sábado, 11 de outubro de 2014

NEM UMA NEM OUTRA

Prof Eduardo Simões

         O sociólogo Daniel Cara, da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, levantou uma questão interessante em um artigo recente, exibido pelo site Uol, onde ele denuncia uma grande impropriedade, digamos assim, nos debates hoje em curso no Brasil sobre e o valor da educação, travados quase exclusivamente por economistas, o que já deixa antever qual é o valor majorante na nossa sociedade.
         Segundo Cara, há duas correntes mutuamente contraditórias nesse debate. De um lado, os economistas que, reconhecendo o valor econômico do trabalhador educado, defendem a prioridade de investimentos públicos para a educação, para o bem da economia. Do outro lado, economistas não convencidos do fato anterior, que, alegando o sucesso das empresas em reciclar seus trabalhadores, e que supostos dados estatísticos afirmam que investimentos em outras áreas dão retorno melhor e mais garantido, combatem a prioridade dos investimentos na educação – creio que os economistas são os únicos profissionais que acreditam que os números têm realidade objetiva, e que as estatísticas expressam rigorosamente a realidade, sem a mediação de quem faz a leitura.
         Cara evolui no artigo, afirmando que a educação não pode ser tratada apenas pelo viés econômico, no que eu estou completamente de acordo, mas então ele esvazia a questão a pretexto de a educação ser um direito político e, por conseguinte, deve ser tratada somente por esse prisma, e agora nós discordamos, porque qualquer direito anunciado, sem o devido suporte econômico, é mera declaração de intenções: pode nunca acontecer.
         O segundo grupo de economistas peca pela visão de curtíssimo prazo e por excesso de foco. Primeiramente eles não percebem o longo prazo do processo educacional, e por isso não conseguem notar ainda a catástrofe que vem por aí, porque as empresas ainda estão recebendo alunos que foram educados em escolas minimamente viáveis. Eles não veem, ainda, o nível da ignorância que nós professores já estamos vendo e ouvindo em nossos alunos, e que em breve baterá às portas das empresas. Em segundo, eles ignoram o custo econômico da pobreza, da marginalidade e da ignorância, que eles próprios ignoram. Quem não sabe que cursos ministrados em empresas, para compensar os vazios da formação básica, que deveriam ter sido preenchidos alhures, acabarão por prejudicar as nossas empresas em concorrência com outras que não tenham esses custos? Não se trata aqui, entenda-se bem, de dar uma formação técnica, mas de ensinar a ler, a escrever, a entender um texto, e até o que se acabou de escrever...
          O que temos nesse segundo grupo de economistas é a velha e rançosa tecnocrática, parcial, limitada, dirigida, saída daqueles que fizeram a sua caminhada educacional dentro da casa grande ou que, na senzala, sonhavam com a casa grande, desavisados do mundo ao redor. Quanto a nós, professores, não podemos recusar a discussão desse tema seja em que campo das ideias ela se dê, pois ou a educação é realmente um acréscimo para a totalidade do individuo e da sociedade ou ela não o é, e nesse caso todo esse empenho em mostrar a sua predominância sobre os outros setores não passa de propaganda enganosa, e os garotos da casa grande estariam com a razão.

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