: termo usado para designar povos e línguas criados a partir da fragmentação de uma nação muito heterogênea e antiga, que aparentemente vivia nos planaltos da Ásia Central e que, por alguma razão começou a se dispersar a partir de 3 mil a.C., tomando tanto o rumo do sul, para a Índia, como para o oeste, ocupando vastas áreas do Oriente Próximo e da Europa, em períodos diferentes. Isolados uns dos outros esses povos teriam criado línguas diversas a partir de um núcleo gramatical comum, que se manteve, além de alguns costumes que, logicamente, mudarão muito com o tempo – normalmente atribui-se a esses povos um caráter mais militarista, patriarcal e tecnológico. O deslocamento esses povos, chamado de migrações proto-históricas, causaram um tremendo tumulto na área do Mediterrâneo Oriental e na Europa, acredita-se que eles foram os responsáveis pela destruição do império hitita, pelo ataque dos Povos do Mar ao Egito, pela destruição da Civilização Micênica, etc., e que seriam os introdutores de uma religiosidade mais ligada ao elemento masculino, a figura de “deus pai”, em substituição à “deusa mãe”, cultuada por povos pré-históricos diversos, na área do Mediterrâneo. Entre as línguas indo-europeias mais importantes temos hoje: o hindi, o persa, o inglês, espanhol, francês, português, alemão, italiano, russo, etc.

Lei das Doze Tábuas: nos primeiros 50 anos da república a relação entre patrícios e plebeus azedou muito. As leis que regiam os cidadãos eram baseadas na tradição e em costumes antigos, arbitrariamente interpretados pelos patrícios, que assim impunham a seu bel prazer penas severas contra os aqueles – só os patrícios podiam ser juízes em tribunais. Incomodados, os plebeus solicitaram que as leis fossem escritas e expostas para o conhecimento de todos, evitando tanto o erro do criminoso com o abuso dos juízes, e, após alguma relutância, os patrícios concordaram no pedido e foi escolhida pelo Senado uma comissão de dez magistrados, os decênviros, para elaborar um código jurídico aplicaável a todos os cidadãos. Os trabalhos duraram de 451 a 449 a.C., e o resultado foi escrito em doze tábuas de madeira, contendo recomendações e artigos de lei, aleatoriamente ordenados, sobre os principais temas da convivência entre os moradores da cidade. Essas leis, depois transpostas para tábuas de bronze, foram fixadas em um muro do Forum, o centro de Roma, e lá ficaram até 390 a.C., quando foram destruídas pela invasão dos gauleses de Breno.

Liga Beócia: a Beócia era uma região situada no centro-norte da Grécia, cujas cidades viviam unidas em uma federação desde o século VII a.C., embora tivesse uma importância apenas periférica, diante dos colossos de Atenas e Esparta. O centro de poder da liga era a cidade de Tebas. Com o desgaste daquelas cidades na Guerra do Peloponeso, a liga conheceu um grande, embora breve, apogeu no mundo helênico, graças a dois generais tebanos geniais: Epaminondas e Pelópidas. Em 371 a.C., Epaminondas consegue uma vitória rara e esmagadora sobre um exército espartano, dando início ao domínio de sua cidade sobre as outras cidades gregas, domínio esse sempre contestado pelas poderosas rivais, até o seu fim dramático: tendo-se recusado a se render ante Alexandre Magno, e oferecido grande resistência até o fim, aquele, como vingança, mandou arrasar toda a cidade de Tebas, até os alicerces, em 335 a.C. – dizem que Alexandre só poupou a casa do poeta Píndaro, a quem muito admirava. A cidade foi reconstruída 20 anos depois, mas nunca mais se destacou.

Liga de Delos: foi uma confederação de cidades voltadas para o comércio marítimo, espalhadas ao longo do território continental grego, nas ilhas do Mar Egeu, nas costas d Ásia Menor, chegando até à Península da Crimeia, formada pelo estratego ateniense Aristides, para se contrapor a qualquer tentativa persa de domínio da área. Cada cidade estava obrigada a fornecer um certo número de navios, homens e recurso para as guerras que fossem necessárias, tudo sob o controle de Atenas. A confederação ganhou esse nome por causa do local onde ficava o seu tesouro, a ilha de Delos, porém, com o passar do tempo os atenienses começaram a forçar os seus sócios à submissão, assumindo cada vez mais uma postura imperial, sobrecarregando-os de impostos para pagar novas e malsucedidas campanhas militares contra os persas e o embelezamento de Atenas. Quando, em 454 a.C., Péricles levou o tesouro para sua cidade, a coisa ficou muito evidente, e houve muita revolta contra Atenas. A derrota de Atenas na Guerra do Peloponeso, em 404 a.C., provocou a primeira dissolução da Liga. A segunda, e definitiva dissolução, foi em 338 a.C., causada pela conquista macedônia.

Liga do Peloponeso: era uma confederação de cidades sob o controle férreo de Esparta fundada no início do século VI a.C., e recriada logo após o fim das Guerras Greco-pérsicas. Não era uma união igualitária de cidades, pois a cada momento ficava patente que Esparta estava acima de todas as outras, inclusive não estava obrigada a acatar o que fosse decidido pelos sócios. A liga conseguiu, entretanto, derrotar a sua rival, a Liga de Delos, em 404 a.C., e manteve-se forte, até ser derrotada pela nova liga ascendente: a Liga Beócia, sob o controle de Tebas, em 371 a.C., quando ficou bastante enfraquecida. Ainda assim ela resistiu até 338 a.C., quando foi dissolvida por Filipe II da Macedônia.

Magistrados e Magistraturas: eram, na Antiguidade, aquilo que hoje chamamos cargos públicos, ocupadas por funcionários nomeados ou eleitos, em geral associados às atividades correspondentes ao nosso Executivo e Judiciário. Entre as características desses cargos, em Roma citamos as seguintes: a) formavam um grupo coeso onde um podia vetar as decisões do outro, mas não modificar suas decisões; b) a função era exercida sem recebimento de salários ou renda; c) cada função era exercida por um tempo determinado, nem sempre renovado; d) o titular do cargo respondia por qualquer crime que cometesse  no exercício desse cargo.
         Essa função começou nas cidades gregas, mas a melhor documentação se refere a esses cargos em Roma. As principais magistraturas romanas eram as seguintes:
         a) Consulado: ocupado por dois cônsules (ver no texto).
         b) Pretor: atuava como juiz, mais tarde houve um pretor para julgar os casos envolvendo cidadãos romanos, Pretor Urbano, e outro para casos entre romanos e estrangeiros, Pretor Peregrino. Mandato, um ano.
         c) Censor: era um fiscal tanto de obras como de costumes. Indicado pelo Senado, para um mandato de cinco anos, seu poder era quase ilimitado.
         d) Edil: administrava o conjunto da cidade, sendo o equivalente, mais ou menos, dos atuais prefeitos. Mandato, um ano.
         e) Questores: eram juízes especiais nomeados no momento para julgar casos particularmente graves contra o Estado e os costumes.
         Além destas havia magistraturas especiais, como a Ditadura, que acontecia em casos de grande perigo para a República, como guerras e catástrofes, ocasião em que os cônsules, com a concordância do Senado e das Assembleias, nomeavam alguém para assumir o poder máximo, quase sem nenhum controle, durante seis meses, podendo ser renovado até acabar o perigo.

Magna Grécia: é o nome que se dá a parte do território no sul da Itália, principalmente na costa ao redor do Golfo de Tarento, na Calabria e na ilha da Sicilia, onde colonos gregos criaram várias cidades prósperas, e um foco de cultura e civilização considerável. As colônias dessa região foram fundadas por gente vinda de várias cidades gregas, e como estas apresentavam uma estrutura de cidade-estado, pólis. As colônias mais antigas foram Cumas (1050 a.C.), Síbaris (720 a.C.), Crotona (710 a.C.), Tarento (708 a.C.), Metaponto (entre700 e 680 a.C.), e outras. Essas cidades adquiriram muita riqueza com o comércio, mas também a agricultura e a mineração, e algumas delas se tornaram grandes potências como Neápolis (atual Nápoles, fundada por gente de Cumas), Siracusa (a principal cidade da Sicília e até hoje capital da ilha), sem falar de Síbaris, cujo nome se tornou sinônimo de riqueza e sofisticação, etc. A vida cultural na Magna Grécia era intensa e de alto nível, aja visto que o filósofo Pitágoras, um dos mais famosos pré-socráticos, viveu longo tempo em Crotona, centro de sua escola de filosofia. Tal poderio incomodou vizinhos poderosos, como cartagineses e etruscos, que se aliaram para conter o avanço dos gregos em guerras intermináveis, de resultado incerto. Para complicar essas colônias gregas viviam lutando umas contra as outras também, o que acabou facilitando o domínio posterior dos romanos sobre essa região.

Ostracismo: foi uma medida extrema tomada contra todo suspeito de almejar o poder absoluto na cidade ou de, por sua importância, representar um perigo real ou hipotético à democracia. Essa lei foi criada na reforma de Clístenes, em 510 a.C., e previa que todo ano, entre janeiro e fevereiro, haveria uma reunião solene da Assembleia Popular (a Eclésia), com um quórum mínimo de 6 mil presentes, para votar, sem nenhum debate, quais cidadãos, por suas ações, reais ou supostas, representavam perigo para as instituições democráticas. Escolhido um nome por maioria absoluta, a pessoa teria dez dias para abandonar a cidade e amargar um exílio de dez anos! Embora, na maioria das vezes os exilados fossem chamados de volta antes do prazo. Esse instrumento mostra o horror que os atenienses desenvolveram contra qualquer tipo de governo ditatorial, depois da experiência de Hípias e Hiparco, e por isso quase todos os grandes homens da história de Atenas, como os generais Aristides e Cimon, além do almirante Temístócles, todos heróis da guerra contra os persas, foram vítimas de ostracismo, sem falar de Milcíades, o vencedor de Maratona, a batalha que salvou Atenas em 490 a.C., que foi preso e condenado à morte, morrendo na prisão por causa de uma ferida adquirida no campo de batalha, em favor da cidade, em 489 a.C. Péricles, o maior dos governantes atenienses, também margou o ostracismo.

Pax Romana ou Pax Augusta: período de tempo, em geral contado de 29 a.C., quando Otavio Augusto dá por encerrada a guerra civil e manda fechar as portas do Templo de Janus, até 180, ano da morte do imperador Marco Aurélio. Nessa época continuaram havendo conflitos e guerras, alguns até muito sérios, como as revoltas judaicas, algumas escaramuças contra os persas, contra as tribos germânicas, ou contra as tribos escocesas, mas nada comparado com a conquista das Gálias por Júlio César ou as Guerras Púnicas, e os romanos podiam então se gabar de viver em paz, com um padrão de vida nunca alcançado por um império no mundo antigo ocidental. Os romanos praticavam um ritual sempre que havia paz em seu império: eles fechavam as portas do Templo de Janus. Em diversos períodos da história essas portas foram fechadas e abertas – após o reinado de Túlio Hostílio (673 -642 a.C.)as portas do templo estiveram abertas 400 anos, até pouco depois da Primeira Guerra Púnica, quando foi fechada por oito anos. Janus, deus do começo e do fim das coisas, era uma das divindades mais estranhas do mundo antigo, pois tinha duas faces, uma oposta a outra, podendo ser considerado também deus do ocaso e da sorte, que é a quem se entrega uma nação que entra numa guerra. O fechamento dessas portas era um grande acontecimento, do qual cônsules e imperadores gostavam de se gabar, indicando que a suposta predileção dos romano pela violência e a guerra não era de forma alguma incondicional, sequer predominante em sua cultura.

Péricles: foi o maior líder ateniense do período conhecido como “Clássico”, um dos principais responsáveis pelo apogeu da cidade. No âmbito interno ele se destacou pelo reforma completa que fez na cidade de Atenas, arrasada pelos persas na Segunda Guerra Médica ou Greco-pérsica, dotando-a de belos monumentos e espaços públicos, principalmente pela reforma grandiosa da acrópole, com a construção do Partenon, templo dedicado à deusa Palas Atena, ou Atena, deusa da guerra, da sabedoria, da justiça, da civilização, e principal protetora de Atenas. Esse templo maravilhoso, muito destruído na atualidade, foi decorado de uma maneira deslumbrante pelo escultor Fídias, amigo de Péricles, e no seu interior havia uma estátua da deusa, com 26 m de altura, quase 9 andares, com o corpo feito em mármore branco e as vestes em ouro. Durante seu governo Atenas se tornou o mais importante centro comercial e cultural da Grécia. Sai política externa, porém, não foi muito feliz, pois o seu imperialismo agressivo afastou aliados e acabou jogando a cidade para o confronto com Esparta, da qual Atenas saiu derrotada, em 404 a.C., na Guerra do Peloponeso. Péricles, entretanto, não viu o desfecho da guerra, pois morreu em 429 a.C., dois anos depois da guerra começada. O seu período de governo é conhecido como o Século de Péricles.


Pisístrato, Hípias e Hiparco: o primeiro e tirano de Atenas era um “malandrão”, que por três vezes conseguiu o governo da cidade por meio de golpes, até que na terceira vez ele armou um exército e conseguiu o poder de forma estável, governando sem oposição, enquanto acalmava os adversários, realizava grandes obras na cidade e começava o núcleo de uma poderosa marinha. Dizem que foi ele quem mandou escrever pela primeira vez o texto da Illíada. Pisístratos morreu em 527 a.C., deixando o poder para seus filhos, Hípias e Hiparco, que abandonaram a política de moderação do pai, atraindo sobre si o ódio de gente poderosa, até que Hiparco é assassinado, em 514 a.C., e Hípias se vê obrigado a fugir da cidade. Depois deles nunca mais os atenienses toleraram um governante com plenos poderes sobre eles.

Rômulo, Remo e os Mitos Romanos: ninguém desconfia, por exemplo, que a história dos gêmeos fundadores de Roma, e lutaram até Rômulo matar o irmão, e se tornar o primeiro rei da cidade, é uma lenda, com todos os ingredientes fantásticos de histórias assim criadas. Porém, a pesquisa arqueológica tem descoberto elementos que, aparentemente, confirmam alguma coisa desse mito, e de outros sobre Roma, como a descoberta de uma gruta misteriosa no Palatino, em Roma, em janeiro de 2007, que devia ser usada pelos antigos romanos na comemoração das lupercais, uma festa referente ao episódio da loba, no local onde se acreditava que o animal teria amamentado os gêmeos fundadores. Isso não quer dizer que essas histórias sejam exatas, mas que elas, em meio a elementos fantasiosos, têm um fundo de verdade.

Tetrarquia: a tetraquia foi uma medida extrema, talvez desesperada, tomada por Diocleciano para tornar administrável o Império Romano, salvando-o do colapso iminente, após a Crise do Século III. A sua principal característica foi a descentralização do poder. Inicialmente o império foi dividido em duas porções, a Ocidental, com sede em Mediolano (atual Milão), na Itália, governada por Maximiano, com o grau de “augusto”. A parte Oriental, a mais rica do império, e sob o constante ataque do Império Persa, ficou sob o governo de Diocleciano, também augusto, e tinha a sua capital em Nicomédia, na atual Turquia. Para ajudar Maximiano havia outro governante, com uma posição um pouco inferior, sendo por isso chamado de “césar”, o seu nome era Constâncio Cloro, e a sua sede ficava na cidade de Treveroro ou Trier, na Alemanha. Para ajudar Diocleciano, havia também um césar, chamado Galério, cuja sede de governo ficava em Sírmio, na atua Sérvia. Haveria dois augustos, auxiliados por dois césares, cada um governando vastas áreas do império, dessa forma a tetrarquia representava um desafogo para o excesso de responsabilidades do governante frente a um império tão vasto e diversificado, uma racionalização administrativa, mas as ambições pessoais, entretanto, prevaleceram sobre os interesses da unidade imperial, e após mais uma sangrenta guerra civil a tetrarquia foi desfeita por Constantino, filho de Constâncio Cloro, após vencer e matar a Maxêncio, filho de Maximiano, na batalha da Ponte Milvio, em 28/12/312; batalha que mudou a sorte do cristianismo no Império Romano.

Termópilas, batalha de: essa batalha ganhou grande notoriedade graças ao filme “300”, que, fora o título, não tem nada a ver com a batalha real, ocorrida em três dias, numa data incerta entre 20 de agosto e 10 de setembro de 480 a.C., quando uns 20 mil gregos, entre os quais 300 espartanos, tentaram deter a vanguarda do exército persa, com algo entre 70 e 200 mil homens. No local onde houve a batalha existe, hoje, um monumento ao rei Leônidas e seus soldados, com uma inscrição do poeta Simônides de Ceo que diz o seguinte: “Estrangeiro que por aqui passar, ide e dizei em Esparta que aqui jazemos, dóceis às suas ordens”.

Tirinto, Micenas e Troia: as duas primeiras foram as principais cidades aqueias, prováveis sedes de reino independentes.
Tirinto ficava sobre uma colina de 30 m de altura, ocupando uns 18.000 m², tendo atingido o auge do seu poderio entre 1400 e 1200 a.C.
Micenas, mais imponente e maior era abrigada por uma poderosa cinta de muralhas, com um portão onde se encontram esculturas de leões, a Porta dos Leões, que lembram muito os ornamentos de muralha hititas. Fora de Micenas foi encontrado uma sepultura em forma de abóbada, que ficou famosa na arqueologia e é conhecida como “Tesouro de Atreu” ou “Tumba de Agamenon”, onde foram encontrados objetos de ouro e artesanato de grande qualidade técnica, além de outros de materiais preciosos.
Troia era uma cidade estrategicamente colocada às margens do estreito de Dardanelos, ponto de ligação do Mar mediterrâneo com o Mar Negro, além de ser o local onde a Europa e a Ásia se encontram mais próximas, entre 1,2 e 6 km de largura. Troia se tornou uma cidade muito próspera e razoavelmente populosa, tinha entre 5 e 10 mil habitantes, em uma zona urbana distribuída por 200.000 m². Porém, a cidade tinha uma fragilidade: ficava numa área sujeita a terremotos, e, segundo as pesquisas arqueológicas, após um terremoto devastador, parece que a cidade sofreu o ataque de um povo culturalmente mais atrasado, que deixou marcas duradouras, e que os historiadores tradicionalmente acreditam ser os aqueus. O período desse terremoto e do ataque oscila entre 1300 e 1200 a.C., o que coincide com as migrações de povos indo-europeus.

Viriato e Numância: Viriato foi um guerreiro que conseguiu empolgar os membros das tribos dos lusitanos, e povos vizinhos, que ocupavam o centro-norte de Portugal e parte da Espanha, os quais impuseram uma incrível resistência à dominação romana, obrigando os governadores romanos a negociar paz, durante anos. A guerra movida por Viriato contra os romanos, se coloca dentro de um quadro de guerras maiores, chamadas “Guerras Lusitânicas”, que duraram uns 200 anos e culminaram com a conquista completa da Península Ibérica pelos romanos. A guerra de Viriato começou com a traição do pretor Sérvio Galba, que, atraindo os lusitanos para um acordo matou a milhares, enquanto a outros fez escravos e despachou para as Gálias, em 151 a.C. Viriato começa então um intensa ação de guerrilhas, que entremeada por combates em larga escala, sempre que as condições eram favoráveis, redundou em inúmeras derrotas para os romanos, com morte ou desmoralização de generais renomados, até que os romanos conseguiram subornar três de seus companheiros próximos, que o mataram enquanto dormia, em 139 a.C. Já Numância, na Espanha, era a sede de um poderoso povo celtibero, que de 153 a 133 a.C. travou uma luta encarniçada contra as legiões romanas, até culminar no cerco contra a cidade, pelos romanos, que durou quinze meses e terminou de uma forma inesperada: após por fogo no que sobrara da cidade, a maioria de seus habitantes preferiu se suicidar, das mais variadas maneiras, a cair prisioneira dos romanos. Só uns poucos se entregaram, e foram imediatamente feitos escravos pelos romanos.


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