sábado, 11 de outubro de 2014

O BIG BROTHER DA EDUCAÇÃO PAULISTA

Prof. Eduardo Simões

         Foi lançada recentemente, em São Paulo, a SED, Secretaria Escolar Digital, que pretende dar aos pais de alunos, em tempo real, um relatório minucioso de tudo que o aluno está fazendo, fez ou fará, como se o desarranjo familiar nada tivesse a ver com a ausência das crianças na escola, e como se os pais mais pobres tivessem tempo para seguir o diário escolar dos filhos de forma tão minuciosa, afinal luta pela vida está fácil para esses chefes de família.
         Se esse interesse é tão premente e geral, como o Estado supõe, então por que há tantos conflitos e tão baixo rendimento nas escolas públicas? Será que alguém pensou que computador, indispensável para tornar a SED operacional, ainda é artigo de luxo na maioria dos lares brasileiros, sem falar do sinal de Internet? A massa de dados a servir de alimento para o sistema é simplesmente boçal; o professor não terá tempo de fazer mais nada, além de dar comida para esse monstro.
         Esse formidável sistema de controle vem a propósito de versão eletrônica do primeiro grande sistema de controle instituído no Brasil: a senzala. Os alunos, como escravos, devem alcançar metas de produção, enquanto s professores, como feitores, devem garantir que essas metas serão atingidas, ou sofrerão represálias do senhor da educação do momento.

         Enquanto todos os agentes do sistema imploram por mais psicologia e mais criatividade pedagógica, para que o sistema não vá de vez para o brejo, o governo investe pesado em mais controle. A que interesses ele espera atender? De nada adianta uma sociedade abolir a senzala de fora se é impotente para extinguir a senzala de dentro.

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