sábado, 11 de outubro de 2014

A HIDRA DA EDUCAÇÃO

Prof. Eduardo Simões

         “Nada se perde nada se cria, tudo se copia”, dizia o Chacrinha, numa síntese genial da televisão brasileira, embora válida para o resto dos fenômenos sociais de nosso país, inclusive a educação.
         No afã de copiar modas do exterior “civilizado”, cacoete imposto pela primeira vez na visita do príncipe João, no início do século XIX, no sistema educacional brasileiro do fim do século XX, ganhou relevo e massa crítica a idéia de transformar tudo em projeto, quando não fazê-los chover torrencialmente sobre sistemas saturados; “nós estamos lidando com dois ou três projetos ao mesmo tempo, quando chegam mais dois ou três projetos da Secretaria, com prioridade para ontem”, disse-me uma supervisora desalentada. Nesse contexto avaliar o impacto e a pertinência de cada projeto é impossível, correndo-se o risco de descartar projetos fundamentais, preservando inutilidades.
         Os projetos, que poderiam ser adendos positivos ao sistema, acabaram se tornando o próprio sistema-sem-sistema, após a perda gradual das referências e valores técnicos e morais, que moviam o sistema, extinguindo a sua coerência e integridade sistêmica. Cada projeto puxando para um lado, usa e abusa de interferência política e econômica, criaram uma hidra de “n” cabeças, cada uma querendo dirigi-la para uma direção diversa. O excesso de projetos e eventos de natureza diversa tumultua e dispersa a mente imatura de jovens e adolescentes, e dificulta a aprendizagem.

         O excesso de cabeças e orientações dentro do suposto sistema escolar brasileiro nos faz, cada vez mais acreditar que ele está acéfalo e tem cada vez menos sentido. Talvez esteja na hora de recriar o sistema de ensino do Brasil por meio de propostas amplas, coerentes e simples o bastante, para que se possa dizer que, afinal, temos um sistema de educação.

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