sábado, 11 de outubro de 2014

INSENSATEZ DEVOTA

Prof. Eduardo Simões

         Não tenho a menor intenção de acompanhar, pela TV, o vale tudo em que se tornou a atual campanha à presidência, mas pelo que eu pude ler, reproduzido em diversos sites de notícias, a desconstrução da última candidata pela atual presidenta, chega às raias da baixaria e da mentira mais vil. Mas, para a surpresa dos que ainda têm alguma esperança que algo vá dar certo, essa estratégia reforçou os índices da autora delas junto ao eleitorado, em algumas pesquisas. Está aberta a senda para as futuras campanhas presidenciais no país: baixaria, muita baixaria.
         Lembro-me de uma novela estrelada por Cristiane Torloni e Lilia Cabral, em que o autor da trama, contraposto à informação de quanto mais “barracos” havia, entre os principais personagens, a audiência aumentava, afirmou que o público podia ficar tranquilo, que mais e maiores “barracos” estavam por vir. Enfim um povo cujo espírito se alimenta de escândalos.
         Agora sabemos qual é a origem e a manutenção desse gosto tão questionável entre a nossa população, e não nos admiramos mais disso, mas não deixamos de nos preocupar ao pensar de para onde isso pode nos levar. Já imaginaram campanhas eleitorais movidas apenas por acusações difusas, meias verdades, mentiras deslavadas, sem falar das eternas falsas promessas? Não precisa imaginar, basta ligar a TV.
         Há uma esperança, porém, para a candidata-alvo: o grupo atacante pode errar “na dose” e gerar o efeito contrário – o gosto pelo sadismo pode revelar uma identificação com a vítima, um certo masoquismo, presente no culto histórico dos mártires e dos coitadinhos pela nossa sociedade, como uma espécie de mecanismo de compensação, tanto mais inconsciente quanto mais graves e relevantes são as decisões a serem tomadas.

         Está ficando evidente que a vitória em uma eleição no Brasil depende da perfeição com que o candidato manipula dados pessoais à sua disposição, e a maestria com que ele ora agride ora pacifica com seus rivais, num jogo psicológico doentio e sem regras, orientado por supostos gurus da comunicação, os marqueteiros, sem qualquer outro compromisso que o de vender caro os seus conselhos. O que menos importa é a proposta política, o programa de governo, as soluções para os graves problemas que nos afligem, afinal tem gente demais sedenta pelo próximo escândalo, para se dar valor a essas ninharias. Alguém vai se manifestar?

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