O BIG BROTHER DA EDUCAÇÃO PAULISTA
Prof.
Eduardo Simões
Foi lançada recentemente, em São Paulo,
a SED, Secretaria Escolar Digital, que pretende dar aos pais de alunos, em
tempo real, um relatório minucioso de tudo que o aluno está fazendo, fez ou
fará, como se o desarranjo familiar nada tivesse a ver com a ausência das
crianças na escola, e como se os pais mais pobres tivessem tempo para seguir o
diário escolar dos filhos de forma tão minuciosa, afinal luta pela vida está fácil
para esses chefes de família.
Se esse interesse é tão premente e
geral, como o Estado supõe, então por que há tantos conflitos e tão baixo
rendimento nas escolas públicas? Será que alguém pensou que computador,
indispensável para tornar a SED operacional, ainda é artigo de luxo na maioria
dos lares brasileiros, sem falar do sinal de Internet? A massa de dados a
servir de alimento para o sistema é simplesmente boçal; o professor não terá
tempo de fazer mais nada, além de dar comida para esse monstro.
Esse formidável sistema de controle vem
a propósito de versão eletrônica do primeiro grande sistema de controle
instituído no Brasil: a senzala. Os alunos, como escravos, devem alcançar metas
de produção, enquanto s professores, como feitores, devem garantir que essas
metas serão atingidas, ou sofrerão represálias do senhor da educação do
momento.
Enquanto todos os agentes do sistema
imploram por mais psicologia e mais criatividade pedagógica, para que o sistema
não vá de vez para o brejo, o governo investe pesado em mais controle. A que
interesses ele espera atender? De nada adianta uma sociedade abolir a senzala
de fora se é impotente para extinguir a senzala de dentro.
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