sábado, 11 de outubro de 2014

O INIMIGO SOMOS NÓS

Prof. Eduardo Simões

         Li um artigo do grande Ferreira Goulart, onde ele comenta, estupefato, a audácia de um político muito conhecido, que, num momento de desequilíbrio e esquecimento de sua notável biografia, começou a propalar boatos absurdos, e por conta destes conclamou o povo a uma massiva manifestação em frente à Petrobrás, contra aquilo que ele mesmo inventou, que, como era de se esperar, não atraiu quase ninguém, além do poucos que já habitam o gigantesco deserto que circunda esse homem.
         Mais ainda causa-nos estranheza, o fato de essa atitude muito assemelhar-se com a daqueles a quem esse notável político muito combateu em passado recente: a Oligarquia Militar. Explico; entre os militares, a rainha das manobras é a emboscada, quando, por meio de mentiras e falsidades se induz o inimigo a crer em coisas que não existem, subestimando ou superestimando as forças que vai enfrentar, causando-lhe a derrota. Os grandes generais foram os melhores mentirosos. Essa intuição já era clara em Ésquilo, dramaturgo grego, que escreveu: “em tempos de guerra, a primeira vítima é a verdade”.
         Isso é considerado normal pelas nações, porque sempre se teve o inimigo como o estrangeiro, mas que fazer quando uma elite transforma o seu povo, na sua totalidade ou a determinados grupos, em inimigos, aos quais é lícito enganar, seja em nome da Doutrina da Segurança Nacional, embalado pelo conceito de “inimigo interno”, seja para garantir vitória na próxima eleição, embalado pelo conceito de “inimigo de classe”.
         ‘Tecnicamente’, nesse caso não há mentira, nem perjúrio, nem crime, nem desonra, mas apenas, mas apenas ‘desinformação’, ‘contrainformação’, ‘sagacidade’, e mais um catatau de eufemismos para justificar o que deveria ser injustificável, apresentados como uma forma de patriotismo, seja em nome da nação, de uma classe, e até de um grupo de supostos ‘iluminados’, apresentados como os mais capazes para dirigir os destinos do eterno rebanho de zé povinho, ainda que de dentro de complexos penitenciários. Os traficantes não fazem isso?
         Aonde fomos parar? Desse pecado, nenhum dos pretendentes, aparentemente, se isenta, e que ninguém seja louco de desafiar os donos do poder à primeira pedrada, pois ao contrário dos que havia no tempo de Jesus, os de hoje se especializaram em jogar pedras. E é cada pedregulho!

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