NEM UMA
NEM OUTRA
Prof
Eduardo Simões
O sociólogo Daniel Cara, da Campanha
Nacional pelo Direito à Educação, levantou uma questão interessante em um artigo
recente, exibido pelo site Uol, onde ele denuncia uma grande impropriedade,
digamos assim, nos debates hoje em curso no Brasil sobre e o valor da educação,
travados quase exclusivamente por economistas, o que já deixa antever qual é o
valor majorante na nossa sociedade.
Segundo Cara, há duas correntes mutuamente
contraditórias nesse debate. De um lado, os economistas que, reconhecendo o
valor econômico do trabalhador educado, defendem a prioridade de investimentos
públicos para a educação, para o bem da economia. Do outro lado, economistas
não convencidos do fato anterior, que, alegando o sucesso das empresas em
reciclar seus trabalhadores, e que supostos dados estatísticos afirmam que
investimentos em outras áreas dão retorno melhor e mais garantido, combatem a
prioridade dos investimentos na educação – creio que os economistas são os
únicos profissionais que acreditam que os números têm realidade objetiva, e que
as estatísticas expressam rigorosamente a realidade, sem a mediação de quem faz
a leitura.
Cara evolui no artigo, afirmando que a
educação não pode ser tratada apenas pelo viés econômico, no que eu estou
completamente de acordo, mas então ele esvazia a questão a pretexto de a
educação ser um direito político e, por conseguinte, deve ser tratada somente
por esse prisma, e agora nós discordamos, porque qualquer direito anunciado,
sem o devido suporte econômico, é mera declaração de intenções: pode nunca
acontecer.
O segundo grupo de economistas peca
pela visão de curtíssimo prazo e por excesso de foco. Primeiramente eles não
percebem o longo prazo do processo educacional, e por isso não conseguem notar
ainda a catástrofe que vem por aí, porque as empresas ainda estão recebendo
alunos que foram educados em escolas minimamente viáveis. Eles não veem, ainda,
o nível da ignorância que nós professores já estamos vendo e ouvindo em nossos
alunos, e que em breve baterá às portas das empresas. Em segundo, eles ignoram
o custo econômico da pobreza, da marginalidade e da ignorância, que eles
próprios ignoram. Quem não sabe que cursos ministrados em empresas, para
compensar os vazios da formação básica, que deveriam ter sido preenchidos
alhures, acabarão por prejudicar as nossas empresas em concorrência com outras
que não tenham esses custos? Não se trata aqui, entenda-se bem, de dar uma
formação técnica, mas de ensinar a ler, a escrever, a entender um texto, e até
o que se acabou de escrever...
O
que temos nesse segundo grupo de economistas é a velha e rançosa tecnocrática,
parcial, limitada, dirigida, saída daqueles que fizeram a sua caminhada educacional
dentro da casa grande ou que, na senzala, sonhavam com a casa grande,
desavisados do mundo ao redor. Quanto a nós, professores, não podemos recusar a
discussão desse tema seja em que campo das ideias ela se dê, pois ou a educação
é realmente um acréscimo para a totalidade do individuo e da sociedade ou ela não
o é, e nesse caso todo esse empenho em mostrar a sua predominância sobre os
outros setores não passa de propaganda enganosa, e os garotos da casa grande
estariam com a razão.
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