A HIDRA
DA EDUCAÇÃO
Prof.
Eduardo Simões
“Nada se perde nada se cria, tudo se
copia”, dizia o Chacrinha, numa síntese genial da televisão brasileira, embora
válida para o resto dos fenômenos sociais de nosso país, inclusive a educação.
No afã de copiar modas do exterior
“civilizado”, cacoete imposto pela primeira vez na visita do príncipe João, no
início do século XIX, no sistema educacional brasileiro do fim do século XX,
ganhou relevo e massa crítica a idéia de transformar tudo em projeto, quando
não fazê-los chover torrencialmente sobre sistemas saturados; “nós estamos
lidando com dois ou três projetos ao mesmo tempo, quando chegam mais dois ou
três projetos da Secretaria, com prioridade para ontem”, disse-me uma
supervisora desalentada. Nesse contexto avaliar o impacto e a pertinência de
cada projeto é impossível, correndo-se o risco de descartar projetos
fundamentais, preservando inutilidades.
Os projetos, que poderiam ser adendos
positivos ao sistema, acabaram se tornando o próprio sistema-sem-sistema, após
a perda gradual das referências e valores técnicos e morais, que moviam o sistema,
extinguindo a sua coerência e integridade sistêmica. Cada projeto puxando para
um lado, usa e abusa de interferência política e econômica, criaram uma hidra
de “n” cabeças, cada uma querendo dirigi-la para uma direção diversa. O excesso
de projetos e eventos de natureza diversa tumultua e dispersa a mente imatura
de jovens e adolescentes, e dificulta a aprendizagem.
O excesso de cabeças e orientações
dentro do suposto sistema escolar brasileiro nos faz, cada vez mais acreditar
que ele está acéfalo e tem cada vez menos sentido. Talvez esteja na hora de
recriar o sistema de ensino do Brasil por meio de propostas amplas, coerentes e
simples o bastante, para que se possa dizer que, afinal, temos um sistema de
educação.
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